sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Por que os africanos aceitavam a escravidão???

Após responder as dúvidas sobre a introdução da mão de obra africana na América portuguesa(Brasil Colônia) e desmistificar as visões pejorativas sobre a escravidão indígena(texto: A introdução da mão de obra africana no Brasil - historiadeumze.blogspot.com). Surgiram outros questionamentos: Professor por que os negros não lutaram contra os portugueses? Por que os africanos aceitavam a escravidão? Os negros eram bem mais fortes fisicamente, por que não fizeram uma revolução contra a escravidão? Por conseguinte um aluno gritou: "Os portugueses merecem morrer, são todos f#@& d@ P#$%&!!! Percebendo a falta de informação da turma sobre a escravidão africana e preocupado com o sentimento de revolta despertado nos alunos através do tema proposto em sala de aula. É de extrema importância disseminar como a escravidão africana começou, como se deu o contato dos portugueses com os africanos para assim, responder e esclarecer os questionamentos dos alunos, e fazer com que os mesmos, disseminem o conhecimento absorvido em sala de aula ou através da leitura deste texto sobre a escravidão africana as suas famílias e a sociedade em que estão inseridos.

A escravidão(privação do livre arbítrio, restrição da liberdade de trânsito, perda da soberania do próprio corpo) é uma prática muito antiga e existente em inúmeras sociedades no mundo, anterior e contemporânea aos tempos bíblicos como foi descrito no livro do Gênesis, os vencidos eram transformados em escravos, em troca de suas vidas. O que tornava essa atividade como um gesto “humanitário”, chegando a fazer parte de todos os grandes códigos da Antiguidade também, como o Código de Hamurabi. O indivíduo era escravizado através de derrotas em guerra ou por dívidas. Na África, a escravidão era uma prática comum entre os povos africanos, existiu antes do contato dos portugueses com as costas africanas.

A estrutura social e econômica entre os africanos girava em torno de vínculos de parentesco em famílias extensas. A vinculação por parentesco a um grupo era uma das mais recorrentes formas de se definir a identidade de alguém. Isto quer dizer que o lugar social das pessoas era dado pelo seu grau de parentesco em relação ao patriarca ou à matriarca da linhagem familiar. Nessas sociedades a coesão dependia da preservação da memória dos antepassados, da reverência e privilégios reservados aos mais velhos e da partilha da mesma fé religiosa. Na África existia impérios poderosos e imponente como o Império de Mali(imagem 1 e 2 no fim do texto), reinos bem consolidados (imagem 3 no fim do texto), porém havia pequenas aldeias agrupadas por laços de descendência ou linhagem. Existia também os grupos nômades de comerciantes, agricultores e pastores que se deslocavam sempre que as condições climáticas obrigava ou as oportunidades de negócios eram favoráveis. Entretanto, a expansão de reinos, a migração de pessoas e de caravanas de mercadores, a disputa pelo acesso aos rios, o controle sobre estradas ou rotas geravam constantes conflitos, e como consequência promovia a escravidão entre os povos africanos.

Nas sociedades africanas era comum existir estrangeiros(etnia e grupo linguístico diferente) capturados vivendo como escravos, em que estes eram trocados por bens preciosos de acordo com os interesses das tribos. A escravização de mulheres era a mais praticada, já que as mesmas possuíam técnicas agrícolas e ainda poderiam procriar, aumentando assim a família. Quanto ao status social dos escravizados, eles viviam em grupos isolados, porém era comum serem integrados à família em que estivessem inseridos. Assim, dependendo da função que os escravos exercessem, poderiam conquistar riquezas ou até possuir outros escravos. Por conseguinte, a busca por prestígios era comum em Estados africanos islamizados, onde desempenhavam várias funções, inclusive podendo ser conselheiros reais. Com isso, a prática da escravidão era mais efetiva nas capitais, pois o escravo era um produto muito valioso no comércio do Saara, e devido ao seu alto valor era comercializado também em várias regiões na península arábica e por todo o continente africano.


Entre os povos europeus, os portugueses foram pioneiros no contato com o Oeste da África, por tanto utilizavam o discurso da evangelização sobre outros povos para justificar as conquistas de novas rotas comerciais para assim comercializarem os produtos(especiarias) do Oriente. Isto serviu para infiltrar os interesses comerciais e religiosos da Coroa Portuguesa juntamente com a igreja católica no continente africano. Após o rei do Congo se converter ao cristianismo, foi possível estabelecer uma aliança com o reino português e desenvolver o comércio de diversos produtos, entre eles os "escravos". Com isso, o fornecimento de escravos aos impérios europeus foi sistematizado  desde as primeiras décadas do século XVI  até 1870. Os primeiros escravos foram incorporados para trabalhar nas minas de prata na America espanhola, por conseguinte para as plantações de açúcar e algodão na América portuguesa. Os africanos se tornaram, depois do ouro, a maior fonte de riqueza da Europa ibérica(Portugal e Espanha). O fluxo de tráfico de escravos para o Brasil provinha principalmente da Costa da Mina e de Angola além dos povos abundos, do tronco linguístico banto, como também os yorubás. Havia também as relações comerciais entre o Golfo do Benin e os comerciantes da Bahia, em que várias comunidades mestiças se estabeleceram no entorno dos portos africanos.
Nas feitorias das costas africanas controladas pelos portugueses, os escravos eram trocados por bebida normalmente, ou por produtos que proporcionassem prestígio aos líderes africanos. O comércio de escravos na África era um negócio entre aquele continente e os comerciantes portugueses em locais predeterminados na costa do Atlântico Sul, de acordo com regras estabelecidas pelo lado africano. Ou seja, foram várias as etnias de origem africana que contribuíram com a comercialização de escravos para a América. A estreita relação entre o império luso-brasileiro e os africanos proporcionou aos portugueses a facilidade penetrar nestes grupos incitando cada vez mais novas guerras em direção ao interior da África com finalidade de conseguir prata e escravos. Isto fez com que, os portugueses se apropriassem das estruturas sociais já existentes no continente africano com o intuito de consolidar de uma vez por todas, seu lucrativo empreendimento comercial através do tráfico negreiro.
imagem 1


imagem 2

Características do Império de Mali

  • Localização: África Ocidental ao sul do deserto do Saara(Sahel).
  • Povo: mandinga.
  • Atividade econômica: comércio.
  • Produtos: ouro, café, sal, escravos e marfim.
  • Existiu entre os séculos XIII-XVI.

Imagem 3


ALENCASTRO, Luiz Felipe de. Trato dos Viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul

SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano.

VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos: dos séculos XVII ao XIX. 

SWEET, James H. Recriar Africa: cultura, parentesco e religião no mundo afro-português (1441-1770).

Filme: Amistad

Filme: African Trade



2 comentários:

  1. Excelente!! Parabéns por não deixar de orientar, ensinar aqueles que fazem questão enterrar a História desses Povos trazidos de suas terras a ferro...

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    1. Obrigado pela atenção ao texto! Uma das funções do Professor é ter a difícil tarefa de fazer o ensino de História algo agradável, mesmo sabendo que na era digital a leitura está sendo deixada de lado!!!

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