segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A Literatura utilizada como Historiografia

A Obra literária do autor Nicolau Sevcenko, "A Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República, tem como objetivo: utilizar a Literatura como documento que a auxilia a entender as tensões sociais desse período e a posição tomada pelos escritores diante de tais tensões, que era usufruir da Literatura na ação política, social e econômica, denunciando e propondo soluções para mazelas vividas pela sociedade nesse período de intensas transformações de valores na sociedade e na cultura.

Para Sevcenko, dois autores representam a função da Literatura voltada para a ação política e de denúncia dos problemas ocasionados pela nova ordem Republicana: Euclides da Cunha e Lima Barreto, cada um com as suas soluções e particularidades  para as desigualdades sociais no Brasil. Assim, no primeiro capítulo, "A inserção compulsória do Brasil na Belle Époque", Nicolau expõe o contexto político, social e econômico vivido no Brasil da Proclamação da República(15 de novembro, de 1889) até o início da Primeira Guerra Mundial(1914). o Autor, Sevcenko, dividiu o capítulo em três partes: "Rio de Janeiro a Capital do Arrivismo", "A República dos Conselheiros" e "O inferno social". O principal alvo de todas as transformações políticas foi a Capital do País, na época Rio de Janeiro, o que promoveu a desestabilização da República, devido ao Encilhamento, porque desmantelou a Elite Imperial, e consequentemente ascendeu uma burguesia que, continuou garantindo privilégios escalonados dos cafeicultores, e atendendo os interesses de Nações internacionais, fechando assim, os olhos e os ouvidos para a desigualdade social do país.

A Reforma Urbana retirou dos centros comerciais grande parte da população, gerando a Favelização, que aumentou ainda mais com a Crise Cafeeira do Vale do Paraíba, contribuiu para aumentar as fileiras do Exército dos Desocupados que aglomeravam-se em antigos casarões coloniais, que serviam como estopim para constantes manifestações populares. Logo, a explosão demográfica, o desemprego e a falta de moradia com endereço fixo eram tratados com extrema violência policial,  onde Sevcenko nomeou de "Inferno Social".

Parafraseando Nicolau, no segundo capítulo: "Os escritores cidadãos" expõe os objetivos da produção literária com a Geração de 1870, formada pelos "Mosqueteiros literários"(Joaquim Nabuco, Machado de Assis e Capistrano de Abreu), que mesmo sendo abolicionistas e republicanos, ficaram desiludidos com a Proclamação da República que, não possuiu participação popular, com arrivismo (enriquecer a todo custo), luta por interesses particulares e "ausência de oposição política" (hoje temos pluripartidarismo, porém grande parte do eleitorado brasileiro está mostrando ao mundo como não exercer uma democracia) grifos meu.

Assim, como os dias atuais, "os mosqueteiros literários" sofreram com a desvalorização da produção intelectual e com a massificação do "Boom"  das revistas ilustradas, fotografias e cinema, o que fez, a Literatura concorrer com a vulgarização de novas linguagens técnicas. Com isso, a Geração de 1870, segundo Sevcenko, perdeu seu caráter monolítico e passou a ser dividido entre intelectuais de Casaca (burguesia carioca), e os sem Casaca ( boêmios).

Saindo de uma análise mais geral, Nicolau focou sua obra em "Lima Barreto e Euclides da Cunha" para expor que ambos empenhavam-se com ideais políticos e sociais em sua obras, e ao mesmo tempo, se afastavam da vida pública, e ainda abominavam a vida da elite carioca, que desejavam a qualquer custo transformar o Rio de Janeiro em uma Paris, Já que os literários acreditavam que somente valorizando a cultura nacional o Brasil se igualaria as Nações Europeias.

Apesar de tantas semelhanças, as obras de Euclides da Cunha e Lima Barreto se contrapunha nos seguintes elementos: temática, procedimentos literários, gênero e técnicas narrativas. Em que, ciência, raça e civilização eram as ideias que mais divergiam. Sevcenko analisa Euclides da Cunha com um estilo "elevado". Já, Lima Barreto utilizava o "humor" como elemento básico da sua escrita. Assim, Nicolau analisa os autores da seguinte forma: ambos possuíam ideias filosóficas diferentes. Euclides da Cunha era "materialista", e Lima Barreto "idealista". A partir da obra desses autores, Nicolau Sevcenko percebe que a linguagem deles são determinantes para o confronto de temas, como: índio/mulato, São Paulo/Rio de Janeiro-Bahia, imigrante/nativo etc.Com isso, Nicolau valoriza a Literatura na historiografia fazendo daquela ciência um termômetro para medir a mudança de sensibilidade e de mentalidade, em que o autor literário possui de visão sobre o mundo que estiver inserido.  

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