segunda-feira, 23 de novembro de 2015

(???) A França possui história(???)

A população da França de hoje é um edifício com uma infraestrutura mal acabada de outrora, e por causa do seu poderoso Império Colonial que partilhou a África, a Ásia e as Américas com outras potências europeias, provocou infiltrações e rachaduras nos pilares dessa antiga construção nos dias atuais. Desde então, em sua trajetória decadente, escreveu os mais tristes episódios da história africana e deixou um legado de injustiças, miséria e morte dos povos nativos. Por conseguinte, crimes de guerra e crimes contra a humanidade cometidos pelos colonos franceses(invasores) e seus exércitos de ocupação foram marcantes durante o processo de independência de suas ex-colônias, em particular no caso da Guerra de Independência da Argélia, entre 1954 a 1962, onde as tropas francesas recorreram de forma banal à execuções sumárias, massacres e torturas. Porém, os franceses não gozavam dos mesmos meios tecnológicos que o Estado Islâmico possui hoje para divulgar suas barbáries, devido ao período em que ocorreu o conflito, mas o conceito de humilhar e expor os prisioneiros argelinos muçulmanos e suas esposas, é o mesmo. Assim, como os vídeos e fotos de policias/marginais sendo assassinados, quando são publicados e compartilhados em redes sociais. Não acham? Ou barbárie é apenas aquelas cometidas por estranhos, africanos, muçulmanos, hindus, budistas?(analisar as imagens no fim do texto) Com isso, parafraseando com o historiador Pierre Vidal-Naquet, o mesmo disse: -"ficou explícito que na Guerra de libertação da Argélia os franceses rasgaram a Convenção de Genebra (…). Essa convenção, foi um marco na história dos direitos humanos, que virou letra morta na Argélia. Não era essa uma preocupação dos militares franceses naquele momento. Obcecados por um racismo que desumanizava os autóctones(que ou quem é natural do país ou da região em que habita e descende das raças que ali sempre viveram), árabes muçulmanos, eles disseminavam preconceitos para estigmatizar os argelinos"(analisar as imagens no fim do texto).

Devido ao seu glorioso passado IMPERIAL/COLONIAL - Argélia, Tunísia, Líbia, Mali, Marrocos, entre outros países muçulmanos do norte da África - a França é o país com a maior comunidade muçulmana da Europa, com cerca de 6,2 milhões de fiéis (aproximadamente 10% da população francesa), são os imigrantes das ex-colônias francesas que não encontraram a política de acolhimento que esperavam e que fora prometida por governantes anteriores, sendo marginalizados e discriminados. Assim, grande parte dessas pessoas é pobre, sendo estereotipadas como “cidadão de segunda classe” e vítimas de preconceitos e exclusões(por isso, o genial, ex-jogador de futebol, filho de argelinos, muçulmano, Zinédine Zidane que disputou três Copas do Mundo, vencendo o Brasil, na final de 1998, nunca cantou a Marselhesa-símbolo do nacionalismo francês.), num país onde a xenofobia(desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país) tem crescido na mesma proporção em que se agrava a crise econômica francesa.

Entretanto, apesar de contabilizar mais de 3,5 milhões de desempregados,  ausência de crescimento, e a perda de competitividade de sua economia, o já desacreditado governo francês continua sonhando em recuperar o antigo prestígio daquele Império Colonial, que se notabilizou no século XIX até o século XX. Por tanto, esse sonho utópico, vem gastando centenas de milhões de euros para manter cerca de 8 mil soldados em diferentes intervenções militares, na África, Ásia Central e Oriente Médio, onde colabora com os EUA, e agora, após esses últimos ataques também está colaborando com a Rússia, na guerra contra o Estado Islâmico, além de atuar ativamente na operação da OTAN contra a Síria, introduzindo mercenários e armas, no interior do país muçulmano.

Porém, os jovens “terroristas” que estão apavorando o mundo, estão exercendo as mesmas atividades dos agentes da CIA que assassinaram centenas de pessoas na Nicarágua, Panamá e Cuba, como assassinaram Che Guevara na Bolívia e fotografaram para exibir ao mundo, e ainda auxiliavam os governos militares brasileiros torturarem e assassinarem centenas de brasileiros que lutaram contra a opressão militar, como os agentes de outros serviços secretos europeus, tipo aqueles que adoramos assistir nas salas lotadas dos cinemas, regados a pipocas e refrigerantes, que sempre presenciamos nos filmes hollywoodianos, explodindo prédios, assassinando ou torturando povos nativos(estranhos a cultura europeia e norte-americana) e se exibindo com belas mulheres, como o lendário 007, o famoso James Bonde, que sempre ostentou desde 1953, belos ternos, automóveis de ponta e lindos relógios, e que sempre salvou a humanidade do mal causado pela extinta URSS, e que hoje, salva o mundo de sociedades anônimas criminosas. Mas aos olhos da população ocidental, que não conseguem enxergar que esses jovens franceses marginalizados, sem perspectiva de futuro, muçulmanos, cidadãos de segunda classe, como sempre foram considerados na França, estão apenas sendo seduzidos pelo distorcido JIHADISMO(guerra santa muçulmana; luta armada contra os infiéis e inimigos do Islã), para “vingar o profeta Maomé”, mas poderiam fazer o mal por qualquer outro motivo. Já que, as potências europeias continuam visando o lucro e as vantagens comerciais que as mesmas exploram das regiões produtoras de petróleo. Talvez se os milhões de dólares gastos pelo governo francês para manter suas operações militares no Mali, no Afeganistão, na Síria e no Iraque fossem investidos para amenizar os efeitos da crise econômica sobre as famílias mais pobres da França – muitas delas de imigrantes muçulmanos – o ataque ao Charlie Hebdo, ou no Bataclan não teriam acontecido.

Logo, não é correto olhar para os fanáticos jovens do Estado Islâmico, como os únicos culpados pelos atentados que estão ocorrendo na França. Porque o maior culpado sempre foi o Governo Francês, basta analisar todas as suas ações de TERROR em várias partes do mundo ao longo de sua história que assassinou e explorou vários povos em nome do LUCRO. Culpado por ação (ao intervir politica e militarmente no Oriente Médio e na África, provocando a ira dos fundamentalistas islâmicos) e culpado por omissão (ao não praticar uma política de inclusão social e econômica em relação aos franceses de segunda classe, aos imigrantes e outras minorias). Com isso, os mortos em Paris nem de longe se equivalem aos milhares de muçulmanos massacrados por Renaud de Châtillon durante as Cruzadas(Idade Média, século XII). Nem de longe se equivalem aos milhares de africanos assassinados, escravizados e expulsos de suas terras pelos colonizadores franceses. Nem de longe se comparam aos milhares de afegãos, sírios, iraquianos e tuaregues, que foram assassinados, e que ainda hoje lutam contra a ganância imperialista da Europa. O ataque a sede do jornal francês Charlie Hebdo e ao restaurante Bataclan, é apenas o começo na Europa, já que, na África, que é um lugar esquecido pelos veículos de comunicação, o Boko Haram(um tentáculo do Estado Islâmico na África) faz constantes ataques terroristas na Nigéria e em vários países africanos, como o ataque terrorista feito com metralhadoras e granadas, que deixou cerca de 30 mortos em um hotel de luxo, em que a maioria dos hospedes eram europeus, esse fim de semana, 20 de novembro de 2015, em Bamako, a capital do estado centro africano do Mali. A França cometeu muitos crimes no passado e insiste em repeti-los no presente. E se é assim que vai ser, acredito que os atentados terroristas não cessarão, com isso, franceses, turistas, entre outros de nacionalidades distintas acabarão pagando o preço pelos pecados cometidos pelos governos norte-americano, russo, inglês e francês!




























Fontes: 

SAID, Edward. Cultura e Imperialismo. São Paulo, Companhia das Letras, 2011.
____________. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.
NAQUET, Pierre Vidal-. Os Gregos, Os Historiadores, A Democracia - o grande desvio. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.
MINCES, Juliette. Estudos Afra-Asiáticos: A comunidade argelina na frança. Ed. 17, Rio de Janeiro, CEAA, 1989.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Nem morrer posso(...)vou ser enterrado(a) aonde(...)??

Na Rodoviária de Salvador, capital do Estado da Bahia, no dia 18 de novembro, de 2015, no plataforma de embarque A, com destino à Alagoinhas(Recôncavo baiano), às 8:30 da manhã de quarta-feira, duas senhoras conversavam sobre o alto custo de vida na cidade soteropolitana, dizendo:"que suas aposentadorias não davam para nada". A dona da primeira frase, proferiu assim, em alto e bom tom: "ah cumadi(comadre) não sei o que seria de mim e do meu véio(velho/marido) se não tivesse o programa do governo, Farmácia Popular para mim(eu) comprar meus remédios". Logo, atento ao diálogo das anciãs, a segunda, explanou: "oxe, e eu cumadi(comadre), que nem morrer posso, com o que eu ganho, vou ser enterrada aonde?". Assim, para não identificá-las pela cor da pele, o que é um erro brutal num país que possui a maioria da sua população de afrodescendentes, tomei a liberdade de chamá-las de Lourdes(senhora 1) com o nome da minha avó materna; e Maria do Carmo(senhora 2) com o nome da minha avó paterna, e por estar completamente mergulhado na resenha daquelas senhoras, e me sentindo um neto atencioso em ouvir as boas histórias das avós, ocorreu-me um "déjà vu"! A partir daí, começaram a brotar lembranças num arquivo afetivo que, logo encontrou um episódio que se encaixava perfeitamente na frase supracitada por Maria do Carmo(Senhora 2).

Os pais de um amigo, chamado Joaquim, custeou todas as atividades do enterro do seu tio, chamado Roberto, em 12 parcelas no cartão de crédito, pois os filhos de Roberto, primos de Joaquim, não gozavam de capital para enterrar o pai. Logo, se o morto não tivesse alianças familiares, estaria na mesma condição de Maria do Carmo, ou seja, seria enterrado aonde? Será que a preocupação de Maria do Carmo surgia por  causa da falta de familiares e sabia que não contaria com a mesma ajuda que o tio(Roberto) de Joaquim? Enfim, por ser uma atividade fora da realidade de muitas famílias brasileiras, bancar um funeral nos dias de hoje, foi utilizada a "História Comparada" entre o diálogo das respectivas senhoras Lourdes e Maria do Carmo, a dificuldade dos pais de Joaquim para enterrar seu tio, e a obra "A morte é uma festa" do historiador João José Reis, escrita sobre a morte no século XIX, na cidade de Salvador, para expor que a morte sempre foi um assunto delicado, já foi até motivo de Revolta. Assim, a decisão de políticos e médicos, em acabar com os enterros no interior das igrejas das irmandades religiosas que ajudavam escravos, pobres, trabalhadores gozarem de um enterro digno, e criar um Cemitério distante da cidade, e ainda privatizar os funerais em poder de empresários, que impuseram várias regras que desrespeitavam a superstição da sociedade soteropolitana em relação a morte e cobrar altos preços por toda atividade que envolvia o funeral, acabou servindo de estopim para explodir uma Revolta, em 1836.

O ano de 1835, foi decisivo na campanha contra os enterros nas igrejas de Salvador. Logo, pressionadas, as irmandades religiosas e paróquias, através de D. Romualdo Seixas, arcebispo primaz desde 1827, em agosto de 1834, fez uma detalhada exposição ao ministro da Justiça, como poderiam as pessoas agir dentro da lei se não havia cemitérios e a Câmara não se encarregava de construí-los? Com isso, a autoridade eclesiástica detalhou: "viu-se já na Bahia sepultarem-se cadáveres nos quintais, ou lançarem-nos ao mar, porque os Fiscais e Juízes de Paz não consentem, que eles sejam sepultados nas igrejas(...)". Esses enterros clandestinos feriam a sensibilidade religiosa das pessoas, frustrando planos muitas vezes longamente elaborados de um funeral decente, público e pomposo, pago com sacrifício e antecipadamente às irmandades. Já que, o funeral, ou melhor a morte, era sempre celebrada como um espetáculo e por acharem que os defuntos teriam uma boa morte eram enterrados no interior das igrejas, uma prática comum no Brasil, até os anos oitocentos(Reis, 1991, P. 137). Assim, diante do despreparo dos poderes públicos, José Augusto Pereira de Matos, junto com José Antônio de Araújo e Caetano Silvestre da Silva, se associaram com o objetivo de construir e explorar comercialmente cemitérios em Salvador, pois a morte sempre fora um negócio rentável para as irmandades religiosas, e mais ainda para as igrejas! Por conseguinte, os empresários explicavam que suas iniciativas resolveriam o impasse criado entre as irmandades religiosas e o governo na questão dos cemitérios. Pois ambos(o governo e as irmandades) não tinha recursos para construir o Campo Santo.

Parafraseando João José Reis, para a empresa que construiria o cemitério  não era só um negócio, mas um empreendimento patriótico, em que, elevaria o nível do Império do Brasil ao das Nações mais civilizadas da Europa. Abandonando de vez o "pernicioso costume de se inhumar nas Igrejas, dentro das Cidades, os Cadáveres dos mortos" defendendo os vivos da "inalação de miasmas pútridos (...) de que às vezes resulta a morte", mostrando com essas citações, a sincronia das ideias entre empresários e médicos da época. Com isso, o novo cemitério teria covas comuns, carneiros e sepultaras perpétuas, porém esses espaços não iriam se misturar como no interior das igrejas. O Campo Santo teria uma visão burguesa e individualista, onde operaria uma estratificação dos mortos, os cadáveres não seriam mais misturados, os defuntos abastados(poderosos, ricos em vida) seriam lembrados em versos lapidares, expondo um sistema de classificação social, e ainda, uma verdadeira aula de cidadania e civismo as futuras gerações. Continuando na estratificação dos mortos, os donos do cemitério de Salvador seguiria uma lógica estritamente econômica, em que, uma cova comum custava 1$280 réis, e para melhorar a imagem de um empreendimento polêmico por romper com a cultura de ver a morte como um festa(analisar a imagem no fim do texto), sempre celebrada pelas irmandades religiosas com queima de fogos, bandas, danças, utilização de máscaras, mortalhas e com repetitivos badalos de sinos, os empresários em troca prometiam enterrar gratuitamente as pessoas que comprovassem ser pobres. Já os preços de túmulos e catacumbas não eram anunciados, já que eram muito caros, e assim, eram negócios privados entre a empresa e os clientes.

Por tanto, o Clero de Salvador, percebendo que ficaria à margem desse lucrativo comércio, modificou o seu discurso e criou um regulamento religioso, onde as missas de corpo presente poderiam ser realizadas nas igrejas matrizes ou na capela do cemitério, sem que os empresários cobrassem por essa atividade, quem quisesse a presença de pároco na procissão fúnebre pagaria, além da encomendação, mais 6$400 réis, o que sempre fora comum nos funerais antes da construção do cemitério, o pagamento de párocos nos enterros, e exigiam ainda, o direito às covas para todos os membros do Clero. Após anos de conflitos com médicos e políticos contra a existência de um cemitério, as autoridades eclesiásticas inibiam a profanação do Campo Santo(cemitério), transformando-se numa espécie de sociedade, entre a Igreja e os empresários. Logo, quando a obra do cemitério foi declarada pronta, nova comissão eclesiástica foi organizada para examinar se ela estava de acordo com o regulamento religioso, e assim, apresentou seu parecer: "O cemitério está edificado com a maior decência possível, e de tal maneira que excedeu a expectativa da Comissão, e não pode dever muito aos Cemitérios da Europa: acha-se pronto para as inumações dos Cadáveres, e com toda a capacidade para a população da Cidade(Salvador)", assim as Igrejas seriam a partir de agora somente a "casa de Deus"(Reis, 305) e não mais o lugar de enterrar os mortos. Diante disso, as irmandades tentaram derrubam a lei de proibição de enterro no interior das igrejas, de forma legal, e acusavam as autoridades políticas e médicas de estarem indo contra a Constituição. Porém, as autoridades argumentavam que era uma questão de saúde pública, era preciso existir um local para armazenar os mortos de uma forma que não seria prejudicial a saúde da população soteropolitana(Salvador). Logo, surgiram infinitos debates, em que, várias irmandades julgavam seus túmulos higienizados, mas para a visão comercial, a prática dos enterros nas igrejas das irmandades fugia do controle do Estado, o que acabara impedindo uma arrecadação sistematizada de impostos sobre a morte.

Os debates permaneceram, e as irmandades religiosas acusavam a prática de enterro em cemitério um grande pecado, pois os cemiteristas(empresários) eram homens de usura que negavam a fé cristã, e que o Estado não poderia entregar essa atividade(lucrativa) a particulares, por ser sagrada deveria continuar no controle das irmandades religiosas. Mas, a lei entrou em vigor, e as autoridades não atenderam as exigências das irmandades, em ao menos, reservar seus túmulos no cemitério recém construído. Com isso recorreram à violência, e no dia da inauguração uma multidão de pessoas de todas as classes, gêneros, cores(escravos, trabalhadores, ricos, e alguns párocos e militares) se lançaram ao cemitério com toda fúria, destruindo tudo, tornando esse evento, mais um marco histórico na cidade de Salvador, que ficou conhecido como a Cemiterada de 1836.

Cemiterada



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Laisser faire, laisser passer! (ou) Fechem as fronteiras!

O ataque terrorista na França, promoveu inúmeras condolências às vítimas do atentado na última sexta-feira, 13 de novembro de 2015. Como também foi presenciado um sentimento de XENOFOBIA(temor ou antipatia por pessoas estranhas, ou que vem de outro país) em relação aos imigrantes, principalmente aos sírios que fogem do mesmo terror causado pelo ISIS, em direção à Europa! Logo, no meio desse turbilhão de informações fragmentadas e despejadas de qualquer maneira pelos veículos de comunicação, surgem várias afirmações com o objetivo de dar fim ao terrorismo, como: Fechem as fronteiras! Os imigrantes são terroristas! Todo muçulmano é terrorista! Tinha que jogar um bomba atômica no Oriente Médio! Mas não se pode esquecer que crises econômicas e a primeira e a segunda guerra mundial fizeram europeus adotarem a mesma atividade dos sírios, ou seja, IMIGRAR para várias partes do mundo, inclusive para o Brasil! Assim, poderíamos substituir as afirmações supracitadas, por perguntas com o objetivo de entender como foi criado o paiol de pólvora que é o Oriente Médio, por exemplo: Como foi e em que ano foi criado o Estado de Israel, e quais países ocidentais participaram efetivamente desse projeto? O que foi a guerra árabe-israelense, conhecida também como guerra Yom Kippur, em 1973, e quais potências ocidentais ajudaram Israel? O que foi, ou o que é a Questão Palestina? O que motivou a Revolução do Irã, em 1979? Qual foi o legado deixado pela URSS(hoje Rússia) após a invasão no Afeganistão? Qual potência ocidental ajudou o Talibã(hoje é a Al-Qaeda) expulsar os russos do Afeganistão? Quais potências ocidentais forneceram armamentos e apoiaram o governo de Saddam Hussein na guerra Irã-Iraque, de 1980-1988? O que motivou os EUA invadir o Iraque, em 1990? O que motivou os EUA invadir o Iraque, em 2003? As respostas para as perguntas acima, vai de encontro a História Contemporânea dos povos árabes, ou do Oriente Médio, e faz surgir o nome de países ocidentais que não respeitavam a cultura dos povos árabes, pelo simples fato de explorar a região que mais produz petróleo no mundo! Logo, não é possível entender o ISIS, ignorando os fatos ocorridos no século XX! 

Nesse ínterim, em pleno século XXI, com toda liberdade política, social, econômica, religiosa, e ainda tecnológica, presenciamos o surgimento do ISIS, que através dos seus líderes pregam constantemente a criação de um Califado, um Estado Islâmico, com a extensão daquele dos séculos VII e VIII(analisar a imagem 1 no fim do texto), em que, havia tolerância religiosa, existia um bom convívio de várias religiões naquele califado! Porém o califado desejado pelo ISIS(analisar imagem 2 no fim do texto) hoje é extremamente diferente, pois não tolera nenhum tipo de religião que não seja o Islã extremista(radical), voltado para os Xiitas, que cultiva um ódio demasiado a cultura ocidental. Por conseguinte, para conquistarem cada vez mais territórios, os mesmos, implantam nas mentes de seus fiéis seguidores o JIHAD(a Guerra Santa), em que, toda ação de guerra, de terror, é justificada pelo amor a Alá(Deus islâmico). Logo, seria interessante fazer os seguintes questionamentos: O que motivou o ódio do ISIS aos países ocidentais, e até ao próprio Islã praticado pelos Sunitas(aceitam a cultura ocidental), já que vários líderes islâmicos não reconhecem o ISIS com um segmento religioso? Como um grupo terrorista consegue extrair e comercializar petróleo? Quais os países, as empresas que compram esse petróleo? Como um grupo fanático religioso, consegue comprar armamentos, automóveis, bancar viagens e disseminar todas as suas ações de terror para o mundo? Quem são os empresários, as empresas, os países que fornecem todo o aparato de guerra ao ISIS? Como o ISIS tem acesso aos meios tecnológicos? Quais são as empresas, os representantes comerciais que fornecem, tecnologia ao grupo terrorista? O que faz jovens belgas, franceses, e de outras nacionalidades europeias, e até brasileiros ingressarem nas células terroristas do ISIS? Qual a classe social desses jovens, média, abastada, despossuída? Qual é o conteúdo oferecido pelo ISIS aos jovens que as famílias não estão conseguindo oferecer, é material, é intelectual ou é espiritual? O que motiva as jovens mulheres europeias abandonarem suas famílias, lares, direitos políticos e econômicos, para se tornarem esposas de terroristas do ISIS? 

São perguntas que precisam ser respondidas para que o grupo seja desarticulado! Assim, é preciso questionar como um grupo terrorista consegue ter adeptos, com um número cada vez mais crescente e levar o Terror em várias partes do mundo! Não podemos fechar os olhos para os tipos de sociedades que estão sendo construídas nos países ocidentais, com desigualdades sociais, fragmentadas, em que boa parte dos jovens preferem os aparelhos eletroeletrônicos que o convívio social. Será que a educação oferecida de forma sucateada pelos governantes é proposital, para assim manterem um exército de jovens desinformados e desinteressados por questões que mudariam o curso de suas vidas? Será que as constantes reuniões de blocos econômicos, como o G20(grupo Financeiro-Mundo-Educação) e as suas falhas está promovendo um sentimento de descaso nos jovens, que não conseguem enxergar melhorias nos projetos que visam diminuir o abismo social entre ricos e pobres nos seus respectivos países? Será que a corrupção em todas as instituições está promovendo um desinteresse nos jovens sobre as questões políticas? Será que a omissão da verdadeira história de seus países por mídias e políticos das potências ocidentais está gerando um tipo de jovem sem amor a família, a sociedade e ao país, e acima de tudo, desconfiado, desprendido, sem raízes? Com isso, após assistir alguns documentários, ler algumas obras e observar o comportamento dos jovens adeptos do ISIS, parece que este grupo terrorista oferece um tipo de ideologia que os jovens europeus e até brasileiros não encontram em suas sociedades! Como já foi dito por estes próprios jovens, que atingem a liberdade de consciência, os mesmos começaram questionar a história dos países em que estão inseridos e até a história de suas religiões, onde o abandono da fé cristã são justificadas pela história  de exploração, opressão e sangue que marcou suas religiões e que, as mesmas, consentiam as barbáries europeias sobre as civilizações ameríndias, asiáticas e africanas dos séculos XII ao XIX, jurando amor a Deus! Isso, justifica porque a religião islâmica é a que mais cresce no mundo! 

Por isso, não é correto achar que todo árabe é muçulmano, e muito menos, que todo muçulmano é terrorista! O leitor pode estar se perguntando, como cheguei a essa conclusão? Foi através da leitura de duas obras de Edward Said, árabe e cristão, "Cultura e Imperialismo" e "Orientalismo"! Logo, não podemos ser enfeitiçados pelo calor da emoção, generalizar as ideias punitivas sobre os muçulmanos e aderir à xenofobia, não podemos olhar os bombardeios feitos pela Rússia, EUA e França como algo positivo, porque isso, também é uma forma extremista(radical) para confrontar o TERROR, pois, também existem vítimas na Síria! Ou as vítimas são apenas as pessoas que sofrem com os atentados do ISIS na Europa e nos EUA? O desejo de escrever esse texto, é disseminar informações, oferecer perguntas, criar debates, para que possam surgir respostas e entendimentos sobre o comportamento dos jovens do ISIS. Assim como, entender as possíveis mudanças que o terrorismo poderá causar na livre circulação de pessoas e no livre comércio da União Europeia, pois existem muitos europeus que são muçulmanos, e muitos muçulmanos que possuem dupla nacionalidade francesa, como os islâmicos da Tunísia, Argélia, Marrocos, entre outros), e com isso, não é só a economia da Europa que poderá ser afetada, mas a economia mundial, já que,vivemos em um mundo globalizado.

Imagem 1





Imagem 2



segunda-feira, 9 de novembro de 2015

A Literatura utilizada como Historiografia

A Obra literária do autor Nicolau Sevcenko, "A Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República, tem como objetivo: utilizar a Literatura como documento que a auxilia a entender as tensões sociais desse período e a posição tomada pelos escritores diante de tais tensões, que era usufruir da Literatura na ação política, social e econômica, denunciando e propondo soluções para mazelas vividas pela sociedade nesse período de intensas transformações de valores na sociedade e na cultura.

Para Sevcenko, dois autores representam a função da Literatura voltada para a ação política e de denúncia dos problemas ocasionados pela nova ordem Republicana: Euclides da Cunha e Lima Barreto, cada um com as suas soluções e particularidades  para as desigualdades sociais no Brasil. Assim, no primeiro capítulo, "A inserção compulsória do Brasil na Belle Époque", Nicolau expõe o contexto político, social e econômico vivido no Brasil da Proclamação da República(15 de novembro, de 1889) até o início da Primeira Guerra Mundial(1914). o Autor, Sevcenko, dividiu o capítulo em três partes: "Rio de Janeiro a Capital do Arrivismo", "A República dos Conselheiros" e "O inferno social". O principal alvo de todas as transformações políticas foi a Capital do País, na época Rio de Janeiro, o que promoveu a desestabilização da República, devido ao Encilhamento, porque desmantelou a Elite Imperial, e consequentemente ascendeu uma burguesia que, continuou garantindo privilégios escalonados dos cafeicultores, e atendendo os interesses de Nações internacionais, fechando assim, os olhos e os ouvidos para a desigualdade social do país.

A Reforma Urbana retirou dos centros comerciais grande parte da população, gerando a Favelização, que aumentou ainda mais com a Crise Cafeeira do Vale do Paraíba, contribuiu para aumentar as fileiras do Exército dos Desocupados que aglomeravam-se em antigos casarões coloniais, que serviam como estopim para constantes manifestações populares. Logo, a explosão demográfica, o desemprego e a falta de moradia com endereço fixo eram tratados com extrema violência policial,  onde Sevcenko nomeou de "Inferno Social".

Parafraseando Nicolau, no segundo capítulo: "Os escritores cidadãos" expõe os objetivos da produção literária com a Geração de 1870, formada pelos "Mosqueteiros literários"(Joaquim Nabuco, Machado de Assis e Capistrano de Abreu), que mesmo sendo abolicionistas e republicanos, ficaram desiludidos com a Proclamação da República que, não possuiu participação popular, com arrivismo (enriquecer a todo custo), luta por interesses particulares e "ausência de oposição política" (hoje temos pluripartidarismo, porém grande parte do eleitorado brasileiro está mostrando ao mundo como não exercer uma democracia) grifos meu.

Assim, como os dias atuais, "os mosqueteiros literários" sofreram com a desvalorização da produção intelectual e com a massificação do "Boom"  das revistas ilustradas, fotografias e cinema, o que fez, a Literatura concorrer com a vulgarização de novas linguagens técnicas. Com isso, a Geração de 1870, segundo Sevcenko, perdeu seu caráter monolítico e passou a ser dividido entre intelectuais de Casaca (burguesia carioca), e os sem Casaca ( boêmios).

Saindo de uma análise mais geral, Nicolau focou sua obra em "Lima Barreto e Euclides da Cunha" para expor que ambos empenhavam-se com ideais políticos e sociais em sua obras, e ao mesmo tempo, se afastavam da vida pública, e ainda abominavam a vida da elite carioca, que desejavam a qualquer custo transformar o Rio de Janeiro em uma Paris, Já que os literários acreditavam que somente valorizando a cultura nacional o Brasil se igualaria as Nações Europeias.

Apesar de tantas semelhanças, as obras de Euclides da Cunha e Lima Barreto se contrapunha nos seguintes elementos: temática, procedimentos literários, gênero e técnicas narrativas. Em que, ciência, raça e civilização eram as ideias que mais divergiam. Sevcenko analisa Euclides da Cunha com um estilo "elevado". Já, Lima Barreto utilizava o "humor" como elemento básico da sua escrita. Assim, Nicolau analisa os autores da seguinte forma: ambos possuíam ideias filosóficas diferentes. Euclides da Cunha era "materialista", e Lima Barreto "idealista". A partir da obra desses autores, Nicolau Sevcenko percebe que a linguagem deles são determinantes para o confronto de temas, como: índio/mulato, São Paulo/Rio de Janeiro-Bahia, imigrante/nativo etc.Com isso, Nicolau valoriza a Literatura na historiografia fazendo daquela ciência um termômetro para medir a mudança de sensibilidade e de mentalidade, em que o autor literário possui de visão sobre o mundo que estiver inserido.