quarta-feira, 4 de maio de 2016

Escravidão + Cana de açúcar = Brasil

Sobre fato da Presidente ter escolhido a bi-campeã olímpica Fabiana para levantar a tocha Olímpica, mesmo estando num momento político conturbado, foi de extrema felicidade, vale ressaltar que estamos no mês em que foi assinado a Lei Áurea! Mesmo entendendo as suas falhas, como todas as Leis possuem, tomei a liberdade de escrever sobre a importância do Negro no Brasil e a sua importante participação numa das primeiras atividades comerciais nessas terras!

O Brasil, nasce em 1531, através do cruzamento entre negros trazidos da África e do extremo interesse de Portugal em  instalar a lucrativa produção de cana de açúcar nessas terras achadas, em 1500. Logo, sobre o açúcar, observa com muita propriedade o historiador madeirense Alberto Vieira: "A cana de açúcar é de todas as plantas domesticadas pelo Homem a que mais implicações teve na História da Humanidade. [...] A chegada ao Atlântico, no século XV provocou o maior fenômeno migratório que foi a escravatura de milhões de africanos e teve repercussões e interferências evidentes na cultura literária, musical e  religiosa!

A escravidão existe desde os tempos bíblicos, descritos no livro do Gênesis, os vencidos eram transformados em escravos, em troca de suas vidas. Assim, essa atividade era vista como um gesto “humanitário”, chegando a fazer parte de todos os grandes códigos da Antiguidade, como o de Hamurabi, com especial enfoque no Direito Romano e nas Ordenações do Reino, que serviram de norma escrita ao mundo português até o século XIX.

No mundo português ela surge a partir de 1441, depois que Antão Gonçalves e Nunes Tristão capturaram os azenegues(etnias africanas) do Rio do Ouro, a serviço do Infante D. Henrique de Portugal. A partir de então, as expedições portuguesas e espanholas transformaram-se em verdadeiras empresas, com objetivo de incrementar o comércio escravo, fixando na Costa da África várias feitorias(locais aonde comerciantes europeus e chefes tribais africanos realizavam o comércio entre produtos manufaturados por seres humanos) especialmente na região do Cabo Branco, estabelecendo-se posteriormente na ilha de Arguim (1448) e no Senegal (1460), com a finalidade de adquirir prisioneiros de tribos africanas, para transformá-los em escravos.
Segundo Vitorino Magalhães Godinho,  citado por José Ramos Tinhorão, foram importados como escravos berberes(povo nômade do Norte da África que existe até os dias atuais) árabes e negros africanos, entre 1448 e 1505, de 136.000 a 151.000 indivíduos. Em que, seriam escravos destinados aos serviços domésticos. Porém, essa volumosa quantidade de braços  foi organizada e também utilizada no lucrativo negócio da cana de açúcar nas ilhas da Madeira(Local em que nasceu o craque português Cristiano Ronaldo, (CR7) Açores e Cabo Verde.

Na América, a escravidão foi introduzida pelos espanhóis com os descobrimentos, a partir de 1492, com Cristóvão Colombo. Já no Brasil, se comprova a existência de escravos a partir de 1531, na Capitania de São Vicente(Rio de Janeiro), e em Pernambuco, em carta escrita em 1539, dirigida ao rei D. João III, onde donatário Duarte Coelho Pereira solicita autorização para a importação direta da costa da Guiné de 24 negros, a cada ano, quantidade que seria aumentada por D. Catarina, em 1559, para 120 negros, mediante o pagamento de uma taxa reduzida, por conseguinte, nada impedia que outros negros chegassem ao Brasil de forma ilegal, ou seja, traficados sem a autorização do Rei.

Os escravos eram todos vistos como mouros e por isso, eram “infiéis”, para os quais o Papa Eugênio IV autorizou o “direito” de cativar. Assim, a Igreja justificava através de seus teólogos, que sobre os africanos de todas as raças recaía o preceito bíblico que, descendendo de Cã estariam condenados à escravidão; como acentua o padre Manuel da Nóbrega: Nasceram com este destino “que lhes veio por maldição de seus avós, porque estes, cremos serem descendentes de Cã, filho de Noé, que descobriu as vergonhas de seu pai bêbado, e em maldição e por isso ficaram nus e têm outras mais misérias”. Em 1570, calculava-se que viviam no Brasil entre 2000 e 3000 negros trabalhando na lavoura da cana-de-açúcar. Com isso, o número de escravos cresceu absurdamente, em que, no final do século XVI, com a importação de 30.000 negros da Guiné para serem escravizados nas lavouras da Bahia e Pernambuco.

No apogeu da produção do açúcar, no século XVII, foram importados cerca de 500.000 negros, em sua maior parte antes de 1640. A escravidão do negro, na observação de Pedro Calmon, era só questão de começo: "Tudo era começar. Engenhos e tráfico. Canaviais e fabrico. Casas-grandes e escravidão. A partir dessa época [séc. XVI], muitos amadores se especializaram no negócio, as águas da Guiné e Angola se encheram de barcos tumbeiros(embarcações que transportavam os negros) e o Brasil gozou da quantidade de escravos que bem era conveniente. Ou seja, milhares ao ano. A escravidão dos negros africanos era algo tão importante para o padre Antônio Vieira que, em carta dirigida ao Marquês de Niza, datada de 12 de agosto de 1648, o mesmo chegara a afirmar: "Sem negros não há Pernambuco!" Parafraseando o padre: "Sem Negros não EXISTIRIA Brasil. Mas esse empreendimento não era algo exclusivo da Coroa Portuguesa e Espanhola nas Américas, e sim de toda Europa, que se entregara ao lucrativo comércio de escravos da Costa da África.

Logo, assim como devemos reconhecer a existência do Brasil aos negros trazidos da África, é preciso também continuar reparando as marcas pelos longos anos de escravidão após a independência, como também pelo abandono gerado pela Lei Áurea, que deixou os negros a margem dos direitos sociais, políticos e econômicos que refletem nos dias correntes, expostos pelo subemprego(analisar a quantidade de afrodescendentes que exercem). Por conseguinte, as religiões bíblicas que também por séculos de exploração e preconceito racial utilizou suas metáforas para escravizar boa parte do continente(África), e também disseminaram essas ideias nas Américas, devem reparar seus danos. Como toda grande nação européia com suas políticas imperialistas que, através da Partilha da África na segunda metade do século XIX, deixaram suas marcas bem explícitas nos países africanos até os dias atuais, também deveriam pagar suas dívidas!

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FAUSTO. Boris. História concisa do Brasil.

ALENCASTRO, Luís Felipe, Trato dos Viventes.

Filmografia: African Trade.


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