sábado, 19 de setembro de 2015

Brasil achado em 1500, mas por que colonizado apenas, em 1531?

O Brasil foi achado no ano de 1500, por Portugal, segundo o Historiador Boris Fausto, em que o mesmo utiliza a expressão "achamento", em sua obra "A História concisa do Brasil", publicado em 2001. Porém, o que chamou a atenção foi o interesse da Coroa Portuguesa, em colonizar o território brasileiro apenas em 1531. Por conseguinte, foi realizado algumas pesquisas para preencher a lacuna existente entre os anos de 1500 a 1531, com as seguintes perguntas: o que Portugal teria de tão importante para não se interessar por essas terras, em 1500? Por que a Coroa Portuguesa não fez o mesmo esforço que a Espanha, em que esta, lançou-se com afinco nas terras(América) achadas por Cristóvão Colombo, em 1492, dando continuidade na colonização do México até conseguir êxito com Hernán Cortéz, em 1522; e em seguida, com Pizzaro conquistando o Império Inca(Peru) em 1533? Enfim, surgiriam infinitas perguntas sobre o interesse português em relação ao Brasil. Com isso, através de várias leituras minuciosas foi possível traçar uma possível resposta para compreender o desejo português de colonizar essas terras chamadas de Brasil, apenas em 1531, com Martim Afonso de Sousa.

Assim, através da leitura da obra do historiador francês Serge Gruzinski, em "A Águia e o Dragão", foi possível entender que, a China, desde os últimos anos do século XV, fora uma região que despertava interesse e curiosidades aos portugueses, já que, objetos como, brocados e porcelanas chinesas desembarcavam em grandes quantidades no continente europeu. Com isso, após a conquista de Malaca, em que, portugueses e uma comunidade chinesa entraram em contato, foi possível despertar ainda mais o interesse da Coroa Portuguesa em relação ao país dos chins, onde, o feitor do rei D. Manuel, Tomé Pires, em 1515, concluiu que as coisas da China "são tão grandes, como terras, riquezas, população, instituições, que seria fácil confundir-se que estaria na Europa,  ao invés de estar nessa terra da China". Assim, os chineses de Malaca descreveram a região a Pires como,  um local coberto de cidades e fortalezas. Com isso, isto fez com que portugueses desejassem recolher sempre mais informações desse lugar longíquo da Ásia, que, fabricava porcelana e sedas. Outro viajante a deslumbrar-se com a região foi Giovanni Empoli, em 1514, que entendera a China como "o abrigo da riqueza e das maiores coisas do mundo". Assim, Portugal recebendo dados de vários negociantes, no início do século XVI, entendeu que seria muito mais lucrativo empreender todo o esforço para conquistar essas terras que havia comércio estabelecido, população doutrinada com o pagamento de impostos, pontos geográficos estratégicos e novas rotas comerciais e marítimas, ao Brasil, que possuía apenas uma população indígena dividida entre grupos linguísticos e rivais.

Logo, no entendimento da Coroa Portuguesa, o achamento de Pedro Álvares Cabral fora transformado em um evento coadjuvante em relação às constantes informações vindas de Malaca sobre o Império Celestial (China). Por conseguinte, segundo as fontes chinesas "no décimo segundo ano [1517]" ou "no décimo terceiro ano [1518]" o sonho dos portugueses de conquistar a China deixa o imaginário, para assim desembarcarem em Tamão na língua portuguesa, ou em Tunmen em chinês, um local, já visitado em 1513, por Jorge Alvarez. Assim, construiram cabanas e paliçadas, com a intenção de instalar-se para depois navegar pelo rio das Pérolas até Cantão. Já no ano de 1518, os portugueses confinados no alojamento das missões estrangeiras, iniciam um tour pelas muralhas da cidade, com o objetivo de espionar a região para depois colocar o plano do rei D. Manuel, de acabar com a concorrência asiática no mercado chinês em prática, e com isso construir uma fortaleza na costa da China, em que, os portugueses já tinha feito essa tarefa, com muito sucesso na Ásia(Goa) e em outros lugares na África.

Porém, a Coroa Portuguesa não contava com o desinteresse dos chineses em realizar um comércio entre as partes, como exemplo dessa estranheza ao invasor, citarei um trecho da pág. 270 da Obra "A Águia e o Dragão", de Serge Gruzinki, "o alienígena tem outro efeito sobre as mais altas autoridades chinesas: imperadores, mandarins, ministérios, eunucos não estão espontaneamente fechados aos recém-chegados...mas têm uma prática e uma ideia dos bárbaros que enquadram e limitam consideravelmente os efeitos do contato e os riscos de dano". Ou seja, para os chineses, os portugueses eram bárbaros, logo seria uma ameaça para todas as estruturas sócio-políticas da China. Assim, Tomé Pires, viu o seu sonho de conquistar o Império Celestial retornar ao seu imaginário,    forçando a Coroa Portuguesa adotar uma estratégia com numerosos parceiros asiáticos para manter o contato com a China através da clandestinidade e golpes de sorte. Por conseguinte, o Brasil que fora achado e desprezado em 1500, retornou para a pauta de colonização dos portugueses a partir de 1531, com Martim Afonso de Sousa.