quinta-feira, 26 de abril de 2018

Fessô, explica aquela parada entre Israel e Palestina?

O ataque dos EUA à Síria trouxe a superfície de um dia qualquer, em sala de aula, as seguintes perguntas dos alunos:
(Aluno) Aquele ataque dos (estadosunido) a Síria (tá) ficando igual aquela parada entre Israel e Palestina, nunca vai (tê) fim né, fessô?
(Professor) - Pessoal, antes de pensar no fim do conflito entre Israel e Palestina, primeiro é necessário entender o início. 

Em seguida, disparou uma aluna do fundo da sala: Prof, explica esse bagulho de ódio entre judeu e árabe “pra” gente?
(Professor) - A primeira mudança a ser feita, é abandonar a ideia de "ódio eterno" entre judeus e árabes. Pois, num determinado momento da Idade Média (século V - XV) ambos os lados viveram de forma amistosa quanto sociedade - Na Espanha islamizada, comunidades judias eram protegidas pelos islâmicos contra a perseguição religiosa realizada pelos cristãos.
(Aluno) Caraca fessô, então judeu e árabe já foi “fechamento”?
(Professor) - Sim, existia uma boa convivência entre os dois povos em determinados lugares da Europa e da Ásia Ocidental (Oriente Médio)

(Professor) O fácil acesso aos aparelhos eletroeletrônicos, a internet e aos veículos de comunicação do século XX, nos faz observar de forma superficial e fragmentada que, os conflitos existentes entre palestinos e israelitas são de dois povos que sempre foram inimigos.
(Aluno) Fessô, não entendi nada, essas “parada” de internet, veículo de comunicação?
(Professor) - Retomando a explicação: a atual região que vive em conflito (Israel/Palestina) fazia parte do Império Turco Otomano. Observem o mapa da página 233.

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(Professor) O Reino Unido visando conseguir apoio do povo local, em 1917, na Primeira Guerra Mundial, criou a "Declaração de Balfour" que consistia em, construir países independentes para árabes e judeus na região, assim que os turcos fossem derrotados. 
(Professor) Logo, com o fim da guerra, ocorreu a fragmentação do Império Turco, isto promoveu o aumento da imigração judaica para a região, a mesma em que o povo árabe viveu até o fim da guerra, sob o domínio dos turcos.
(Aluna) Prof, os “judeu” foi aonde “pra quere voltá”?
(Professor) - Por sofrer com a dominação do Império Romano na região, o povo judeu realizou o êxodo. Ou seja, uma saída para diversas partes do mundo.
(Aluna) Ihhh, os “judeu” meteram o pé, fessô?
(Professor) - Sim, realizaram uma fuga, principalmente para a Europa!
(Aluno) Mano, os “árabe” é brabo, tá! Ficaram até o final fazendo na mão contra os “alemão” (inimigo)! 
(Professor) Outros eventos contribuíram para o deslocamento do povo judeu em direção a Palestina, como o Holocausto, o fim da Segunda Guerra mundial e a crença na "Declaração de Balfour".
(Professor) Observem o mapa do início da ocupação judia de 1920 até 1947, na página 234.

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(Aluna) Prof, essa parada aí não deixou os “árabe bolado”?
(Professor) - Sim, vou explicar.

(Professor) Esse movimento migratório foi observado como uma invasão pelos árabes por nunca deixarem a região. Com isso, surgem as primeira revoltas de palestinos e judeus, nos anos de 1930-40, contra a indefinição na criação dos Estados Independentes para os dois povos.
(Aluno) A Inglaterra falou que “ia resolve a parada” e não resolveu, fessô?
(Professor) - Isso aí! Mas foi porque o Reino Unido que possuía a tutela sobre a região, estava mais  preocupado em se reconstruir após a Segunda Guerra Mundial e manter o seu Império Colonial na Ásia e na África, do que resolver a questão territorial entre palestinos e judeus.
(Aluna) “Ihhh, mó tratante, prof”! 
(Professor) Foi mesmo, principalmente para os palestinos que lutaram ao lado dos ingleses e derrotaram o Império Otomano na Primeira Guerra Mundial.
(Aluna) Caraca mano, Inglaterra “mó” falsa aí!
(Professor) Continuemos aqui! Logo, a Inglaterra transferiu o assunto da criação dos dois países para a ONU que, simpatizada com a causa judaica em relação ao Holocausto, criou o Estado de Israel, em 14 de maio de 1948, na região ocupada a quase dois mil anos pelos palestinos.
(Aluno) Ihh mano, essa parada não deu merda?
(Professor) - Sim, observem o mapa da página 236, por favor.

(a cor laranja no mapa se tornou o Estado de Israel)
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(Professor) A criação do Estado de Israel respeitou os primeiros locais ocupados pelos colonos judeus a partir de 1920, e os árabes ficaram com a parte amarela do mapa, e as outras áreas como está exposto no mapa acima, na cor laranja, ficou sob o domínio judeu, e a cidade de Jerusalém seria uma zona internacional.
(Aluno) “Ahhhh coé fessô”, que parada é essa de zona?
Todos os alunos gargalharam com a piada do aluno.
(Professor) - Vou parar de explicar!
(Aluno) Foi mal fessô, continua a parada aí!
(Aluna) Poxa fessô, os “árabe” perderam vários territórios, né?
(Professor) - Exatamente. O mais interessante nesse mapa, é que, o novo território judeu ficou com saída para dois mares, uma para o Mar Vermelho que possui uma saída para o Oceano Índico, e o outro para o Mar Mediterrâneo, o que é possível navegar em direção ao Oceano Atlântico. Isto em termos geopolíticos foi ótimo para a economia de Israel, diferentemente da Palestina.
(Aluno) Fessô, os (árabe) se f......... nessa parada aí!
(Professor) - Olha a boca pessoal!
(Professor) Vamos observar o mapa através dos números de território/habitantes. Os palestinos, com uma população de 1.4 milhões de habitantes ficou com 48% do território. Já os judeus, com 600 mil habitantes ficaram com 54%.
(Aluno) Aí fessô, os (árabe) só se f......!
(Professor) Olha o xingamento.

(Professor) Essa divisão territorial provocou a rejeição dos povos árabes vizinhos em relação aos judeus que, entenderam a criação do Estado de Israel como, mais uma intervenção dos países ocidentais através da ONU(Organizações das Nações Unidas) na região que, historicamente já havia sido dominada pelo Império Otomano e pela Inglaterra.
(Aluno) Essa ONU aí é mandada heim fessô!

(Professor) Atenção pessoal! O povo palestino foi o que mais rejeitou, já que, os judeus não habitavam a região por quase dois mil anos. E ainda, os massacres e as perseguições religiosas contra o povo judeu foram eventos realizados na Europa - a Alemanha de Hitler não foi o único país europeu a perseguir judeus nos anos de 1930-40 - e não na Ásia Ocidental(Oriente Médio).
(Aluna) Prof, então a Inglaterra, França, Itália, geral na Europa era "bolado" com os (judeu)?
(Professor) - Exatamente, quem cometeu o Holocausto foi a Alemanha nazista, mas vários países europeus contribuíram de forma indireta para o extermínio de quase seis milhões de judeus.
(Aluno) Que isso, mano? Morreu muita gente!

(Professor) Retornando: o direito dos judeus em ocupar o território dividido pela ONU, devido a sua ancestralidade estava garantido. Logo, não é correto entender que o povo palestino foi o único prejudicado com a criação do Estado de Israel, já que, ambos os povos sofreram com invasões, dominações e perseguições realizadas por Impérios e Reinos distintos.
(Professor) Com isso, a História prova que, tanto os palestinos quanto os judeus possuem o mesmo direito de habitar a região, mas por interesses econômicos e geográficos, ambos foram prejudicados mais uma vez com essa divisão realizada pela ONU.
(Aluno) Fessô, essa ONU aí é (mó) filha da p......!
(Professor) Pessoal, olha o xingamento!

(Professor) Voltando aqui: isto provocou o primeiro conflito Árabe-israelense 1948-49, em que Israel saiu vitoriosa da guerra. Essa vitória levou a anexação de territórios palestinos fazendo o Estado israelita se expandir. Pelo lado árabe, a guerra ficou conhecida como al-Nakba (A Catástrofe), já os judeus chamaram o conflito de "Guerra de Independência".
(Aluno) Aí fessô, de novo os (árabe) sendo prejudicado!
(Professor) - Sim, mas foram prejudicados por conta dos países árabes(Egito, Síria, Iraque, Jordânia, Líbano e Arábia Saudita) que declararam guerra de forma desorganizada à Israel .
(Professor) O domínio judeu nesses novos territórios promoveu o êxodo palestino para a região do Líbano e Jordânia, e para aqueles palestinos que permaneceram nos territórios dominados por Israel até os dias atuais, possuem os seus direitos civis restritos e são classificados como "árabes-israelenses".
(Aluno) Ohhh fessô, como assim, direitos civis restritos?
(Professor) - Os palestinos tem o direito de viver nos locais dominados pelos judeus, mas não podem ocupar cargos na polícia, no exército israelita e outros empregos públicos em Israel!
(Aluno) Isso aí é vacilação!
(Professor) - Sim, o nome é xenofobia!
(Aluna) Que parada é essa, prof?
(Professor) - É a mesma coisa que desconfiança, medo e antipatia aquele que possui uma cultura diferente do país que o mesmo está vivendo.
(Aluna) Tô ligada!

(Professor) Retomando aqui: Com o fim desse conflito de 1948, havia dois territórios livres para os palestinos ocuparem após a guerra, a Faixa de Gaza(administrada pelo Egito) e a Cisjordânia(administrada pela Jordânia), observem o mapa na página 236.
Mapa da região da Palestina após a Primeira Guerra Árabe-israelense

(Professor) Em 1948, a parte laranja era território de Israel, a parte em verde claro após a guerra, ficou sob o domínio judeu. Ao analisarmos o início da colonização judia a partir do primeiro mapa da região Palestina desde 1920, é possível concluir que, desde a formação do Estado de Israel, os judeus seguiram ocupando várias partes do território, e deixaram apenas a parte cinza(Gaza) e a verde escura(Cisjordânia) para os palestinos. A cidade de Jerusalém que era um local de administração internacional, também foi dominada por Israel.
(Aluno) Poxa fessô, então vai rolar mais guerra?
(Aluno) Lógico mano, os (árabe) não vão aceitar essa covardia!

(Professor) Essa expansão territorial realizada por Israel deixou os palestinos privados de boa parte do seu antigo território.
(Professor) Essa privação, fez surgir na década de 1950, os primeiros grupos armados de resistência palestina: o Fatah (grupo que dominou o cenário político palestino até os anos 2000. Nacionalista e laico).
(Aluna) Laico? Como assim, prof?
(Professor) - a palavra "laico" significa que o grupo Fatah não permitia interferência religiosa do Islã em assuntos políticos.
(Aluna) Ahhh, (tô) ligada!

(Professor) Retomando: e o outro grupo era o Hizb al -Tahrir, que tinha como objetivo implantar um califado. Ou seja um grande Império Muçulmano Unificado, ligado a religião islâmica de forma fanática!
(Aluna) Tendi não, fessô?
(Professor) Por exemplo: podemos compará-lo ao que hoje chamamos de Estado Islâmico. Ou seja, um grupo armado que justifica suas ações terroristas através do "mau" uso da religião islâmica.
(Aluno) Fessô, o que significa esse bagulho aí de Hizb al...  ahhh não sei (falá) essa parada, não?
Todos os alunos gargalharam, por conta da dificuldade do aluno em pronunciar o nome do grupo armado palestino de forma correta!

(Professor) Por favor, atenção gente! Então, Hizb al - Tahrir, significa "Partido de Libertação"!
(Aluno) Já é, fessô!
(Professor) Assim, com o surgimento desses dois grupos armados, nós(mundo ocidental) passamos a conhecer "A Questão Palestina"!
(Professor) Ou melhor, no dialeto de vocês, "Aquela parada entre Israel e Palestina" que não tem fim!
(Aluno) Agora a bala vai comer, né fessô?
(Professor) - Vai, mas não hoje.
(Aluna) Poxa prof, agora que a aula (tá) ficando braba?
(Professor) - Eu sei! Mas semana que vem a gente continua!
(A turma) - AHHHHHHH fessô, (vacilô)!

(Professor) Não deixem de fazer os exercícios da página 238. Até semana que vem!
(A turma) - Já é fessô! Tamo junto!


Fonte:

SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo.

SAID, Edward W.  Orientalismo.

SAID, Edward W.  A Questão Palestina.

BRENNER, Michael. Breve História dos Judeus.

Filmografia:

O Físico - 2013.

2 comentários:

  1. Respostas
    1. Além de arrancar risos, o objetivo é transformar um assunto complexo em algo simples, para assim facilitar o entendimento do leitor que na maioria dos casos, não tem ideia aonde fica Israel, Palestina, como também não imagina como toda essa questão foi criada!

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