domingo, 2 de julho de 2017

Os tentáculos da China!


No século I a. C. os romanos tiveram contato com uma "trama secreta" produzida no Oriente Longínquo(China) que simbolizava nobreza e riqueza e que era utilizada apenas pelos Patrícios(elite de governantes romanos). Já por volta do século VI a. C., em que o Império Persa estabeleceu a unidade territorial na região onde hoje encontra-se o Irã, o acesso ao "urdido desconhecido" ficou mais fácil, porém o seu uso continuava exclusivo dos abastados. Isto fez com que comerciantes de diversas regiões do Ocidente, levassem ouro, peles de animais, vinhos, animais de montaria, marfim africano, entre outros produtos, para em troca, adquirir especiarias e o mais desejado e nobre tecido chamado de "Seda".

O curso com aproximadamente mais de sete mil quilômetros que era utilizado há mais de dez mil anos trilhado por aventureiros, comerciantes, religiosos cristãos, monarcas e soldados que cortavam esse extenso conjunto de estrada a pé ou no lombo de animais, partindo da região da Síria do Mar Mediterrâneo até os territórios chineses serviu como uma rede de comunicação entre China e o Ocidente. Mas a parte da rota localizada na Pérsia começou a ser dominada pelos árabes e pela religião islâmica a partir do século VIII, dificultando assim a circulação de pessoas e mercadorias. Por conseguinte, no século XII, os soldados mongóis liderados por Gengis Khan dominaram a Ásia Central, o Norte da China e os territórios tibetanos. Com isso, o poder militar mongol promoveu a segurança da rota comercial que, através de um simples pagamento de taxas, os mercadores garantiam o direito de tráfego e de comercializar ervas aromatizadas, perfumes e a Seda.

A Seda serviu como ornamento, depois foi utilizada para adornar almofadas, mais tarde empregada na confecção de vestimentas por ser leve, sólida e confortável, mais do que o linho e a lã, conquistando mulheres e homens, e se tornou o principal produto do comércio entre a China e a Europa. Porém com o fechamento de parte do trajeto comercial, os europeus ao longo do tempo criaram novas formas de contato com o Oriente através das Grandes Navegações e outras rotas terrestres. O que fez o arqueólogo alemão Ferdinand Von Richthofen estabelecer o nome de uma das mais antigas e famosas rotas comerciais e religiosas de todos os tempos, de "Rota da Seda".


Resultado de imagem para rota da seda idade antiga


Analisando os parágrafos supracitados, é possível entender que a "Seda" despertou os interesses de mercadores, peregrinos, clérigos, monarcas e outros e colocou o Oriente, ou melhor, a China nas rotas comerciais da Europa, restando assim, apenas o papel de coadjuvante, com uma cultura exótica aos olhos preconceituosos europeus, e de fornecedor de especiarias na História Ocidental. Mas segundo o historiador inglês, Jerry Brotton, a sua obra "O Bazar do Renascimento: da rota da seda a Michelangelo" expõe um protagonismo de igual para igual entre Oriente e Ocidente.  O intenso intercâmbio não foi apenas de mercadorias, mas também de ideias e técnicas. A estreita ligação existentes entre avanços tecnológicos e comerciais - como a imprensa, o setor bancário, a cartografia  - e as grandes obras de artes, a literatura, a ciência, os descobrimentos devido à expansão marítima que caracterizaram o Renascimento está intimamente ligado ao intercâmbio cultural e comercial com os reinos do Oriente.

Logo, para corroborar o protagonismo da China na História Antiga do Ocidente, e  até os dias atuais, basta lançar um olhar para o avanço tecnológico e econômico do Japão, dos Tigres Asiáticos e da China nos séculos XX e XXI, principalmente do último, que obrigou o mundo a se curvar ao seu poder econômico, despontando como a mais nova potência econômica mundial.

A China idealizou um plano multimilionário de construção e expansão de redes ferroviárias, portos, oleodutos e gasodutos, conhecido como "Nova Rota da Seda" para melhorar as conexões comerciais entre Ásia(Oriente) e outras regiões do mundo, como a Europa e o leste da África a fim de expandir sua influência para o campo geopolítico. Porém o Banco Mundial acha esse investimento dispendioso, e o analista da BBC Carrie Gracie também se opõe, já que, tanto os oleodutos e gasodutos que atravessam a Ásia Central, como os portos do Paquistão e Sri Lanka, no Oceano Índico, podem servir para fins militares no futuro.

A China atua com cerca de 20 linhas de trem de carga que estão conectadas as cidade europeias como Londres, Madri, Roterdã ou Varsóvia. A rota China-Madri funciona há mais de um ano e é o mais extenso serviço ferroviário do mundo. Atualmente, o interesse do governo de Xi  Jinping é aperfeiçoar esta rede ferroviária e transformá-la numa alternativa mais rápida em relação ao tradicional transporte marítimo de produtos chineses. As obras do novo trem de alta velocidade, que ligará os sete mil quilômetros de Pequim a Moscou devem terminar em 2025. Esta malha ferroviária reduzirá o tempo de viagem, de cinco dias, para 30 horas. Com isso, o analista Carrie Gracie afirma que por trás desse empreendimento, está a intenção da China de se consolidar como uma potência comercial global.

A Europa não é o único alvo das mercadorias chinesas, a China planeja acoplar a Tailândia, Camboja e Vietnã com o custo de US$ 7 bilhões. Quando essa rede ferroviária for concluída, receberá o nome de Pan-asiática ligando a China ao Sudeste asiático. Na Indonésia será construída a malha férrea Jacarta-Bandung com o custo de US$ 5,9 bilhões, que tem como objetivo, melhorar o transporte público entre a capital do arquipélago e um dos principais centros econômicos de Java, projeto este que venceu a concorrência dos japoneses. Aproveitando a relação cortês e histórica com o Paquistão, o governo de Xi Jinping investirá US$ 55 bilhões no país e ajudará no desenvolvimento do porto de Gwadar, no Mar Árabe. Com o investimento desse projeto a China ganhará uma saída para o mar, e não precisará enviar os seus produtos para o estreito de Malaca, local onde operam piratas e o clima é desfavorável. E ainda, o projeto contempla a ampliação da rodovia de Kakarorum, uma das mais altas do mundo, que conecta a China ao Paquistão. Outro porto-chave para os chineses, que compõe essa "Nova Rota da Seda" é o de Colombo, capital do Sri Lanka. Embora a obra tenha sido embargada por causa do novo governo - mais próximo politicamente da Índia -, negociações recentes permitiram a continuidade do projeto com o custo de US$ 1,4 bilhão.

A China já está construindo a ferrovia que unirá as duas principais cidades do Quênia: a capital, Nairóbi, e Mombasa, na costa. Este projeto faz parte da futura  rede de transportes da África Oriental, que interligará as cidades do Quênia com as capitais de Uganda (Kampala), Sudão do Sul (Juba), Ruanda (Kigali) e Burundi (Bujumbura). Ainda no continente africano, a China já inaugurou a composição que une Adis Abeba, capital da Etiópia, com Djibouti, capital do país do mesmo nome na costa do Mar Vermelho, onde companhias chinesas estão construindo um centro logístico marítimo. Esses projetos na África, "trata-se de uma expansão do poder naval para proteger o comércio e os interesses regionais da China no Chifre da África" assim constatou o professor de estudos estratégicos da Escola Naval de Guerra de Rhode Island, nos Estados Unidos.

A "Nova Rota da Seda", projeto idealizado pelo Xi Pinjing, presidente da China e o principal membro do Secretariado do "Partido Comunista Chinês", órgão político que controla o país, visa investir numa infraestrutura na Eurásia(Europa e Ásia) de modo a torná-la o único espaço econômico direcionado a Pequim, com um custo de US$ 4 trilhões, desafiando o domínio comercial dos Estados Unidos no mundo.

Em linhas gerais, a " Nova Rota da Seda" mostrou ao mundo que os chineses aprenderam muito bem as lições do Império Britânico de duzentos anos atrás - dominava um terço do planeta de forma direta e indireta e expandia a cultura inglesa através das suas redes comerciais-, já que a China deseja investir em diversos projetos econômicos num espaço geográfico que inclui mais de 60 países, onde reside 60% da população mundial e das quais economias correspondem a um terço do PIB(Produto Interno Bruto) mundial. E ainda expõe um protagonismo de igual para igual entre Oriente e Ocidente, como citou o historiador Jerry Brotton, em sua obra "O Bazar do Renascimento: da rota da seda a Michelangelo"



Resultado de imagem para mapa da nova rota da seda






Fonte:

BROTTON, Jerry. O Bazar do Renascimento: da rota da seda a Michelangelo.

DREGE, Jean-Pierre. Marco Polo e a Rota da Seda.

REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O século XX, O Tempo das Certezas: da formação do Capitalismo à Primeira Guerra Mundial.

Site:
estadao.com.br
g1.globo.com



Nenhum comentário:

Postar um comentário