quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O mau governo senhorial e o órgão de intervenção da Corte! (A escravidão nas urbes brasileiras no século XIX)

Ao longo do século XIX, a população escrava do Rio de Janeiro teve um crescimento astronômico, foi possível concluir isto através do número de cativos que viviam no meio urbano em 1849, era de 78.855 escravos, correspondendo a 40% da população; deste número 60% eram africanos. E para manter a ordem pública em uma "cidade negra", a Polícia da Corte precisou entrar em cena para interferir na relação senhor-escravo, e ao mesmo tempo em que a polícia limitava a autonomia escrava, limitava também o poder senhorial; porém devido aos "termos de bem viver", que foram produzidos pela Intendência Geral de Polícia da Corte, foi possível observar uma série de determinação da polícia a fim de orientar ou "repreender" as condutas que aludiram as relações cotidianas entre senhores e escravos. A interferência do Estado e de terceiros podia acontecer com os cativos que se enfureciam contra os seus proprietários, mas também com seus senhores ou com quem os alugavam, devido ao excesso de castigos; ou seja, quando o castigo extrapolava, no entendimento do escravo, estes, nem sempre, mas por intermédio do Estado, pelo menos no Rio de Janeiro, conseguiram ter alguns meios de fazerem seus senhores pagarem por seus maus tratos, ou alguém fazia por eles(terceiros), devido aos "termos de bem viver".

Analisando essa nova possibilidade de intromissão, a crioula Valeriana fez valer suas denuncias requerendo que a polícia interviesse nos castigos que o seu senhor, José da Costa, a fazia sofrer, logo, seu dono fora duramente repreendido pelo poderoso chefe da Intendência de Polícia da Corte, Paulo Fernandes Viana que o ameaçou de prisão. Por conseguinte a escrava Rosa Benguela, deve ter usado o mesmo recurso contra a sua senhora, percebendo essa ponte que oferecia o limite das sevícias(castigos), a cativa foi a Intendência e "requereu" a intervenção do Estado,


"Aos oito dias do mês de junho de mil oitocentos e vinte e um anos, na secretaria da Intendência Geral da Polícia da Cidade do Rio de Janeiro e Reino do Brasil, compareceu, e de ordem do Conselheiro (...) Teresa dos Passos de Jesus, e pelo dito Conselheiro lhe foi determinado que assinasse Termo de não seviciar(castigar) a sua escrava Rosa de Nação Benguela, com a pena de que obrando o contrário será corrigida por esta Intendência. O que tendo ela ouvido assim o prometeu cumprir, e assinou (...)"

Mas quando os escravos não procuravam diretamente a polícia, existia outro modo de alguém interceder por eles, ou seja, a comunidade sancionava o domínio senhorial com base em sevícias(castigos), como aconteceu com os escravos de José Soares de Moraes, segundo Roberto Guedes Ferreira,

Termo que assina José Soares de Moraes.
"Aos dezenove dias do mês de agosto de mil oitocentos e nove anos, na Secretaria da Intendência Geral da Polícia, aparaceu José Soares de Moraes e pelo Conselheiro Intendente Paulo Fernandes Viana foi determinado que devia abster-se de fazer ao seu escravo Joaquim Cassange o procedimento que acabou de praticar por cuja razão foi mandado para o depósito da (ilegível), evitando assim sevícias. Pena de que obrando o contrário ser preso e degradado para fora ao arbítrio desta Intendência e assinou. Eu, Nicolau Veigas de Proença, oficial maior da Secretaria da Intendência, o escrevi e assinei"

Porém, não fica claro quem recorria à polícia, isto é, se eram os cativos, a própria polícia ou terceiros, mas é bem provável que José Moraes foi visto por alguém cometendo sevícias(castigos) em seu escravo, porque logo após os maus tratos, teve de comparecer na Secretaria da Intendência Geral da Polícia, como analisa Roberto Guedes Ferreira. Segundo o autor não eram só castigos excessivos que levavam os senhores a serem repreendidos pela polícia. Havia outro tipo de intervenção no convívio senhor-escravo, o de coagir os proprietários à não romper os laços matrimoniais dos escravos. O vínculo conjugal dos escravo Felisberto com sua esposa sofreu embaraços pelos seus senhores, devido à vontade do seu senhor em vender o cativo. Mas antes de adentrar no caso de Felisberto, devemos nos atentar que a legislação eclesiástica requeria a seguinte lei,

"Os escravos e escravas podem se casar com outras pessoas cativas, ou livres, e seus senhores lhes não podem impedir o Matrimônio, nem o uso dele em tempo e lugar conveniente, nem por este respeito os podem tratar pior, nem vender para outros lugares remotos, para onde  o outro por ser cativo, ou por ter outro justo impedimento, o não possam seguir(...) nem depois de casados os vendam para partes remotas"

Por outro lado a lei não era cumprida na prática pelos senhores, gerando complicações em casamentos de cativos que residiam em casas distintas, como o caso do Felisberto que, segundo o documento, em 17 de novembro de 1808, foi determinado a Antonio José Teixeira Penna seu senhor,

"foi determinado que não devia vender seu escravo Felisberto, pardo, para fora da terra onde o vender, a pessoa que ou compre sua mulher, ou deixe viver com ela, por isso que com escravos casados nada faz assim o desquite, sob pena de que obrando o contrário fica desde logo nula a venda por ordem especial que oralmente deu Sua Alteza Real, o que ouvindo assim o prometeu cumprir é determinado e assinou(...)" 

E mais uma vez, o Estado que, enxergava os cativos como (nosso) em determinados casos, e os terceiros como (seus), se empenharam em proteger os escravos, conter as sevícias dos senhores e manter os laços familiares conseguidos através do casamento, mas para efetivar esses atos, foi preciso intervir na relação do senhor que enxergava seu cativo como (meu). Assim, a Polícia da Corte surge como um órgão mediador entre o senhor-escravo, visando manter a ordem em uma "cidade negra", com isso, o Intendente Paulo Fernandes Viana e o rei, conseguiam evitar que as "pequenas faíscas" se tornassem grandes levantes na cidade do Rio de Janeiro. Por conseguinte o governo dos cativos assumiu dimensões mais amplas, onde muitos senhores para manter os escravos no cativeiro, tiveram que negociar a melhor forma para explorar a mão de obra, devido à dependência econômica direta com seus cativos.


“Todo camburão tem um pouco de navio negreiro (...)
quem segurava com força
a chibata agora usa farda (...)”
O Rappa, Todo camburão tem um pouco de navio negreiro.

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FERREIRA, Roberto Guedes. Autonomia escrava e (des)governo senhorial na cidade do Rio de Janeiro da primeira metade do século XIX.

FLORENTINO, Manolo. (org) Tráfico, cativeiro e liberdade (Rio de Janeiro, século XVII-XIX).

VIDE, Sebastião Monteiro da. Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia. Coimbra: Real Colégio das Artes e da Companhia de Jesus, 1720, livro Primeiro, Título LXXI. 


RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil.






sábado, 26 de novembro de 2016

Cuba antes de Fidel Castro!!!

O século XIX(19) foi marcado pela "Corrida Imperialista" que consistia na busca desenfreada por cada palmo de terra em várias partes do planeta, com o objetivo de conquistar e explorar novos mercados consumidores de produtos excedentes e fornecedores de matéria prima e mão de obra barata,  a fim de garantir vultuosos lucros aos capitalistas promovendo assim a partilha da África, Ásia e Oceania por parte dos países europeus. Por conseguinte, os EUA visando alcançar a hegemonia política e econômica em relação à América Latina estabeleceu a Doutrina Monroe - conhecida pela frase América para os americanos, pregava, entre outros pontos, a proibição de criar novas colônias na América; a não intromissão dos países europeus nas decisões dos americanos e o não envolvimento dos EUA em conflitos relacionados aos países europeus - e instituiu no início do século XX(20) o Big Stick - "Fale com suavidade e tenha na mão um grande porrete” expondo que, para proteger os Estados Unidos, agiria com diplomacia, mas não hesitaria em utilizar sua autoridade, caso fosse necessária, e ainda complementava, proibindo ações na América Latina que não partissem dos Estados Unidos.

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Um exemplo emblemático  da Doutrina Monroe e do Big Stick norte americano no século XIX(19) foi o envio de tropas para livrar Cuba dos domínios espanhóis em 1898. Com isso, para ratificar e perpetuar o intervencionismo dos EUA sobre a América Latina, ou melhor em Cuba, foi assinada em 1901 a Emenda Platt à Constituição Cubana que, em troca da ajuda oferecida ao povo cubano os norte-americanos teriam o direito de intervir no governo de Cuba sempre que considerassem seus interesses ameaçados e ainda, instalariam bases militares na ilha. Com isso, após constantes conflitos políticos entre as classes dominantes cubanas na primeira década de 1900 que sempre contava com a intervenção dos Marines(corpo de fuzileiros navais dos EUA), Geraldo Machado ascendeu ao poder em 1924 transformando a política do seu governo em um conluio de gangsteres, onde sua eleição foi patrocinada pela companhia de eletricidade de propriedade norte-americana. 

A população liderada por uma oposição de estudantes da Universidade de havana organizaram uma greve geral que obrigou o presidente Geraldo Machado deixar Cuba em 1933, substituído por um governo provisório formado por trabalhadores e soldados, que decretou o fim da "Emenda Platt", o direito ao voto para mulher, a jornada de trabalho de 8 horas, o salário mínimo e o direito dos camponeses à terra que cultivavam. Nacionalizou-se a Companhia Elétrica Americana. Em 15 de janeiro de 1934, Fulgêncio Batista, sargento do exército cubano, que tinha participado da "rebelião" contra o corrupto governo de Machado, depôs o governo provisório com o apoio dos EUA extinguiu todos os direitos concedidos pelo governo revolucionário e permaneceu no controle político de Cuba até 1959. Isto fez o movimento revolucionário de estudantes e trabalhadores ficar conhecido como "a revolução frustrada". Assim, a política cubana caracterizava-se pela violência, corrupção, nepotismo e pela continuidade do gangsterismo apoiada por empresários norte-americanos. A população passava fome, nas cidades, morava em cortiços; nas zonas rurais, habitava cabanas de palha. Apenas 28% do povo contava com banheiro dentro de casa, as doenças e altas taxas de mortalidade infantil atentavam contra a vida dos cubanos. O analfabetismo e o emprego temporário prevaleciam nas áreas rurais.

A economia cubana se caracterizava pela monocultura da cana-de-açúcar, grande parte dos latifúndios estavam em mãos americanas e o comércio era quase que exclusivo com os Estados Unidos. Com a evolução da fabricação do açúcar, as centrales (usinas) caíram sob o controle norte-americano. Os camponeses perderam suas terras para os latifúndiários, que depois foram alugadas a colonos (imigrantes norte-americanos) que forneciam canas para as centrales. Os salário dos trabalhadores foram reduzidos e o tempo de desemprego entre as colheitas (tempo morto) estendeu-se por quase nove meses, a miséria era grande: as famílias moravam em cavernas e se alimentavam de raízes. O domínio do capital estrangeiro só aumentava, e dominava o transporte, energia, bancos e serviços públicos. Ao mesmo tempo, os investimentos norte-americanos em turismo e cassinos faziam de Havana a Monte Carlo do Caribe, com aumento do jogo, da prostituição e do crime.

Nos anos de 1940-50, novos investimentos foram feitos em Cuba na mineração e no turismo. Aumentava a dependência dos EUA, e com controle econômico vinha a dependência cultural. A distribuição da renda se tornou ainda mais desigual, com alto nível de desemprego e miséria pelo trabalho sazonal, que empurrava os migrantes rurais para as vilas miseráveis em torno das cidades. Por conseguinte, os protestos realizados pela oposição encontrava prisão, tortura e mortes. Após o fechamento político, devido ao golpe de Batista e o caos econômico e social que assolava a população cubana, em 26 de julho de 1953, o advogado e candidato político Fidel Castro, derrotado pelo golpe liderado pelos Estados Unidos, seu irmão Raul, o jovem pedreiro Juan Almeida, a bacharel Melba Hernandez, o estudante de economia Abel Santamaría, e sua irmã Haydée e 125 outros atacaram o quartel de Moncada em Santiago de Cuba, para controlá-lo e conseguir armas. Mas foram derrotados, e quase 70 revolucionários foram presos, torturados e assassinados. O movimento revolucionário noticiou no panfleto "A História me Absolverá", em defesa de Fidel. Após ser libertado em 1955, exilou-se no México.

Logo, através de pesquisas feitas em várias obras historiográficas com objetivo de expor as informações supracitadas sobre a péssimas condições de vida, em que a população cubana vivia devido ao intervencionismo militar, político, econômico, social e cultural dos EUA que foi e continua sendo omitida por nossas mídias e redes sociais, talvez por medo do Big Stick. Foi possível compreender que desde 1898, negros, afrodescendentes, indígenas, camponeses e pobres cubanos só puderam usufruir da medicina preventiva, da redução drástica de mortes por tuberculose, malária e tifo, da erradicação da poliomielite, da construção de hospitais-escola, de hospitais especializados, de Institutos Médicos providos de equipes de saúde com sólida formação científica e exemplo de medicina para centenas de países no mundo, de clínicas rurais e da brigada de alfabetização por todo o país, de moradias, de saneamento básico e da distribuição de terras para cultivar após dois anos de luta contra o governo golpista de Batista, em primeiro de janeiro de 1959. Ou seja, o dia que os "barbudos - Fidel Castro, Ernesto (Che) Guevara e Camilo Cienfuegos chegaram ao poder político de Cuba. 

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CASTRO, Fidel. A História me absolverá.

____________. Cuba e o Socialismo.

FERNANDES, FLORESTAN. Da guerrilha ao socialismo. A Revolução Cubana.

GUEVARA, Ernesto. A guerra de guerrilhas.

MILLS, C. Wrigth. A verdade sobre Cuba.

SADER, Eder. A revolução cubana.

SARTRE. Jean Paul. Furacão sobre Cuba.

BUENO, Eduardo. As Veias abertas da América Latina.
Filmes:

Diários de Motocicleta

Che

Che 2 - A guerrilha



sexta-feira, 11 de novembro de 2016

O trabalho e o ato de mover-se! (A escravidão nas urbes brasileiras no século XIX)

O trabalho era o traço marcante do escravo nas cidades, por conseguinte era o próprio trabalho que talvez lhe garantisse mais liberdade, devido ao movimento que as ocupações urbanas necessitavam; e segundo o historiador Roberto Guedes Ferreira esta mobilidade não passou despercebido aos olhos de Maria Graham, e o Johann Moritz Rugendas quando estiveram no Brasil, na década de 1820. A primeira ao se deparar com o número de negros livres e escravos na cidade, não enxergou aos olhos nus a "condição servil", a não ser quando aquela passou pelo mercado de cativos, na Rua do Valongo. Já o último destacou que os escravos "gozavam em geral de muita liberdade", pois tinham "o dia inteiro disponível para tratar dos seus negócios".

A maioria das vezes os pequenos escravistas urbanos não perdiam o domínio sobre seus cativos, mas a política de dominação(senhor-escravo), acabava gerando um distanciamento físico em relação a eles. Com isso para executar as múltiplas tarefas - carregadores, vendedores ambulantes, remadores, barqueiros etc. - existentes nas cidades era preciso ter mobilidade. Aludindo a mobilidade dos escravos que foram presos, devido ao levante dos malês na Bahia de 1835, segundo o historiador João José Reis, muitos cativos viviam fora da companhia dos senhores, fazendo o pagamento semanal, como o caso do remador de saveiro Narciso, que morava há muitos anos no Cais Dourado, onde ganhava "o que paga a semana a seu senhor". Assim como o Antônio, que residia em Itaparica há muitos anos. Onde seu curador defendeu a autonomia do escravo como importante para a economia do senhor: "O Réu vive apenas de seu trabalho de ganho, e para obter trabalho permitiu-lhe residir nesta cidade, onde com mais facilidade conseguia o que era útil e proveitoso ao mesmo". Com isso, a atividade ao ganho rendia muito mais lucro aos senhores do Recôncavo Baiano, quando os mesmos enviavam seus escravos para trabalhar em Salvador. Reportando-se à escravidão no Recife na primeira metade do século XIX, Roberto Guedes Ferreira cita, Maria Graham afirmarmou que os pequenos escravistas poderiam não ter controle sobre a execução do trabalho dos cativos: "Muitos, de todas as cores, quando conseguem comprar um negro, descansam, dispensando-se dos demais cuidados. Fazem com que os negros trabalhem ou esmolem para eles, assim, desde que possam comer seu pão tranquilamente, pouco se importam em saber como o dinheiro foi obtido". Por conseguinte, muitas pessoas nos bairros da cidade do Rio de Janeiro, tanta brancas quanto negras, possuíam um único escravo que, pela manhã saía em busca de trabalho e a noite retornava, devido as atividades econômicas essenciais para a manutenção das cidades, como o comércio, o transporte, a indústria, entre várias outras que exigiam um deslocamento constante dos escravos, como carregadores, carpinteiros, pedreiros, sapateiros, alfaiates, carreiros, carroceiros, pescadores, barqueiros, caçadores, tigres etc. As ocupações abordadas até aqui foram exercidas, em grande parte por homens, exceto o comércio de vendedores ambulantes, em que ambos os sexos trabalhavam. Ou seja, mulheres e homens. Aludindo a Praça do Comércio, cozinheiras vendedoras, preparavam as apetitosas carnes secas debaixo de sujas barracas de lonas, onde aglomeravam muitos escravos para degustar. Até as escrava domésticas saíam às ruas antes ou depois de executarem suas tarefas de porta adentro dos lares, porque em determinadas ocasiões às negras se ocupavam até as dez horas da manhã com a venda de pão de ló, e em seguida retornavam para casa do senhor, preparando assim a refeição principal do dia, e depois voltavam às ruas a partir das duas horas da tarde, para assim retroceder as dezoito horas. (imagens: escravidão urbana)

A questão do governo dos escravos nas cidades assumiu particularidades entre elas, no Rio de Janeiro, durante a primeira metade do século XIX, a necessidade do movimento constante para realização das tarefas propiciava uma mobilidade mais ampla aos cativos urbanos, independente do tamanho da escravaria em que fizesse parte, porém muitos escravos moravam com seus senhores. Em Salvador, devido à greve que os escravos participaram em 1857, o historiador João José Reis e Roberto Guedes Ferreira, analisaram que "disciplinar o trabalhador africano, sobre tudo na cidade, era uma tarefa ingrata", porque para fornecer algum tipo de rendimento aos senhores, os escravos precisavam de liberdade e de mobilidade para realizar suas atividades. Já, o historiador Marcus Carvalho reportando-se a escravidão no Recife na primeira metade do século XIX, "a luta pelo direito do próprio trabalho passava assim pela conquista de um outro direito: o de ir e vir (...) os canoeiros do Recife tinham mais autonomia que muita gente livre". Mesmo com todo impedimento a liberdade, o comércio e o setor de serviços urbanos empregavam um número alto de escravos em atividades que exigiam a mobilidade do trabalho. Com isso, a grande tarefa de definir os espaços de autonomia dos cativos gerou vários embates, se por um lado o trabalho escravo era crucial para o senhor adquirir rendas, por outro, os cativos enxergavam na labuta uma forma de obter maiores espaços de liberdade e de socialização, mas embora desfrutassem de movimento e liberdade, a vigilância sobre os escravos não era exclusividade senhorial na cidades brasileiras, mas também da Polícia da Corte, porém os cativos usavam de vários expedientes para ampliar seus espaços de autonomia, inclusive o de recorrer a própria Polícia para conter os maus tratos e as crueldades dos seus senhores.

"Eu sou guerreiro, sou trabalhador(...)
(...) Espero estar bem longe 
Quando o rodo passar "

O Rappa. Lado A - Lado B 

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GRAHAM, Maria. Diário de uma viagem ao Brasil.

RUGENDAS, Johann Moritz. Viagem pitoresca através do Brasil.

FLORENTINO, Manolo. Tráfico, Cativeiro e liberdade (Rio de Janeiro, séculos XVII-XIX).

REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835.

CHALHOUB, Sidney. Visões da liberdade: uma história do levante dos malês em 1835.

CARVALHO, Marcus. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo no Recife, 1822-1850.

KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850)








quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Curiosidades após a vitória de Donald Trump!!!

Após elaborar o plano de aula sobre o Golpe civil-militar de 1964, que ocorreu no Brasil e expor no quadro branco os seguintes objetivos: analisar o Golpe de 64; conceituar a relação entre Guerrilheiros x Militares; contextualizar os anos de chumbo; comentar sobre o Festival de MPB(Música Popular Brasileira) entre outros. Surgiram inúmeras perguntas: professor por que tem um burro e um elefante como símbolo dos partidos políticos norte-americanos?; Qual é a diferença entre Democratas e Republicanos?; Professor por que nos comícios do Trump não tinha negros como nos da Hillary?; Professor a vitória de Trump vai prejudicar o Brasil em alguma coisa?; O senhor votaria em quem? e etc... Assim, após se deparar com os questionamentos supracitados, e obrigado a respondê-los devido ao ensurdecedor debate iniciado em sala de aula, em que o mesmo tornou os objetivos propostos sobre o Golpe civil-militar de 1964 coadjuvantes, foi citada possíveis respostas de acordo com a ordem das respectivas curiosidades levantadas pelos alunos.

Professor por que tem um burro e um elefante como símbolo dos partidos políticos norte-americanos?
Na campanha eleitoral da década de 1820 nos EUA, o candidato do partido político "Democrata" Andrew Jackson era constantemente ofendido pelos seus opositores como "Asno". Ou seja, a palavra jackass além de ter alguma semelhança com o sobrenome "Jackson" tem o significado de imbecil, idiota, burro. Porém, Andrew adotou o animal para sua campanha eleitoral e começou a ressaltar as qualidades do burro: obstinação, resistência, humildade e coragem. Assim, Andrew Jackson tornou-se presidente dos EUA entre 1829 e 1837. Mas o Partido Político Democrata norte-americano não assumiu até os dias atuais o "burro" como símbolo oficial. 


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A jogada política que a oposição americana adotou para denegrir a imagem do ex-presidente Andrew Jackson, pode ser entendida da mesma forma que os torcedores dos clubes de futebol brasileiros classificam seus rivais, por exemplo o "urubu" representa o Flamengo; o "porco", o Palmeiras; o "gamba", o Corinthians; o "galo", o Atlético Mineiro; entre outros. Por conseguinte, os torcedores dos times citados adotaram os respectivos animais como mascotes, como os fanáticos torcedores do Clube de futebol Boca Juniors, da Argentina em que, os mesmos se chamam de bosteros, ou seja, de bosta. Entretanto, o Partido Político Republicano adotou o elefante como símbolo oficial. O animal surgiu nos anos de 1870, criado pelo Cartunista Thomas Nast, em que o mesmo, desenhou várias vezes o "burro" para representar o Partido Democrata. Sobre a escolha do paquiderme como símbolo dos Republicanos é incerta, mas para Nast, o elefante representava a força e a grandiosidade do partido, porém descuidado e atrapalhado diante de uma situação de pânico.


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Qual é a diferença entre Democratas e Republicanos?
O Partido Político Republicano, conhecido também pela sigla GOP que significa Grand Old Party(Grande Partido Antigo) oriundo do Partido Federalista importante nos anos posteriores a independência(4 de julho de 1776) dos EUA é mais próximo dos meios financeiros e de negócios, profissionais liberais, empreendedores, banqueiros, latifundiários e também das correntes religiosas protestantes maioritárias no país; são contrários ao casamento gay, eutanásia, liberação das drogas e programas sociais, partido do candidato recém eleito presidente Donald Trump. Já o Partido Democrata derivou do Partido Republicano Jeffersoniano, que foi estruturado no fim do século XVIII. Nos dias atuais, o Partido Democrata costuma ser tradicionalmente apoiado pelos trabalhadores, sindicados, assalariados, pela maioria das profissões intelectuais (professores, jornalistas, artistas) e por algumas minorias étnicas (afro-americanos, hispânicos) e religiosas (católicos, judeus), partido do Presidente Barack Obama.

Professor por que nos comícios de Trump não tinha negros como nos da Hillary?
Acredita-se que a ausência de afro-descendentes nos comícios de Trump tenha ocorrido pelas características supracitadas do partido político em que o mesmo concorreu a Presidência dos EUA, o Partido Republicano, e por inúmeras vezes o candidato recém eleito adotar discursos anti-imigrantes(principalmente muçulmanos), desvaloriza o movimento Black Life Matters ("Vidas negras importam") contra o abuso policial, machista(mulheres devem ser julgadas pela aparência), adepto a torturas, desinteresse na manutenção de acordos e tratados comerciais e ambientais, interesse em implantar um isolacionismo político e econômico, construção de um muro entre EUA e México(os mexicanos devem pagar o custo da construção), valorização de mão-de-obra branca desqualificada e de instrução limitada. Ou seja, Trump adotou um discurso radical, se tudo isso foi marketing de campanha política apenas o tempo dirá!!! Logo, as minorias étnicas(afro-americanos, hispânicos), intelectuais, personalidades do esporte e da música sentiram-se inclinados a comparecer aos comícios da candidata Hillary Clinton do Partido Democrata. 

Professor a vitória de Trump vai prejudicar o Brasil em alguma coisa?

O Brasil e os EUA além de serem parceiros comerciais, são aliados desde a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Getúlio Vargas era um habilidoso político, mesmo demonstrando ser a favor ao "regime nazista", ele preservava as relações políticas com o governo norte-americano. Dada a eclosão da guerra, o posicionamento neutro de Vargas logo se tornou insustentável. Assim, após receber um empréstimo de 20 milhões de dólares dos EUA e ter navios brasileiros afundados pelos alemães, o Brasil aderiu ao bloco dos países aliados, o mesmo que os norte-americanos faziam parte. Recentemente, os militares brasileiros junto com boa parte da classe média, na década de 1970, contou com a ajuda dos EUA na Operação Condor, formalizada em reunião secreta realizada em Santiago do Chile no final de outubro de 1975, é o nome que foi dado à aliança entre as ditaduras instaladas nos países do Cone Sul na década de 1970 — Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai — para a realização de atividades coordenadas, de forma clandestina e à margem da lei, com o objetivo de vigiar, sequestrar, torturar, assassinar e fazer desaparecer militantes políticos que faziam oposição, armada ou não, aos regimes militares da região. Com isso, baseando-se nesse espetacular histórico de amizade e alianças entre EUA e Brasil, acredita-se que continuaremos sofrendo influência social, política e econômica como sempre ocorreu desde a Guerra Fria(1945-1991) até os dias atuais.

O senhor votaria em quem?

Eu, votaria na Hillary!!!

Por que professor?

Não posso responder essa pergunta, porque segundo Projeto de Lei 193/2016 "Programa Escola sem Partido" apresentado pelo Senador Magno Malta ao Senado, com o objetivo de inclui-la na Lei 9.394/1996, conhecida vulgarmente por LDB(Lei de Diretrizes e Bases). Em que, o Art. 5º, inciso I do Projeto de Lei supracitado que trata sobre a participação dos professores em sala de aula, destaca o seguinte meus alunos:

Art. 5º  No exercício de suas funções, o professor:

I - não se aproveitará da audiência cativa dos alunos, para promover os seus próprios interesses, opiniões, concepções ou preferências ideológicas, religiosas, morais, políticas e partidárias;

Com isso, após seguir a cartilha da "Escola sem Partido" e fazer a experiência de como seria uma aula sobre política na prática, fui homenageado com várias expressões interessantes, como: coé professor, fala aí!!!;  Ahhh o Senhor vai respeitar essa parada de Escola sem Partido??? Nada haver professor, fala sério!!! Pô, custa nada professor!!! Ahhh cheio de vacilação!!!





Fonte:


KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luis Estevam; MORAIS, Marcus Vinicius de; PURDY, Sean. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI(21).

BUENO, Eduardo. As Veias Abertas da América Latina.

TULCHIN, Joseph S. América Latina X Estados Unidos: uma relação turbulenta.

FAUSTO, Boris. História Concisa do Brasil.

FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas: o poder e sorriso

Projeto de Lei 193/2016 "Programa Escola sem Partido" apresentado pelo Senador Magno Malta


http: www.cnv.gov.br (site - Comissão Nacional da Verdade)

Filmografia: Batismo de Sangue, Cabra Cega, Hércules 56


Iconografia: Thomas Nast.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

As Eleições e o perpétuo Voto de Cabresto!

As eleições políticas marcam o fim do período onde os políticos que desejam se eleger ou reeleger deixam de observar a população através de suas lentes microscópicas, para surpreendentemente iniciarem uma dificultosa caminhada em direção aqueles sufragistas marginais(pessoas que vivem a margem do poder público) que estão sempre a espera de novas promessas e repletos de esperança de que, a partir de cada nova eleição seus interesses(saúde, educação, segurança, emprego, entre outros) finalmente serão atendidos. Por conseguinte, para serem bem recebidos nessas regiões que estão sempre a margem do Estado(governo), os candidatos políticos utilizam suas verbas partidárias, doações de empresários, banqueiros e latifundiários, para por em prática uma medida muito bem utilizada pela Oligarquia(governo de poucos) Cafeeira paulista e mineira que dominou a política brasileira de 1894 até 1930, conhecida como o Clientelismo{prática de certos políticos que consiste em privilegiar uma clientela - conjunto de indivíduos dependentes das necessidades mais básicas - em troca de seus votos; troca de favores entre quem detém o poder(Coronel) e quem vota(camponeses)} através do "Voto de Cabresto"

Os coronéis (proprietário rural), título herdado desde a criação da Guarda Nacional, em 1831, no período Regencial. De acordo com os seus mandonismos por encarnarem a elite latifundiária, através do "coronelismo", controlavam os meios de produção, detinham o poder econômico, social e político local. Assim utilizavam o "Voto de Cabresto", que consistia no controle de poder político por meio do abuso de autoridade, compra de votos ou utilização da máquina pública para favorecimento pessoal ou de simpatizantes políticos. Entretanto, visando corroborar o exposto supracitado, o texto Vila dos Confins, de Mário Palmério, expõe como funcionava o "Voto de Cabresto":
"Cabo de enxada engrossa as mãos - o laço de couro cru, machado e foice também. Caneta e lápis são ferramentas muito delicadas. A lida é outra: labuta pesada, de sol a sol, nos campos e nos currais (...) Ler o quê? Escrever o quê? Mas agora é preciso: a eleição vem aí e o alistamento rende a estima do patrão, a gente vira pessoa." 

Como uma prática do fim do século 19 e da primeira metade do 20, pode funcionar em pleno século 21, o século da tecnologia? Nos dias atuais, o "Voto de Cabresto" ganha força nas áreas carentes(imagem 1 - Bairro Jardim Gramacho-RJ) e no desinteresse da população em não querer estudar e entender a política, e por ser um assunto relativamente enfadonho, os eleitores não procuram saber quais são as competências dos respectivos cargos políticos no período eleitoral. Isto faz com que, os candidatos se aproveitem das necessidades mais básicas ou da fé dos mais variados tipos de votantes para angariarem votos(oferecem subempregos - imagem 2). Por conseguinte, estreitam a relação candidatos/eleitores neste curto período de candidatura com o único objetivo, o de defenderem seus próprios interesses através da imposição do "Voto de Cabresto", fazendo a população esquecer as propostas, as ofertas, as policitações que realmente são de extrema necessidade. Como ocorreu com os oferecimentos prometidos ao senhor Jesus do Nascimento, que por viver em situação de morador de rua, ofertou seu voto em troca de moradia! Logo, o candidato a vereador, sabendo que não é de sua competência política tal compromisso, firmou o pacto assim mesmo, através de sua assinatura e da digital do polegar do senhor Jesus(analfabeto) visando apenas o seu interesse. Ou seja, o voto e ser eleito! Mas, como a promessa política e o não cumprimento da mesma faz parte da candidatura da maioria dos políticos, o senhor Jesus do Nascimento, assistido pelo projeto Pão e Algo Mais, um dos muitos trabalhos sociais desenvolvido pelo Instituto Casa Viva, continua em situação de morador de rua. (imagem 3)

Por mais triste que seja este "drama político" promovido pelas eleições que ocorrem de quatro em quatro anos na relação candidato/eleitor, em que, a democracia(poder do povo/soberania popular) e os direitos políticos são violentamente desrespeitados. Isto não é uma exclusividade das elites urbanas e rurais dos séculos 19, 20 e 21, e sim um comportamento comum de quem sempre desejou o poder, como a aristocracia que concentrava o domínio das terras e o poder político da Grécia desde os anos 700-400 a.C. em suas mãos. Na democracia grega, comerciantes, joalheiros, pescadores entre outras profissões, eram chamados "iguais" e faziam parte da Assembleia de cidadãos para decidir sobre a vida política da cidade respeitando a hierarquia entre os mais velhos e os jovens. Porém, a democracia ateniense, chamava mulheres, escravos e estrangeiros de "diferentes". Com isso, não podiam participar de decisões políticas, deixando quase 90% da população a margem do poder público, e expondo que a democracia que fascinou e serviu de inspiração para o mundo Ocidental, e que, até hoje serve de fontes de estudo, atendia apenas os interesses e as influências dos mais ricos da Grécia. Assim como no Império Romano, que possuía uma população dividida entre Patrícios(controlavam a política romana, eram nobres, proprietários de terras e pecuaristas), Plebeus(não gozavam de direitos políticos, não poderiam se casar com membros das famílias dos Patrícios,  eram artesãos, comerciantes, agricultores e pastores), Clientes(não possuíam direitos políticos por serem ex-escravos ou filhos de escravos que nasciam livres) e Escravos(eram Plebeus endividados ou prisioneiro de guerras, não participavam da política romana). Logo, os Patrícios dominavam a política e governavam tudo em proveito próprio, deixando para a plebe(população) apenas a responsabilidade de pagar os impostos em Roma.

O "Voto" representa o poder de escolha do eleitor para eleger aquele candidato responsável a representá-lo na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa Estadual, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal e no Congresso Nacional, exercendo assim a Democracia. Porém, parece que os candidatos políticos eleitos, escolhidos pelo voto direto, esquecem de suas respectivas responsabilidades e atribuições, e constantemente, de quatro em quatro anos, ignoram o verdadeiro significado da palavra Democracia(poder do povo) e adotam a Oligarquia(poder de poucos) como os políticos Cafeicultores Paulistas e Mineiros que controlaram a política na República Velha no Brasil(1894-1930), ou como os Aristocratas Gregos dos anos 700 a.C., ou ainda, como os Patrícios Romanos nos anos 500 a.C., onde o objetivo comum de todos esses políticos era governar em proveito próprio e daqueles que flertavam visando atender os seus interesses, deixando assim, a população marginalizada em relação ao poder público.


(imagem 1)













(imagem 2)





















(imagem 3)










#Elucidário sobre as atribuições dos cargos políticos:

#Vereador - tem a função de discutir as questões locais e fiscalizar o ato do Executivo Municipal (Prefeito) com relação à administração e gastos do orçamento. Eles devem trabalhar em função da melhoria da qualidade de vida da população, elaborando leis, recebendo o povo, atendendo às reivindicações, desempenhando a função de mediador entre os habitantes e o prefeito.

#Deputado Estadual - Sua função principal no exercício do cargo é legislar, propor, emendar, alterar e revogar leis estaduais. Além de fiscalizar as contas do governo estadual, criar Comissões Parlamentares de Inquérito(CPI) e outras atribuições referentes ao cargo.

#Deputado Federal - A principal função desse cargo é a elaboração de leis. Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil, outras importantes atribuições dos deputados federais são:- Elaborar seu regimento interno; Fiscalizar os atos do Poder Executivo; Autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado; Proceder à tomada de contas do Presidente da República, quando não apresentadas ao Congresso Nacional dentro de sessenta dias após a abertura da sessão legislativa; Eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

#Senador - Elaborar seu regimento interno; Processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, Membros do Conselho de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, Procurador-Geral da República, Advogado Geral da União, Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; Aprovar a escolha de: Ministros do Tribunal de Contas indicados pelo Presidente da República; Presidentes e Diretores do Banco Central; Governador de Território; Procurador-Geral da República; Titulares de outros cargos que a lei determina; Autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; Fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; Aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato.

#Prefeito - A elaboração de políticas públicas para saúde, educação, habitação, entre outros fatores pertinentes ao bem-estar e qualidade de vida dos municípios. Como representante do poder executivo, é o prefeito quem encabeça a administração da cidade, empreendendo a gestão da coisa pública, do controle do erário ao planejamento e concretização de obras, sejam elas em termos de construção civil ou da área social. Logo, pode parecer redundante, mas é preciso frisar a ideia de que o poder executivo é de fato aquele quem executa, coloca em prática um conjunto de intenções do governo, realiza determinada obra, projeto, programa ou política pública. Além disso, cabe ao prefeito não apenas sancionar as leis aprovadas em votação pela câmara, mas tanto vetar quanto elaborar propostas de leis quando achar necessário.


#Governador - tem autonomia para organizar um secretariado que trata das mais variadas questões de seu Estado. Assim como um presidente da República, ele tem autonomia para tomar diversas decisões e oferecer projetos de lei estaduais, desde que esses não firam os princípios postulados pela Constituição Federal. Caso não administre bem as finanças de seu Estado, o governador pode ser julgado por crime de improbidade. Em termos práticos, a ação governamental estabelece um processo de descentralização do poder político capaz de acelerar várias questões políticas, econômicas e sociais de âmbito regional e local. Apesar de sua utilidade, o exercício do cargo de governador pode estabelecer situações de conflito político, quando o mesmo não segue ou concorda com as diretrizes do governo central. De tal modo, o governador deve ser hábil no equilíbrio entre as demandas de seu Estado e as exigências da federação.



#Presidente - exerce a função de chefe do poder Executivo e também de chefe de Estado (autoridade máxima) em uma nação cujo sistema de governo é o presidencialismo; como também as seguintes funções: Nomear e exonerar os Ministros de Estado; Conduzir a política econômica; Exercer, com o auxílio dos Ministros de Estado, a direção da administração federal; Editar medidas provisórias com força de lei em caráter de urgência; Aplicar as leis aprovadas; Vetar projetos de lei, total ou parcialmente; Manter relações com Estados estrangeiros e indicar seus representantes diplomáticos; Decretar o estado de defesa e o estado de sítio; Decretar e executar a intervenção federal; Exercer comando supremo das Forças Armadas, nomear Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhe são privativos; Declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, quando autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele; Enviar ao Congresso Nacional o plano plurianual, o projeto de lei de diretrizes orçamentárias e as propostas previstas nesta Constituição; Exercer outras atribuições previstas na Constituição da República Federativa do Brasil.



Fotografias: Ricardo Ferreira

Instagram: Fotografia Ricardo Ferreira

PALMÉRIO, Mário de. Vila dos Confins (texto).

www.institutocasaviva.org.br

FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil.

CARVALHO, José Murilo. Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi.

CARVALHO, José Murilo. A formação das almas.


segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Setembro Amarelo, Banzo e Auto-imolação!

Setembro Amarelo é uma campanha sobre a prevenção do suicídio para alertar a população brasileira e mundial sobre o assunto de extrema importância. As manifestações de conscientização ocorrem no dia 10 de setembro, desde 2014, através da exposição da cor "amarelo" em espaços públicos e privados. Doenças como câncer e a AIDS, há duas ou três décadas as pessoas não gostavam de proferir seus nomes. Ou seja, eram verdadeiros tabus. Logo, os governantes e a população presenciou o número de vítimas aumentar significativamente. Com isso, foi preciso um empenho coletivo de personalidades e organizações para tornar essas doenças algo comum através de campanhas de prevenção para reverter o triste quadro.(imagem 1)

O suicídio é problema de saúde pública, mas é um assunto que enfrenta os mesmos tabus do câncer e da AIDS, pois as autoridades políticas e médicas atuais não estão atentos a este mal e segundo os números do site www.setembroamarelo.org.br, 32 brasileiros cometem suicídio por dia, taxa superior às vítimas da AIDS e da maioria dos tipos de câncer. Por conseguinte, o suicídio é um mal silencioso, as pessoas não conversam sobre o assunto e, por medo ou desconhecimento, não percebem os sinais de que uma pessoa próxima está com ideias suicidas. Mas há uma esperança de mudança nesse cenário. Pois, segundo a Organização Mundial da Saúde, 9 em cada 10 casos podem ser prevenidos. Logo, é necessário a pessoa buscar ajuda e quem está à sua volta ter a perspicácia de notar determinados comportamentos que podem levar ao suicídio.

Porém, infelizmente este assunto não pode ser tratado como uma novidade pela sociedade brasileira, pois desde a introdução do trabalho escravo no Brasil o suicídio conhecido na época como “banzo” se tornou mais uma das várias formas de resistência utilizadas pelos escravos contra à escravidão ao rompimento dos laços matrimoniais e familiares promovidos na diáspora. Logo, para corroborar que o banzo - suicídio - estava super presente na sociedade escravagista brasileira, leia O assunto publicado pelo Jornal do Commercio, na cidade do Rio de Janeiro, em 22 de junho de 1872 "Apareceu ontem enforcado com um baraço [corda de fios de linho], dentro de um alçapão, na casa da rua da Alfândega, nº 376, sobrado, o preto Dionysio, escravo de D. Olimpya Theodora de Souza, moradora na mesma casa. O infeliz preto, querendo sem dúvida apressar a morte, fizera com uma thesoura pequenos ferimentos no braço ...” O termo "banzo", há tempos, era tratado como uma doença. Em 1799, Luiz António de Oliveira Mendes apresentou, na Academia Real de Ciências de Lisboa, um estudo sobre “as doenças agudas e crônicas que frequentemente acometem os pretos recém-tirados da África”. O banzo estava entre elas. Os sintomas eram? Os escravos ficavam entristecidos, paravam de falar e, deixavam de se alimentar, mesmo “oferecendo-se-lhes” – afirma o médico – “as melhores comidas, assim do nosso trato e costume, como as do seu país...”, falecendo pouco tempo depois.

No século XIX(19), as primeiras teorias psicológicas, sobre o comportamento dos escravos vítimas de "banzo" foi reconhecido como distúrbio mental. Como descreveu, em 1844, Joaquim Manoel de Macedo, na tese médica intitulada Considerações Sobre a Nostalgia, afirma o seguinte: “[...] estamos convencidos de que a espantosa mortandade que entre nós se observa nos africanos, principalmente nos recém-chegados, bem como de que o número de suicídios que entre eles se conta, tem seu tanto de dívida a nostalgia [...]”. Os escravos geralmente usavam esta palavra quando sentiam saudades ou falta muito dolorosa de seu lugar de origem(África) ou de uma pessoa em especial, muitos morriam de banzo, ou melhor, durante o período do banzoCom o passar dos anos, a assimilação entre nostalgia e banzo se tornou corriqueira. Com isso, segundo o Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de 1875, de Joaquim de Macedo Soares, é possível ler a seguinte definição: “banzar: estar pensativo sobre qualquer caso; triste sem saber de quê; tristeza e apatia simultânea; sofrer de nostalgia, como os negros da Costa quando vinham para cá, e ainda depois de cá estarem”.
Logo, o que mais foi noticiado pelo Jornal do Commercio no século XIX(19), foram ocorrências de suicídio associadas a doença mental. Ou seja, ocorrências de mortes voluntárias associadas a delírios: “Valentim, escravo de Faria & Miranda, estabelecidos na rua dos Lázaros nº 26, sofria há dias violenta febre, e era tratado pelo Dr. Antonio Rodrigues de Oliveira. Anteontem [20 de maio de 1872], às 9 horas da noite, ao que parece, em um acesso mais forte, Valentim feriu-se com um golpe no pescoço”. Outras vezes se reconhecia explicitamente a loucura: “Suicidou-se ontem [8 de março de 1872] à 1 hora da tarde, enforcando-se, a preta africana Justina, de 50 anos, escrava de Narciso da Silva Galharno. O Sr. 2º Delegado tomou conhecimento do fato e procedeu a corpo delito. Consta que a preta sofria de alienação mental”. 

Nos dias atuais, a palavra “nostalgia”, difundida na literatura, é sinônimo de “saudade”, um sentimento. Este rótulo – assim como o de banzo – provavelmente escondeu uma variedade de problemas psicológicos ou psiquiátricos, que poderia ser desde depressão à esquizofrenia; ou poderia ser questões provocadas pela desnutrição devido à diáspora, por doenças contagiosas, ou por consumo excessivo de álcool e drogas – como a maconha, apreciada por muitos escravos, que a chamavam de “pango”, em que muitos cativos eram obrigados a utilizar máscara de flandres(imagem 2); ou pela compra excessiva de joias por parte dos escravos domésticos que viviam nas urbes brasileiras. Já que, comprar a alforria não era algo tão permissivo dentro da escravidão. Assim, o que se deu foi a disseminação de forma errônea das autoridades políticas, médicas e letradas da época sobre o "suicídio" a fim de escamotear o verdadeiro problema que assolava os negros africanos escravizados, servindo também como camuflagem para os constantes assassinatos cometidos na relação senhor-escravo dentro da penosa vida no cativeiro das urbes e das zonas rurais do Brasil. 

Assim como os negros africanos sofriam com a escravidão e utilizavam o suicídio como uma forma de resistência, isto não fora diferente com as populações indígenas, em que estas são afetadas até hoje, como relata o site www.jovensindigenas.org.br, e a Escola Nacional de Saúde Pública/FioCruz. que devido a "hipótese do recuo impossível" os indígenas não tem mais como recuar diante do avanço cultural, político, religioso, tecnológico e econômico da sociedade Ocidental(nós), não existem mais florestas em que o índio possa se esconder e se proteger dos tentáculos capitalistas. Por  exemplo, a aldeia dos Guarani-Kaiwá encontra-se no perímetro urbano de Dourados(MS), isto faz com que, a inserção ocupacional e social dos jovens indígenas seja extremamente dificultosa, restando aos mesmos a prostituição e o subemprego, em que, ainda são obrigados a assistirem a destruição da cultura indígena dia após dia. Logo, a auto-imolação foi a saída encontrada para a sobrevivência de suas culturas. Com isso, o fato de 6 jovens  Kaiwá terem-se eforcado num curto período de duas semanas, e no ano de 1987 até agosto de 1991 a imprensa local ter noticiado 55 suicídios entre os jovens indígenas de 12 a 20 anos de idade. Isto foi o suficiente para alertar a existência de uma epidemia de suicídios e chamar atenção das autoridades políticas e médicas locais. Mas os números de vítimas pode está subestimado, não é comum na cultura indígena falar sobre esse assunto, acredita-se que o número de suicídio esteja em constante ebulição, já que,  os indígenas continuam privados de suas atividades econômicas(caça, pesca e agricultura de subsistência) e ainda possuem um paredão com cerca de 20 milhões de anos  de cultura intransponível  para que, possam ter uma inserção mínima em qualquer área produtiva do mercado de trabalho capitalista consumista. Por conseguinte, os pesquisadores tem de se contentar com números incertos publicados pela imprensa preconceituosa, parcial, local e leiga para continuar analisando sobre mais esse tipo(suicídio) de crueldade vivenciada pelas populações indígenas do Brasil. (imagem 3)




(imagem 1)
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(Imagem 2) 
Máscara de Flandres - tinha o objetivo de impedir que os escravos ingerissem alimentos, entorpecentes, bebidas alcoólicas ou terra.
Resultado de imagem para mascara de ferro escravos


(imagem 3)

















Fonte: 



KARASCH, Mary C. A vida dos escravos no Rio de Janeiro (1808-1850).

CHALHOUB, Sidney. Visões de liberdade: uma história das últimas décadas da escravidão na corte.

CARVALHO, Marcus. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo no Recife, 1822-1850.


BERLIN, I. N. Suicid among American Indian Adolescents

HERNANDEZ, T. J. M. Estudo do Perfil da Malária em Comunidades Yanomámi da Região Amôzanica (tese de Mestrado)

GRUMBER, G. Por que os Guaraní-Kaiwá estão se matando?


Filme: Quanto vale ou é por quilo?

www.jovensindigenas.org.br

www.setembroamarelo.org.br

Revista: Aventuras na História para viajar no tempo.

Escola Nacional de Saúde Pública FioCruz