sábado, 16 de outubro de 2021

Um dia, após o “dia do Professor”!

(Aluno) - Professor, por que o senhor é assim?(Professor) - Assim como? 

(Aluno) - Ahh desse jeito, coloca vídeo no YouTube, resumo no Instagram, nas aulas presenciais está sempre falando de vestibular e concursos, está sempre motivando geral a assistir filmes, ler livros, ir aos museus e à exposição… 

(Professor) - Filho, se hoje sou professor de História, sou Historiador, sou de Ciências Humanas, sou de Esquerda, disponibilizo conteúdos gratuitamente nas redes sociais… foi porque meu pai e minha mãe faziam questão de, independente da minha idade, relatar momentos políticos, econômicos e sociais que eles enfrentaram na longa trajetória de suas vidas, e que, eu e meus irmãos iríamos enfrentar, caso o Brasil continuasse sobre o julgo desses governantes interessados com os próprios interesses e com os projetos financeiros de banqueiros, empresários e latifundiários! 

(Professor) - Assim, meu pai e minha mãe faziam questão de me ensinar que o mesmo domingo de sol, de praia, também poderia ser um ótimo domingo de museu, de centro cultural, de teatro, de exposição, de cinema, e ainda, me mostrava que os filhos da elite não estavam nas praias no fim de semana, e sim nesses espaços culturais! 

(Professor) - Por conseguinte, cresci observando que o público desses espaços, as crianças e os adolescentes que frequentavam esses lugares, não pareciam e nem se vestiam como eu e os meus colegas de bairro! 

(Aluno) - Então, o senhor está dizendo que, enquanto a gente vai pra (à) praia, praça, brinca, etc, num dia de sol, os filhos dos ricos visitam essas paradas aí? 

(Professor) - Exatamente! É possível fazer tudo isso que você enumerou, mas faz-se necessário visitar lugares que nos deixam ensinamentos políticos, econômicos e sociais. Ou seja, é necessário também criar o hábito de ter dias com atividades culturais! 


(Aluno) - Poxa professor, mas aí como a gente vai nesses lugares, se tá (está) tudo caro? 

(Professor) - Mas existem espaços culturais que apresentam peças de teatro, exposições de arte, etc, de forma gratuita! 


(Aluno) - Sério, professor? 

(Professor) - Sim, eu poderia citar vários nomes! 

(Professor) - Mas o meu objetivo aqui não é falar os nomes desses espaços culturais e sim motivá-los a enxergar que, o mundo é algo maior que essa realidade que, vocês estão inseridos! 


(Aluno) - Ahh professor, viajei aí nesse bagulho de mundo maior, de realidade… 

(Professor) - Eu fui exercitado a olhar o local em que vivia, e me incomodar com esse sistema excludente, elitista, competitivo, que me obrigava a viver apenas no meu bairro e nos espaços carentes culturalmente disponíveis pelos governantes! 

(Aluno) - Professor, a parada então, é ter vontade de visitar esses lugares aí, que o senhor falou? 

(Professor) - Exatamente, porque o sistema educacional, me obriga avaliar os(as) alunos(as) de forma quantitativa, por provas e notas, me obrigando ainda, a ignorar as suas qualidades individuais! Ou seja, o correto seria que, além das provas, eu pudesse avaliar vocês de forma qualitativa também! 

(Aluno) - viajei… 

(Professor) - Nem todos gostam das mesma disciplina, uns gostam de Matemática, outros de História, tem aqueles que sabem desenhar, e aqueles que gostam de dançar, atuar, tocar instrumentos, etc! 

(Professor) - Aonde eu quero chegar com isso? Deveria existir outras formas de avaliação além da prova, o(a) aluno(a) com aptidão artística poderia fazer uma música, uma dança, uma rima, um ato cênico, ligado a disciplina de Matemática ou de História, e assim trabalharíamos o lado criativo do(a) aluno(a)! 

(Aluno) - Poo🤬🤬 aí seria top, professor!  

(Professor) - Logo, esses lugares culturais serviriam de combustíveis para alimentar o lado lúdico que cada aluno tem e por não conhecer esses espaços acabam deixando de exercitar essas habilidades por falta de incentivo ou até pré-conceito de outras pessoas em relação as suas habilidades! 

(Aluno) - Assim a gente poderia se inspirar em vários bagulhos de arte né, professor? 

(Professor) - Claro, mas até a avaliação de vocês não ajudam! 

(Aluno) - Como assim, prof? 


(Professor) - As provas, as notas que vocês conseguem em cada disciplina está longe de ser uma avaliação justa, pois além de ignorar suas qualidades individuais, ainda ignoram as suas particularidades econômicas e sociais! 

(Professor) - Ou seja, sou professor há 15 anos, mas confesso que a sala de aula lotada, a exploração em que o professor(a) é submetido(a), salário baseado em hora/aula, a obrigatoriedade do uso do livro didático, em que, na maioria dos casos, os pais são obrigados a fazerem cópias para que vocês, alunos(as) tenham acesso ao conteúdo, e conteúdo este, criado por grupos financistas que transformaram a Educação num grande negócio $, e ignoram cada vez mais os projetos realmente ligados à Educação, tem me enojado! 


(Aluno) - Que isso, professor? 

(Professor) - O Sistema Educacional que, vocês estão inseridos, e que, eu como professor, sou obrigado a seguir, só serve para manter vocês desinformados, e sempre distantes daqueles espaços culturais citados anteriormente! 

(Aluno) - Como assim, professor? Ué, mas não tem aquele bagulho de que, “quem não vai pra escola vai puxar carroça”? 

(Professor) - Estudar é a melhor e a única opção para vocês, mas o que essa Educação tem mostrado nesses últimos 5 anos, é que, estou certo sobre a tese de um sistema educacional excludente capaz de produzir cada vez mais filas quilométricas de idosos nos hospitais públicos em busca da sobrevivência, moradores em situação de rua, vendedores e pedintes ambulantes, subempregos, adolescentes e jovens criminosos!

(Aluno) - Poxa professor, então a gente tá aqui a toa? 

(Professor) - Não e repito, que estar na escola é a melhor opção para vocês, mas com esse Sistema  Educacional, vocês estão sendo jogados no mercado de trabalho como jovens aprendizes com baixa remuneração e quando não conseguem entrar numa empresa, são obrigados a encarar uma jornada de trabalho para essas startups que, fisicamente o corpo de vocês não suportam! 


(Aluno) - Startup professor, que bagulho é esse? 

(Professor) - Sim, são aqueles trabalhos que aqueles jovens executam dia e noite, no sol e na chuva, entregando lanches/comidas com bicicletas! 

(Aluno) - Ahhh tô (estou) ligado! 


(Professor) - A maioria dos alunos(as) abandonam as escolas, por conta da falsa ilusão de que, quanto mais entrega fizer, mais dinheiro ele/ela vai ganhar! 

(Professor) - Na verdade, eles/elas estão apenas gerando riqueza para os donos dessas startups, e em troca não possuem nenhum vínculo empregatício! 

(Aluno) - Professor, viajei de novo, nesse bagulho aí de empregatício! 

(Professor) - Esse bagulho funciona assim, se um aluno(a)/entregador(a) sofre um acidente de bike, é atropelado na hora que for entregar o lanche, vocês acham que o dono do “Ifood” vai consertar a bike, bancar os remédios ou o tratamento dos(as) entregadores(as)?  

(Aluno) - Ué, não rola nenhuma ajuda, Professor? 

(Professor) - Não! Porque os(as) alunos(as)/entregadores(as) não possuem carteira de trabalho assinada! Ou seja, não possuem vínculo empregatício, não possuem direitos trabalhistas! 


(Professor) - Continuando no conceito de “mais valia” que expliquei semana passada… vocês já olharam nas ruas, dos bairros em que vocês residem, o aumento de pessoas vendendo coisas nas ruas, na porta de casa, pedindo dinheiro no sinal, nos bares, revirando lixo em busca de algo que possa ser vendido, ou que possa ser reaproveitado como alimento?

(Aluno) - Já professor, geral vendendo bolo de pote, sacolé, frango assado, doces, um monte de bagulho, sem contar aquela galera que está revirando lixo em busca de latinha de cerveja e garrafa de refrigerante, e restos de comida! 

(Professor) - Exatamente! 


(Professor) - Por conseguinte, cito a fotografia cedida pelo meu amigo/irmão Rafael Oliveira para que possamos refletir a seguinte mensagem: “Muito tiro, pouca aula. Pouca aula + bandido”! 




(Aluno) - Professor, aí diz que, quanto mais a bala come, menos a gente estuda, e aí mais tem bandido na pista? 

(Professor) - Exatamente! Mas vou além, enquanto votarmos em políticos preocupados em garantir apenas os lucros dos banqueiros, dos empresários e dos latifundiários, mais excluídos vocês estarão, e consequentemente mais vulneráveis a sofrer com a violência da polícia ou, como em muitos casos, muitos acabam apropriando-se da violência para conseguir seus sustentos, como consequência, ficaram amontoados nos presídios ou foram transformados num daqueles CPFs citados em programas que utilizam notícias sensacionalistas para garantir míseros pontos de audiência! 

(Aluno) - Tipo aquele “Cidade Alerta”, né professor? 

(Professor) - Sim! Com isso, cito as imagens do Cartunista das Cavernas para ilustrar que nós, não podemos votar em políticos que estão destruindo a Política, a Economia, a Saúde e a Educação do país, pois eles nos colocam num círculo vicioso! 


(Aluno) - Bagulho doido, né professor? 

(Professor) - Sim, e enquanto nós somos submetidos a esse sistema que nos obriga a aceitar a exploração  do patrão, ou somos obrigados a promover a violência em busca da sobrevivência, os políticos que protegem os lucros dos ricos e que, chegam ao poder através dos nossos votos, permanecem impunes em relação aos seus crimes e estarão sempre acima da lei! 




(Aluno) - Aí é f@🤬🤬! 

(Aluno) - E como a gente muda esse bagulho aí, professor? 

(Professor) - Escolhendo políticos que participam dos debates, que falem sobre projetos educacionais, econômicos e sociais voltados para os anseios do povo, votando de forma séria e não como torcedores de times de futebol, tendo consciência de classe, reconhecendo o meio em que vivem e o quanto é preciso melhorar a infraestrutura e a segurança dos nossos bairros, exigindo as mesmas melhorias e segurança existentes nos bairros nobres! 

(Aluno) - Aí é difícil, professor? 

(Professor) - Extremamente difícil, mas se desistirmos, nós seremos eternos reféns de um Sistema educacional, político, econômico e social excludente! 

(Professor) - Logo, estaremos sempre vivendo naquele círculo vicioso! Ou seja, uns aceitam ser explorados em troca de salários miseráveis e outros promovem a violência com a justificativa de estarem buscando a sobrevivência, e os políticos ligados aos grupos financistas, continuarão impunes e cada vez mais ricos! 


Fonte: 


FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. 


SCHWARCZ MORITZ, Lília. Sobre o Autoritarismo Brasileiro. 


História de um Zé - blogger 


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Imagens: 


Fotografia - Rafael Oliveira 


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Cartunista das Cavernas 


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