Analisar as manifestações antidemocráticas, ou o evento terrorista que ocorreu na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 08 de Janeiro de 2023 de forma isolada, é não se atentar para a “onda” de protestos e manifestações que depuseram ou promoveram desordens civis em diversas partes do mundo desde 2010.
Segundo as interpretações das grandes mídias europeias e estadunidense, as desordens promovidas em 2010 na península arábica e no Norte da África conhecida como “Primavera Árabe” foram necessárias para depor governos autoritários. Com isso, como um efeito dominó, as grandes mídias latino-americanas reproduziram a mesma interpretação. Isto, fez o mais simples telespectador acreditar naquelas notícias disseminadas como uma verdade absoluta, sem ao menos questionar qual era o objetivo real daquelas manifestações. Assim, o desemprego e desigualdade social que estava em destaque nas manifestações, temas que fazem parte do cotidiano europeu, estadunidense e latino-americano não recebeu a mesma atenção das mídias e das redes sociais, que os governantes da região Norte da África e dos países árabes receberam por estar há tempos no poder.
As manifestações da “Primavera Árabe” depuseram governos, mas não resolveu o desemprego e a desigualdade social existente nesses países. Porque os governos escolhidos com o apoio dos EUA e da Europa além de não apresentarem soluções para a crise econômica, fizeram surgir guerras civis e governos fantoches - atendem os interesses econômicos de multinacionais estadunidense e europeias. E ainda, promoveu um êxodo significativo de pessoas daqueles países para várias partes do mundo. Isto, além de despertar a xenofobia no continente europeu, a construção de vários campos de refugiados sem nenhuma infraestrutura, também promoveu a morte de milhares de pessoas que tentaram atravessar o mar.
Assim como a “Primavera Árabe” foi utilizada como um trampolim para as multinacionais norte-americanas e europeias mergulharem no mercado consumidor dos países envolvidos, as “Jornadas de Junho” de 2013 realizadas no Brasil, iniciada pelo preço da tarifa de ônibus, também foi utilizada para atender os interesses econômicos de uma minoria, pois o preço da tarifa subiu, a Copa do Mundo foi realizada em 2014 e a desigualdade social permaneceu. Porém, as “Jornadas de Junho” serviram para mostrar a classe burguesa brasileira/estrangeira a força que ela teria caso desejasse acabar com a continuidade de um governo que estava no poder há 14 anos, e dificultava a atuação de madeireiras, do garimpo ilegal, e possuía leis ambientais que visavam combater a extinção da fauna amazônica e mato-grossense e o genocídio indígena. Então, o descontentamento dos empresários, dos banqueiros e dos latifundiários em aumentar seus lucros foram omitidos e a mídia disseminou que as “Jornadas de Junho” possuíam apenas um cunho político-social. Com isso, eram noticiadas de forma massificada a corrupção política, direcionando a culpa de todas essas as ações corruptas para um único partido político - PT (Partido dos Trabalhadores), ensinando assim, aos menos favorecidos a ignorar os avanços na área social e educacional do Brasil.
Em 2016, de forma sensacionalista foi televisionado e transmitido por redes sociais o processo de impeachment da Presidenta Dilma, acusada por realizar pedaladas fiscais - institucionalizada no governo Temer. Mas por ser um assunto difícil de explicar para o telespectador comum, a grande mídia preferiu noticiar apenas o tema “corrupção”, já fomentado nas “Jornadas de Junho” anteriormente. Com isso, muitos entenderam que a política só existia um tema - corrupção, e só um partido político era responsável por toda atividade corrupta, o PT.
Essa forma irresponsável de divulgar notícias diariamente pela grande mídia promoveu um sentimento chamado de antipetismo na sociedade brasileira. E este, foi intencionalmente patrocinado pela classe burguesa brasileira/estrangeira, que visava voltar a ter vultuosos lucros, sem responsabilidades por crimes fiscais e ambientais como acontecia nos tempos da Ditadura Civil-Militar e no governo “neoliberal” de Fernando Henrique Cardoso. Mas a classe burguesa entendeu que, não adiantava só patrocinar manifestação antipetistas, era necessário encontrar um messias na política brasileira a fim de acatar as suas ordens e garantir os seus interesses. Logo, enxergaram no discurso autoritário do deputado federal Jair Messias Bolsonaro(na época) na Câmara dos Deputados a possibilidade de chegarem ao poder, e como a sociedade brasileira não possui consciência de classe, era só continuar disseminando o antipetismo para elegê-lo presidente do Brasil.
Assim, o discurso fundamentalista religioso, sexista, misógino, racista, genocida indígena e ambiental do deputado federal Jair Bolsonaro e políticos afins despertou o interesse dos programas de TV para concederem entrevistas sensacionalistas. Ou seja, a mídia não estava preocupada com os danos sociais e políticos, caso despertasse o sentimento fascista adormecido nos tempos do Estado Novo(Ditadura Vargas) e da Ditadura Civil-Militar presentes na sociedade brasileira, e sim com os míseros pontos de audiência.
As eleições presidenciais de 2017 dos EUA, que elegeram Donald Trump, fortaleceu não só a ideologia política disseminada por Jair Bolsonaro, mas todos aqueles com pensamentos e comportamentos semelhantes ao fascismo. Entretanto, o fracasso na reeleição de Trump, a falácia de fraude nas urnas, o atentado terrorista no Capitólio norte-americano, em janeiro de 2021 contestando a vitória de Joe Biden, foram utilizados pelo Jair Bolsonaro e seus apoiadores como munição para os seus projetos antidemocráticos e fanáticos apresentados na campanha presidencial. Já que, o mesmo fazia questão de incitar o ódio e o antipetismo, em seus discursos: “vamos fuzilar a petralhada”.
Por conseguinte, a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, e de todos aqueles políticos que incitavam o ódio e transformaram a política brasileira num lugar de fanáticos e terroristas serve para mostrar o quanto a classe burguesa brasileira/estrangeira e a mídia brasileira trabalhou para chegar ao poder e conquistar audiência e verbas públicas respectivamente, porque ao longo do processo eleitoral ambas fizeram questão de omitir as características fascista presentes nesses grupos terroristas disfarçados de políticos.
E estes, se aproveitaram do analfabetismo político de muitos líderes religiosos e do fundamentalismo religioso de seus fiéis para propagar o ódio e o preconceito contra aqueles que professavam religiões diferentes. Aproveitaram-se da falta de consciência de classe de boa parte da população para apoiarem e elegerem políticos que votaram a favor da Reforma Trabalhista - uberização da mão de oba; e da Reforma Educacional, em que esses mesmo políticos votaram a favor do congelamento nos investimentos da Educação e da Saúde por 20 anos. E mais, todos esses se juntaram para demonizar e nomear como inimigos do Brasil todos aqueles que defendem a igualdade e justiça social.
Logo, essa trama não é algo isolado, Bolsonaro e seu apoiadores não possuem intelecto para articular esse plano, são apenas fanáticos frustrados que admiram o autoritarismo. O que se tem é uma onda da extrema-direita apoiada pela classe burguesa, que está desde 2010 se elegendo de forma democrática em alguns países e golpeando a democracia de outros para chegar ao poder, para assim destruir e lucrar em paz.
Bibliografia:
A era dos Impérios.
O lugar da África.
Ecos do Atlântico Sul.
História concisa do Brasil.
As veias abertas da América Latina.
América Latina: uma História de sangue e fogo.
Volume 17 - Estudos afro-asiáticos.
Revolução Iraniana.
Revolução Chilena.
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