sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

A Democracia está em perigo???

No primeiro dia de aula geralmente o professor deseja boas vindas aos alunos, trocam ideias e informações sobre o período de recesso. Em seguida explica como será o ano letivo, expõe o conteúdo programático que será trabalhado em sala de aula e assim segue outras rotinas típicas do cotidiano na relação professor/aluno.

Um aluno argumentou por que o Deputado Jair Bolsonaro é um perigo para a Democracia do Brasil? A pergunta causou certa estranheza, já que era o primeiro dia de aula. Assim, visando não polemizar a questão citada, o professor respondeu da seguinte forma: se você observar o cotidiano de boa parte da juventude que atualmente se interessa por política, a grande maioria apropria-se  das informações das Redes Sociais para compor seus posicionamentos políticos para assim defender aquilo que acredita. Mas devido a falta de interesse pela leitura, essa parcela de jovens eleitores acreditam em tudo que é noticiado nesses veículos de comunicação como uma verdade absoluta. 

O aluno explanou: 

- Não entendi professor?

- O professor respondeu que, o principal erro de alguns jovens, que hoje querem ser politizados é demostrar sem nenhum constrangimento o desinteresse pela informação correta e pelo tempo histórico em que se pode encontrar a raiz de um tema. O assunto noticiado nas Redes Sociais nem sempre possui fontes confiáveis para ser exposto. Porém a falta de leitura faz com que os jovens ignorem a importância de estudar, pesquisar e analisar determinados assuntos  para que realmente sejam noticiados e compartilhados, como, o que está sendo debatido em sala de aula: o fim da democracia ou o perigo da democracia?

O aluno questionou novamente:

- Professor aonde o senhor quer chegar com esse blá blá blá?

O professor respondeu:

- Quando se diz desinteresse pela leitura, pelo passado, o aluno não tem obrigação de se sentir inclinado à disciplina de História,  respondeu o professor. Por exemplo: a grande maioria dos jovens não tem o mínimo interesse em saber como era a infância ou adolescência dos pais? Qual era a brincadeira mais divertida? A escola ou a disciplina em que os pais mais gostavam ou se destacavam? 

- Você já perguntou aos seus pais o que mais eles gostavam de fazer quando tinham dezesseis anos de idade?

A turma ficou em silêncio, olharam uns para os outros e a quietação predominou o ambiente, em seguida o professor proferiu:

- Continuemos, assim partindo do princípio em que, muitos jovens acreditam que o passado é blá blá blá, e outros ainda dizem que "a Ditadura Militar prendeu, assassinou e torturou apenas vagabundos", porque assim leu na Rede Social de X ou de Y. Isso reforça a ideia de que, essa juventude utiliza argumentos disseminados pelas Redes Sociais e acreditam nos mesmos como uma verdade absoluta, ignorando assim, um período de terror para o desenvolvimento social, político e econômico do Brasil. Desacreditando ainda que, a desigualdade social, o abandono das políticas públicas, o êxodo rural dos nordestinos em direção ao Sudeste e Sul do país, o crescimento urbano desordenado, o processo de favelização e o aumento da criminalidade, a construção de vários presídios no fim da década de 1980 e início dos anos 1990, o surgimento de uma grande população carcerária predominante negra e afrodescendente, não possui nenhuma relação com os 21 anos de um regime político autoritário e antidemocrático que assolou o Brasil e que a eleição de um determinado político acabará com as mazelas sociais em que estamos inseridos, como se este candidato fosse o novo messias. 

- O fato de desconstruir um Tempo Histórico, é reflexo do desinteresse de achar que os pais não possuem um passado interessante o suficiente para receber atenção, ou que a disciplina de História é blá blá blá e com isso, a falta de exercício de valorizar a própria história familiar ou anos de pesquisas históricas torna automaticamente qualquer fato do passado irrelevante. O exemplo mais eficaz para isso é ignorar o que os jovens da população italiana e alemã sofreram na Segunda Guerra Mundial, por seguirem e formarem grupos paramilitares(Camisas Negras/Itália e SS/Alemanha) que apoiavam respectivamente as doutrinas de Mussolini e Hitler, em que estes, montavam discursos voltados para esses grupos que apontavam "o diferente - judeu, negro, religioso, estrangeiro etc" como o culpado pelo fracasso econômico e militar alemão e isentavam os verdadeiros causadores do problema - a corrida imperialista por novos mercados consumidores e fornecedores na África, a disputa pelo lucro com a Inglaterra e a França no final do século XIX(19), a derrota na Primeira Guerra Mundial e a condenação no Tratado de Versalhes por ser considerada a única nação culpada pelo primeiro conflito - expondo que o desinteresse pelo fato histórico é um comportamento comum por parte da maioria da juventude desde séculos passados.

- Hoje em dia, os jovens, buscam cada vez menos o convívio com aqueles que são diferentes. Quando uma turma é liberada para o intervalo(recreio) a maioria dos alunos pegam seus "Smartphones" e adentro no seu mundo virtual. Os adolescentes das décadas de 1970,80 e 90, devido a inexistência ou na maioria das vezes, o difícil acesso aos aparelhos eletroeletrônicos - a realidade econômica da maioria das famílias brasileiras nas décadas supracitadas, recebiam salários que mal dava para sobreviver - tornava os dias nas escolas extremamente coletivo, já que, brincadeiras como: pique pega, queimado, pau na lata, pular elástico, futebol e outras, demandavam um número significativo de alunos para serem realizadas. Ou seja, as brincadeiras na escola iniciava a socialização entre pessoas e ambientes diferentes de suas casas e familiares! Logo, o comportamento de parte da juventude atual, elimina o contato com "o diferente". A consequência da idiossincrasia juvenil faz surgir adultos com dificuldade de desenvolver uma relação amistosa numa sociedade cada vez mais "diferente". Porque a falta de amor, respeito e admiração ao próximo são qualidades cada vez mais raras hoje, porém essenciais para o bem comum.

- A falta de segurança, a impunidade, as Leis obsoletas e a corrupção política servem de combustível para políticos oportunistas desenvolverem "discursos agressivos" prometendo o fim dessas mazelas e ainda ganham apoio de boa parte da sociedade acusando o diferente - o imigrante, o retirante, o caipira, o negro, o homossexual - como um erro para a sociedade atual, em que "o diferente" existe apenas para acabar com as oportunidades de emprego, com os princípios da "família tradicional" e exaltam ainda, a "meritocracia" como uma medida necessária para uma população mergulhada na desigualdade social. Tudo isto somado ao mau uso das Redes Sociais, a intolerância religiosa, o racismo e a homofobia servem para alimentar os preconceituosos que, disseminam ideologias de eugenia como o poema de Kipling "O fardo do homem branco". Ou seja, aqueles que se julgam normal realizam a "seleção natural" baseada numa sociedade colonial, regada de machismo e preconceito e visam eliminar "o diferente". Esse tipo de comportamento pode ser comparado com as ideologias do Nazismo que defendia o Arianismo(raça branca e pura), e o Espaço Vital Alemão(um continente só para os alemães), e não é loucura fazer um paralelo com a política da sociedade atual. Parte da população carioca que professa a religião protestante elegeu Marcelo Crivella para o cargo político de prefeito da cidade do Rio de Janeiro, e não apenas demonizou como também acusou e divulgou através das Redes Sociais "o falso" poder do candidato Marcelo Freixo caso fosse eleito, de alterar Leis federais por este apresentar propostas políticas que fugiam do senso comum, e que atendiam os anseios da minoria.



- Seguindo essa colação muitos jovens se apropriam das Redes Sociais e de discursos políticos nacionalistas, conservadores e defensores de torturas para saciar pensamentos violentos e assim expor seus preconceitos publicamente. De acordo com o cientista político Maurício Santoro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ), a vitória de um candidato presidenciável que trabalha com um discurso tão agressivo como o eleito presidente dos EUA, Donald Trump dá maior voz a esse tipo de pensamento preconceituoso.

      "Quando você tem um presidente eleito com esse discurso, você se sente legitimado a expor sua opinião sobre o assunto por mais preconceituosa que ela seja. Você se sente autorizado a propagar o mal". 

- Nos dias atuais não é mais preciso formar grupos paramilitares e uniformizados como os que existiram na década de 1920 e 30. Por exemplo, no Brasil existiu a Ação Integralista Brasileira (AIB) um movimento político fascista nacionalista e racista, brasileiro criado em 7 de outubro de 1932 para apoiar o (des)governo do Presidente do Getúlio Vargas.



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Logo, a grande maioria dos novos eleitores acreditam que através do voto, o seu candidato pouco atraente às minorias, com discursos considerados xenofóbicos, machistas e racistas ascenderão ao poder e eliminarão a obrigatoriedade do convívio com "os diferentes", e os protegerá de qualquer tipo de descumprimento das Leis caso seja contrariados.



Após alguns minutos de explanação sobre a importância do passado e do voto como ferramenta para exercer o respeito às minorias e evitar grandes erros no convívio social futuramente, um aluno levantou a mão e perguntou:

- Professor, será que o Bolsonaro vai ser eleito presidente em 2018?

O professor respondeu:

- A desvalorização que alguns partidos políticos, veículos de comunicação e segmentos religiosos estão disseminando aos seus seguidores sobre as Ciências Humanas, somado ao desinteresse de boa parte dos jovens em não aprender a importância de valorizar o passado dos próprios familiares, mais a falta de convívio devido as novas tecnologias que ocupam cada vez mais espaço na sociedade, e ainda com o mau uso das mídias e das Redes Sociais para disseminar o ódio, o preconceito racial, a intolerância religiosa em relação aquilo que foge do senso comum e provoca o desrespeito sobre aqueles que são acusados como "os diferentes". Não será surpresa, se um candidato político como o Deputado Jair Bolsonaro for eleito presidente do Brasil. Historicamente a sociedade brasileira sempre buscou o "salvador da pátria". Porque aprender política é trabalhoso, é um processo que requer dedicação e muita pesquisa. Logo, não é interessante, atraente e utópico como os romances e os finais felizes das telenovelas, séries e filmes hollywoodianos. Não é fácil identificar um personagem protagonista, um herói ou heroína na política como os reality shows expõe na visão maniqueísta(o bem x o mal). É difícil torcer para um candidato político nas eleições como  nas partidas de futebol em que, seus torcedores desejam a vitória dos seus respectivos times. 

- Ao analisar a conjuntura política do passado e comparar com a sociedade atual, em que o voto garante o direito de políticos com "discursos agressivos" se tornarem chefes de Estado, como ocorreu com Adolf Hitler na Alemanha em 1933, pelo voto. É possível citar a vitória de Donald Trump nas últimas eleições norte americanas para presidente como um ótimo exemplo de que políticos racistas, machistas e xenófobos ascendem ao poder através da democracia.

- A vitória de Trump recebeu o apoio de um grande número de internautas brasileiros que expuseram em suas Redes Sociais a satisfação com o resultado das eleições presidenciais estadunidense.  Foi possível observar várias postagens: "pelo menos os norte americanos sabem votar, não colocaram uma anta como a Dilma no poder", "Agora vamos eleger o Bolsonaro em 2018 e exterminar os vermelhos", "Os EUA com o Trump no poder vai mostrar ao mundo como lhe dar com os muçulmanos". Ou seja, independente da opção partidária, o desrespeito, o machismo e o racismo, são temas que permanecem fortes e contam com o apoio de boa parte da população para eleger esses tipos de políticos.

- As medidas políticas tomadas por Donald Trump em seus primeiros dias no cargo como presidente expõe exatamente o que foi discursado em sua campanha eleitoral. A cassação dos direitos civis e políticos de cidadãos americanos que professam a religião islâmica. O impedimento à circulação dos islâmicos e de seus familiares nos EUA, por Donald achar que todo muçulmano é "homem bomba". O desejo de construir um muro na fronteira dos EUA com o México. A imposição aos mexicanos em arcar com os gastos da construção do "muro". A nomeação de figuras políticas envolvidas em espionagens e sabotagens envolvendo a Rússia e o atual presidente russo Vladimir Putin com o resultado da última eleição presidencial norte americana. A intenção de nomear o executivo Steve Bannon, antissemita, como estrategista-chefe e conselheiro sênior para governo de Trump, que fez a extrema direita e a direita norte americana festejar a escolha. Essas atitudes servem para reforçar que políticos como Donald Trump após assumir o poder político se afastam cada vez mais da Democracia.



Uma aluna, após ouvir a palavra antissemita, perguntou:

- O que é antissemita professor?

O professor respondeu:

- O Steve Bannon é associado à supremacia branca(é uma forma de forma de racismo centrada na crença e na promoção desta crença, de que os brancos são superiores a pessoas de outras origens raciais e que, portanto, os brancos devem governar politicamente, economicamente e socialmente os não-brancos) e por este personagem cultuar o antissemitismo (aversão aos semitas, corrente ou política adversa aos judeus). e professar à misoginia (ódio ou aversão às mulheres) sua possível nomeação para estrategista-chefe do governo Trump alimentou o desejo de vários racistas, xenófobos e machistas norte americanos expor seus respectivos preconceitos. (imagem no fim do texto)

A aluna replicou:


- Nossa professor, então a democracia é perigosa, porque é através do voto que esses caras chegam no poder!

O professor argumentou: 

- Ignorar o Tempo Histórico, aprender política através das Redes Sociais de usuários descomprometidos com a verdade, se apropriar de "discursos agressivos" e se esconder atrás de candidatos políticos por não ter a coragem de expressar o preconceito e intolerância e depositar nas urnas o ódio para impor interesses políticos, econômicos e religiosos de senso comum sobre "os diferentes" está longe de representar o poder do povo. Ou seja, promover a ascensão de políticos que cultuam o desrespeito, o ódio e o extermínio de minorias através do voto, isto é perigoso. Porém Mariana(aluna), isto não é Democracia!




Fontes:


SALEM, Helena. As tribos do mal: o neonazismo no Brasil e no mundo

SAID, Edward. Orientalismo: a visão do Ocidente pelo Oriente

SCHWARCZ, Lilian Moritz. Espetáculo das raças


VINCENTINO, Cláudio. Mundo atual, o - da guerra fria a nova ordem internacional.

KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luis Estevam; MORAIS, Marcus Vinicius de; PURDY, Sean. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI(21).

BUENO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina.

TULCHIN, Joseph S. América Latina X Estados Unidos: uma relação turbulenta.

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil.

Sites: 

ultimosegundo.ig.com

www.ceert.org.br

Filmes:

Menino 23.

Estive em Lisboa e lembrei de você.

Eu não sou seu Negro.




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