quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O Altruísmo Europeu na África do Sul (2010) e no Brasil (2014-2016)

Uma simples aula sobre "Imperialismo" pode ser perfeitamente explorada através da utilização das ideologias que surgiram no século XIX(19) para justificar o domínio e a exploração das potências europeias sobre os continentes africano e asiático em pleno século XXI(21). Respeitando o anacronismo, as mesmas(ideologias) funcionam perfeitamente para atender os interesses dos países europeus e suas instituições esportivas(FIFA/COI), garantindo assim, vultuosos lucros nos dias atuais. Logo, para compreender essa parecença, é preciso passear pelas décadas de 1830-40 numa Europa em constante fervedura devido à expansão da Segunda Fase da Revolução Industrial.

Com a expansão da Segunda Fase da Revolução Industrial por todo continente europeu, a Inglaterra perdera sua hegemonia industrial no mundo(imagem 1 no fim do texto) e assistiu a emersão de várias nações europeias(Alemanha, Itália, França entre outras) para concorrer no comércio mundial. Com isso, a partir da segunda metade do século XIX(19), as rivalidades entre as potências mundiais, sobretudo europeias, devido ao nacionalismo exacerbado e a busca desenfreada por cada palmo de terra em várias partes do planeta, com o objetivo de conquistar e explorar novos mercados consumidores de produtos excedentes e fornecedores de matéria prima e mão de obra barata,  a fim de garantir vultuosos lucros aos capitalistas promoveu a partilha da África(Conferência de Berlim 1884-1885), Ásia e Oceania. (imagem 2 e 3 no fim do texto). Logo, os continentes americanos não participaram dessa disputa entre as nações europeias porque os EUA, após resolver seus problemas internos causados pela Guerra de Secessão 1861-1865, iniciou e protegeu suas conquistas comerciais nas Américas, através da Doutrina Monroe(deixem a América para os americanos). 


A disputa por novos mercados consumidores e fornecedores ficou conhecida como "Imperialismo" e as regiões conquistadas pelas potências europeias e norte americana foram chamadas de "Neocolonialismo"(um novo surto colonialista). A partir dessa concorrência, visando justificar o controle e a ocupação dessas regiões pelas nações imperialistas. Estas se apropriaram das teorias científicas e implantaram as seguintes ideologias:

* Darwinismo Social - somente os mais aptos sobreviveriam dentre as sociedades. Logo, a população mais apta era a norte americana e europeia.
* Etnocentrismo - visão de mundo característica de quem considera o seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais.
* Eurocentrismo - toda sociedade no mundo deve copiar os moldes da sociedade europeia.
* Diplomacia do Canhão - invasão, dominação e imposição dos processos civilizatórios europeus sem o consentimento dos povos dominados.
* Missão Civilizatória - era necessário expandir os costumes e hábitos europeus para assim ajudar os povos bárbaros(africanos e asiáticos).
* Altruísmo Europeu - a Europa não buscava o "lucro", desejava apenas ajudar os povos atrasados(africanos e asiáticos) a desenvolver a vida política, econômica e social.


Assim, utilizando a ideologia do "Altruísmo Europeu" para justificar a dominação europeia sobre a África, Ásia e Oceania no final do século XIX(19), é possível citar a mesma ideologia para expor o que a FIFA(Federação Internacional de Futebol) fez aos sul-africanos com as promessas de mais empregos, turistas e investimentos bilionários que viriam  com Copa do Mundo de 2010 sediada na África do Sul. Porém utilizando o livro South Africa’s World Cup: A Legacy For Whom?(Copa do Mundo da África do Sul: um legado para quem? e o site "www.diplomatique.org.br" foi possível corroborar  a implantação do "Altruísmo Europeu" pela FIFA sobre a população sul-africana, basta analisar o desabafo de Eddie Cottle, Sul-africano apaixonado pelo continente onde nasceu, estudou as promessas e o verdadeiro legado da Copa de 2010. “A Fifa e seus parceiros conseguiram os maiores lucros de sua história na África sem pagar um tostão de impostos”. 


Segundo Eddie Cottle, prometeram que haveria um legado porque seria a primeira Copa do Mundo a ser realizada na África. Os investidores e seus parceiros falavam que os ganhos seriam muito maiores que os investimentos públicos gastos para sediá-la. Como também diziam que, ao expor a África do Sul por meio da mídia mundial, o país receberia investimentos. Houve ainda uma ideia de que, com o destaque de nossas belas paisagens, haveria uma explosão do turismo. Para os trabalhadores em geral e para o público, havia uma expectativa de que a Copa iria gerar emprego. Comentavam que haveria dinheiro fluindo para dentro do país por meio do turismo, dos investimentos, e assim por diante. Mas a realidade é que a Copa não forneceu tudo o que a mídia prometia, nem em relação aos compromissos do documento de candidatura. O que vemos é que as copas do mundo são veículos para a acumulação de capital privado em uma escala global, em que a FIFA atua como facilitadora. Em termos de acumulação de capital, não há nada igual, nem mesmo nos velhos tempos do imperialismo ou na globalização moderna. A Copa recebe toda essa atenção precisamente porque os ultrapoderosos são aqueles que mais se beneficiam dela. Para isso, eles fabricam mentiras descaradas para o público. Dizem que haverá grandes investimentos, que o país vai se beneficiar do turismo, que haverá emprego e [que o evento] trará toda essa glória para o país. Pelo menos o último ponto é verdadeiro. O país é deixado com a glória de sediar a Copa, mas a um custo significativo para a sociedade e os pobres em geral. 
A notícia que o Brasil sediaria a Copa do Mundo de 2014, foi recebida com festa, despertando assim, o sentimento festivo da população brasileira. Logo, como em toda festa, veio a ressaca em 2013, com significativas manifestações populares desejando mais educação, saúde e segurança, como também, reformas urbana e rural. Com isso, a expressão mais famosa desse período festivo foi "o legado". Ou seja, o que ficou de infraestrutura para a população brasileira após a Copa do Mundo? O que mais se comenta são os elefantes brancos(arenas) construídos em regiões brasileiras sem nenhuma cultura futebolística como Arena Pantanal(Cuiabá), Amazônia(Manaus), das Dunas(Natal) que não recebe público com frequência como Maracanã, Mineirão e Itaquera, deixando claro que, assim como na Copa da África do Sul, o que interessou foram os vultuosos lucros angariados pela FIFA através da implantação da ideologia do "Altruísmo Europeu" criada no século XIX(19) e muito bem utilizada em pleno século XXI(21) com a promessa de está propiciando desenvolvimento e exemplos civilizatórios a população local próxima aos Estádios de Futebol construídos no Brasil. 
Por conseguinte, o COI(Comitê Olímpico Internacional) também se apropriou de medidas imperialistas como a FIFA. Logo, o Comitê defende o discurso de levar o espírito olímpico a lugares inéditos como fez em 2008 na China, e agora no Brasil(Rio de Janeiro) em 2016, sem desejar nada em troca, pois o que interessa não é o lucro com obras e mídias, mas sim levar a magia das Olimpíadas de forma democrática e justa! Assim, após tantas notícias de que o Governo Estadual do Rio de Janeiro estava "quebrado" e que a Prefeitura não daria conta de arcar com as despesas restantes do mega evento olímpico. O Governo Federal  entrou em cena e priorizou o evento de tamanha importância social e política para o Brasil em relação ao mundo. Logo, do orçamento de R$ 38,2 bilhões, R$ 24,6 bilhões estão sendo gastos em obras que ficarão de herança para a cidade. A população, que vive em meio a um imenso canteiro de obras, aguarda para aproveitar os legados prometidos: novas áreas esportivas, melhorias no sistema de transportes, com BRTs e extensão do metrô até a Barra da Tijuca; obras contra enchentes; novas escolas públicas; e, por fim, a revitalização da Região Portuária do Rio.(imagens 4, 5, 6 e 7 no fim do texto). Porém, essa jogada de "ouro" não pensou nas demandas urgentes e óbvias, em diferentes regiões do país - principalmente as regiões Norte e Nordeste - relacionadas às estradas, habitação, mobilidade, saúde e educação que mereciam no mínimo tratamento semelhante. Por conseguinte, o COI, as empresas multinacionais, as mídias nacionais e internacionais, investidores e políticos fantoches e marionetes a fim de notoriedade em seus mandatos, através das suas práticas imperialistas estavam todos unidos com um objetivo, arrecadar um grande volume em dinheiro gerado pelas Olimpíadas de 2016 sediada no Rio de Janeiro. 
Será uma utopia pensar numa revolução de políticos, magistrados, formadores de opinião, líderes religiosos, construtores da sociedade, educadores, todos, unidos  pelo legado do espírito olímpico e, desse modo, vencer o abismo social e econômico e buscar a medalha de ouro do bem comum, onde o povo e sua cultura serão valorizados de forma solidária e igualitária, para assim destruir o abismo social e econômico; e ainda extinguir o preconceito religioso e racial existente, e construir vários heróis como Rafaela Silva, Isaquias Queiroz e Robson Conceição em modalidades que não sejam esportivas??? 

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HOBSBAWM, Eric. A Era dos Impérios 1875-1914

KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luis Estevam; MORAIS, Marcus Vinicius de; PURDY, Sean. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI(21).

SAID, Edward W. Cultura e Imperialismo

Fotografia: Ricardo Ferreira

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