quinta-feira, 28 de setembro de 2017

É preciso ter raça de ter fé na vida, Maria!!!

A falta de segurança oferece aos políticos oportunistas um ambiente favorável para invocar o ódio. Com isso, o coronel Antonio Hamilton Mourão, por defender uma intervenção militar num depoimento sobre a atual conjuntura política, econômica e social do Brasil, se transformou no personagem principal de um debate fictício sobre o retorno ou não da Ditadura Civil-Militar, nos moldes daquela existente nos anos de 1964-1985. 

Por conseguinte, deixando de lado o mitológico debate supracitado promovido pelo sentimento nostálgico presente numa parte da sociedade, que se apropria das redes sociais para incitar uma visão maniqueísta sobre a Ditadura Civil-Militar. Foi selecionado depoimentos verídicos sobre a forma de tratamento ofertado pelos agentes do DOI-CODIs ou DOPS aos militantes que não se sentiam confortáveis com o governo militar. O objetivo do texto é trazer a superfície do tempo presente, uma gota do oceano de torturas e assassinatos realizados pelos governos militares em comum acordo com o governo dos Estados Unidos e suas agências (CIA) através da Operação Condor. Não há uma estimativa de quantas militantes eram mães ou foram sequestradas grávidas. Mas houve militantes políticas, mães e/ou grávidas que foram sequestradas, torturadas, bem como crianças que também sofreram os efeitos perversos da repressão política.

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Entretanto, antes de citar os depoimentos é preciso passear nos trilhos da História para entender como a prática da tortura iniciou. A sevícia começou ser amplamente usada para conseguir confissões dos militantes envolvidos em ações contra o governo militar. Com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), as mídias impressas passaram a ser mais censuradas e com a falta de divulgação da violência, as torturas se tornaram tão violentas, que o preso não desejava mais viver, transformando o suicídio num ato corriqueiro da época, que os militares se apropriaram da onda de suicídios noticiada pelos jornais para justificar os assassinatos de prisioneiros nos quartéis e presídios. Porém, o leitor pode questionar o texto dizendo: por que nenhum militar foi preso por cometer esse tipo de crime, como ocorreu no Chile? Porque em 1979, o Congresso Nacional aprovou a Lei de Anistia, e assim os envolvidos em crimes políticos seriam perdoados pela justiça brasileira, inclusive os torturadores. Acredita-se que a Lei de Anistia seja responsável pelo esquecimento desse período de trevas na História do Brasil, ao ponto de transformar a tortura em algo necessário para se manter a ordem na época.

Órfãs do Sistema:

Soledad Viedma Barret (1945 – 1973) foi assassinada durante o episódio conhecido como Massacre da Chácara São Bento, em Recife (PE). Suspeita-se de que estivesse grávida na ocasião de sua morte. Mas ela teve uma filha antes, Ñasaindy, que na época estava com um ano e oito meses. A filha de Soledad não conheceu a mãe ou não se lembra, por conta da pouca idade. Mais, igualmente não conheceu o pai, José Maria Ferreira de Araujo, assassinado (e desaparecido) no DOI-CODI/SP, em 23 de setembro de 1970. Vanúsia, nascida na clandestinidade, em 27 de agosto de 1969, filha de Ranúsia Alves Rodrigues (1945–1973) , guerrilheira, presa, torturada e assassinada, cujos restos mortais nunca foram entregues a seus parentes. Vanúsia foi criada por duas mulheres que moravam na comunidade da Mangueira, na cidade de Recife (PE). Somente aos 23 anos viu uma foto da mãe, publicada no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos.

Altamente perigosos:

O caso dos meninos criados pela “tia” Tercina Dias de Oliveira, militante do movimento guerrilheiro na área do Vale da Ribeira (SP): Ernesto Carlos Nascimento (nascido em 1968), aos 2 anos de idade foi preso, em 1970, pelos agentes do DOPS, em São Paulo; Zuleide Aparecida do Nascimento (nascida em 1965) estava com 4 anos e 10 meses; Luis Carlos Max do Nascimento, irmão de Zuleide, nascido em 1963, com 6 anos e 7 meses de idade; e Samuel Dias de Oliveira tinha quase 9 anos. Todos foram banidos do Brasil sob alegação de que eram elementos perigosos e inimigos do Estado.

A tortura é para todos:

Gino Ghilardini, na época, com 8 anos de idade, filho de Luis Ghilardini (1920–1973), comunista assassinado sob torturas no DOI-CODI/RJ, foi preso juntamente com a mãe, Orandina. Ambos foram torturados. O menino Gino conta que era violentado para o pai falar o que sabia: “Eu ouvia meu pai ali perto gemendo, eu escutava, mas não podia fazer nada”. Passados uns dias, Gino foi encaminhado e ficou durante vários meses na Fundação Nacional do Menor no Rio de Janeiro.

Todos são subversivos:

Virgílio um desaparecido político, pois seus restos mortais até hoje não foram entregues a seus familiares para um sepultamento digno. Os filhos de Virgílio eram crianças e foram presos com a mãe, que não era militante, Ilda Martins da Silva. Ilda foi interrogada, torturada e separada dos filhos: “Eu não queria me separar deles de jeito nenhum, veio uma freira, pegou-os e os levou para o DOPS/SP. Eles ficaram dois dias lá e depois foram levados para o Juizado de Menores, onde permaneceram por dois meses. Isabel, a mais nova, era um bebê de 4 meses, foi hospitalizada e quase morreu. Eu fiquei presa por nove meses e estive incomunicável, não podia ver meus filhos ou saber deles. E eu não tinha participação política em nada”.

Abortos da Ditadura:

Maria José da Conceição Doyle, estudante de Medicina, em 1971, em Brasília: “(...) que a interroganda estava grávida de 2 meses e perdeu a criança na prisão, embora não tenha sido torturada, mas sofreu ameaças; (...)”. Maria Cristina Uslenghi Rizzi, 27 anos, secretária, denunciou à Justiça Militar de São Paulo: “(...) sofreu sevícias, tendo, inclusive, um aborto provocado que lhe causou grande hemorragia, (...)”. Olga D´Arc Pimentel, 22 anos, professora, em 1970, no Rio: “(...) sevícias, as quais tiveram, como resultado, um aborto provocado que lhe causou grande hemorragia, (...)”. Regina Maria Toscano Farah, estudante, 23 anos, ao depor, no Rio, declarou: “(...) que molharam o seu corpo, aplicando consequentemente choques elétricos em todo o seu corpo, inclusive na vagina; que a declarante se achava operada de fissura anal, que provocou hemorragia; que se achava grávida, semelhantes sevícias lhe provocaram aborto; (...)”. Isabel Fávero, ex-militante da VAR-Palmares, presa em 5 maio de 1970, em Nova Aurora, cuja denúncia foi feita, quarenta anos antes, pelo seu marido, Luiz Fávero11. Ela relata com detalhes o abortamento sofrido e denunciado pelo seu marido na época: “Eu ficava horas numa sala, entre perguntas e tortura física. Dia e noite. Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Depois disso, me colocaram num quarto fechado, fiquei incomunicável”. Nádia Lucia do Nascimento, integrante do MR-8, presa em São Paulo, em 1974, grávida de seis meses, no DOI-CODI/SP, foi colocada na “cadeira de dragão” pelo torturador conhecido por Capitão Ubirajara (delegado da polícia civil de São Paulo, que integrava as equipes de torturadores do DOI-CODI/SP, cujo nome oficial é Aparecido Laerte Calandra). "Depois de arrancada a roupa, ela levou choque elétrico por todo o corpo, o que fez com que abortasse. Ficou durante dias com fortes hemorragias e dores, sem sequer um atendimento médico". 

A mulher sob o autoritarismo:

A submissão das mulheres se dá, em grande parte, pelo controle do corpo feminino. O melhor exemplo deste controle é a violência contra as mulheres – prática tão antiga e naturalizada que, naqueles anos de ditadura, prevalecia o ditado popular: “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”, mesmo que as mulheres fossem espancadas, violentadas e assassinadas.  No Código Civil daquela época, o homem podia pedir a anulação do casamento se a mulher não fosse virgem e não tivesse avisado a ele com a devida antecedência e precaução. Somado a isso, havia uma campanha de controle da natalidade incentivada pelos Estados Unidos – baseada na ideologia imperialista – contra o nascimento de filhos de pobres no Brasil e em diversos países, denominados à época como países do "Terceiro Mundo". Essa postura contribuiu enormemente para a expansão das esterilizações femininas e de doenças gravíssimas de hipertensão. Os índices apresentados naquela época já eram altíssimos: em Pernambuco, 18,9% das mulheres de 15 a 44 anos se encontravam esterilizadas (trompas ligadas) enquanto 12,5% usavam pílulas; em Manaus, 33% das mulheres estavam com as trompas ligadas; 17% no Piauí; e 15% das paulistas. Estavam excluídas desses cálculos as mulheres esterilizadas por outros motivos, como abortos mal feitos ou pelo uso inadequado de pílulas ou do DIU (Folha de São Paulo, edição de 17 jul. 1983).  Dentro desse cenário de proibição, as militantes políticas se apropriaram de seus corpos e decidiram ser mães e aquelas que decidiram pelo aborto realizaram sem recursos materiais. Logo, não foram apenas militantes políticas e sim mulheres que lutaram contra a Ditadura pelo direito de decidir o que fazer com o próprio corpo.

Nascidas de estupros:

A omissão de nascimento de crianças vítimas de estupros praticados por agentes do Estado existiu, presas políticas foram violentadas nos chamados DOI-CODIs. Porém, as razões para o silêncio permanente que paira sobre o assunto são muitas: a profunda humilhação de ser uma mulher estuprada e ainda mãe de uma criança filha de um estupro cometido por torturadores, justifica a dificuldade de encontrar documentos sobre denúncias de estupro. Se a desigualdade entre os sexos é tão visível nos dias de hoje. O que dizer naqueles anos de chumbo quando "mulher" era assunto proibido e considerado “subversivo”? Logo, para corroborar a ocultação que envolvia a palavra "mulher", a revista Realidade, de janeiro de 1967, n. 10, teve sua edição especial dedicada à situação das mulheres apreendida pela censura. O jornal Movimento, n. 45, foi totalmente censurado, por realizar uma edição voltada para “O Trabalho da Mulher no Brasil”. A desqualificação era tão comum sobre a mulher, que um dos ditadores (General Figueiredo, 1978- 1985) chegou a dizer em público que: “... mulher e cavalo a gente só conhece quando monta”.

Sobre a intervenção das Forças Armadas desejada pelo coronel Mourão, sendo aplicada como coordenação as forças de segurança do estado do Rio de Janeiro como foi em Espírito Santo, não há mal nisso. Já que, a sociedade encontra-se refém da criminalidade. Entretanto, juntamente com isso, a população das favelas também são reféns de políticas públicas. Logo, junto com a política de segurança, deveria chegar também nas comunidades cariocas, as secretarias de Educação e Saúde, para que os favelados não fossem apenas enxergados através do olhar negativo e desconfiado das mídias e de quem é do asfalto, pois as drogas e as armas não são fabricadas na favela. Porém, incitar o retorno da Ditadura Civil-Militar através de uma intervenção como deseja Mourão, não é apenas um retrocesso político, social e econômico para o Brasil, é também negar a existências dos desfavorecidos e mais, é ocultar a memória das "Marias" estupradas e torturadas, das mulheres que por viverem numa sociedade misógina, não puderam denunciar seus algozes. O retrocesso da Democracia servirá apenas para apagar o sequestro, o abandono, a tortura, o aborto e o nascimento de crianças que sofreram nas entranhas da Ditadura.

(...) Mas é preciso ter força
É preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca(...)



Fonte:

GORENDER, Jacob. Combate nas Trevas - A esquerda brasileira: das ilusões perdidas à luta armada.

PAIVA, Rubens. Infância Roubada: crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil.

KARNAL, Leandro. Todos contra todos - o ódio nosso de cada dia.

TESCARI, Adriana Sader. Violência sexual contra a mulher em situação de conflito armado.

DIANA, Marta. Mujeres Guerrilleras: Sus Testimonios en la militancia de los setenta.

TELES, Maria Amélia de Almeida. Breve História do Feminismo no Brasil.

Dossiê Ditadura: Mortos e Desaparecidos Políticos 1964-1985.

Brasil: Nunca Mais.

Revista Brasileiros, Nº 68 março de 2013 "subversivos: acredite".

_________________________________ "Estas crianças foram presas e banidas do Brasil"

Site:

www.cnv.gov.br

g1.globo.com

www.arquivonacional.gov.br

Música:

Maria, Maria - compositor Milton Nascimento e Fernando Brant.



quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Sucursal de notícias!!!

A mídia brasileira encarnou novamente o personagem da "parcialidade" e mostrou de forma escancarada que, toda vez que os Barões estiverem combalidos, entrará em cena abruptamente para desviar a atenção dos (tele)espectadores sobre os dois lados da notícia que podem destruir a blindagem de Juízes, Procuradores, Ministros e Senadores e informar apenas aquilo de interesse próprio e assim proteger a continuidade do governo Temer, veiculando de forma parcial informações sobre a corrupção política como uma verdade absoluta para culpar apenas um partido ou (anti)herói da região Sul e Sudeste pelo sucateamento da Saúde, da Educação, da Segurança e pelo fim da dignidade dos trabalhadores brasileiros conquistada nesses 13 últimos anos. Já que, após a realização de um caravana pelo Nordeste, região marginalizada durante 500 anos em relação as políticas públicas do governo federal, fez o líder da caravana se tornar o protagonista  e se fortalecer cada vez mais para uma possível candidatura nas eleições presidenciais em 2018.

A parcialidade escancarada da mídia nacional em desacreditar governos preocupados com as mazelas sociais que visaram atenuar os quinhentos anos de abandono dos Barões, não é um comportamento direcionado apenas para a política brasileira. Basta analisar a forma com que os veículos de comunicação noticiam a crise política instalada na Venezuela, em que o Presidente Nicolás Maduro foi declarado ditador por estabelecer uma constituinte que visava proteger os interesses políticos e econômicos do povo venezuelano contra uma oposição ligada intimamente ao capital estrangeiro que, deseja entregar a exploração de petróleo venezuelano para as empresas petrolíferas norte-americanas, e que sempre fora inimiga declarada do governo de Hugo Chávez. 
Logo, por que a mídia brasileira não noticiou de forma massificada o caso sobre os duzentos milhões bolívares (U$12.500,00) encontrados no interior de uma caminhonete de luxo em Altamira - local dos principais protestos opositores de abril a julho de 2017, na Venezuela, deixando um saldo de mais de cem mortos - em nome de Lilian Tintori, esposa de Leolpoldo López, principal político de oposição ao governo Maduro? Tintori após fazer inúmeros comunicados nas suas redes sociais como "montaje que están orquestando - montagem que eles estão orquestrando", e sofrer insultos dos seus próprios seguidores, assumiu o caso e disse: "la camioneta és mia, el dinero para pasar con mi abuela - a caminhonete é minha, e o dinheiro era para gastar com a minha avó". A esposa de Leopoldo López, político anti-chavista, conhecida mundialmente por denunciar a violação dos direitos humanos por parte do atual governo venezuelano, se encontrava constantemente com Temer, Aécio, Senadores do PSDB e exigia a queda de Maduro, Dilma de toda Esquerda latino-americana. Como também realizou diversas viagens para se reunir com o presidente norte-americano Donald Trump e o Mauricio Macri presidente da Argentina, para idealizar um Golpe de Estado na Venezuela.

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Com isso, devido a parcialidade das mídias brasileiras e de veículos de comunicação anti-chavista fica impossível ter a real noção de como está a crise política venezuelana, pois a imigração do povo da Venezuela em direção as fronteiras brasileiras não representa apenas o descontentamento político em relação ao presidente Nicolás Maduro como está sendo noticiado por jornalistas e políticos preocupados com as práticas imperialistas. Pode-se entender que a fuga de boa parte da população da venezuelana que vivia muito bem até a oposição anti-chavista instalar o "caos" por não conseguir se eleger democraticamente, possuía um número insignificante. Já que, não foi possível encontrar nenhum tipo de notícia ou documento, alarmando sobre a diáspora da população venezuelana em direção ao Brasil antes do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Mas a parcialidade e a invenção de notícias não é uma exclusividade da mídia brasileira, o Canal 1 da Colômbia, através da repórter Claudia Cano ofereceu dinheiro para um desertor do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN), Edgard de Jesús Villanueva, mentir sobre a participação de militares do governo Maduro num cartel narcotráfico. Pois a oposição venezuelana insiste em dizer que a cooperação dos militares na logística de distribuição de alimentos, também é utilizada para transportar drogas pela Venezuela. Este fantasioso cartel é chamado de "Cartel del soles". Em um áudio gravado, Villanueva se dirige a Cano dizendo que: "faria as declarações por dinheiro". A repórter do Canal 1 pede para que ele diga que o Constituinte Diosdato Cabello faz parte do Cartel del soles. Em seguida Villanueva pergunta: "O que deseja que fale sobre Maduro?" Mais adiante cobra sobre o pagamento e Cano lhe responde: "Quando terminarmos lhe pagamos".



A operação Lava Jato, mostrou sua eficiência em prender empresários, tesoureiros e políticos corruptos através da mídia nacional e fez o juiz Sérgio Moro se tornar um super herói brasileiro. Porém, os veículos de comunicação esquecem de mostrar o lado seletivo de Moro. Conhecido por sua determinação em provar que Lula e a sua falecida esposa D. Marisa são donos de um triplex no Guarujá, provocou o achamento de um triplex ao lado daquele que segundo a mídia brasileira, Moro e toda massa de manobra dizem ser do ex-presidente petista. O super herói ignorou o desejo de investigação e esqueceu de forma proposital que, o imóvel está intimamente ligado ao escritório de advocacia dos irmãos Mossak Fonseca Panamenha e amigos da família Marinho (proprietários da Rede Globo). O pior desse esquecimento é não investigar os Mossak envolvidos no escândalo de lavagem de dinheiro conhecido como "Panamá Papers" detidos de forma preventiva no Panamá. 
Por conseguinte, seguindo o processo seletivo de Moro, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, diz que o juiz Sergio Moro "merece presunção de inocência, como qualquer acusado, mas afirma que, se os critérios da chamada República de Curitiba fossem aplicados contra o magistrado, o resultado seria a condenação inapelável". Pergunta-se por que? Segundo o juiz, "não se deve dar valor à palavra de um acusado". Ou seja, por que o mesmo usa isto rigorosamente ao longo de toda a Operação da Lava Jato? Com isso, sobre a contradição de Moro sobre o tráfico de influência na Operação Lava Jato envolvendo o advogado e sócio de sua esposa, pode-se observar que, ele confirma que sua esposa participou de um escritório com seu amigo e padrinho de casamento Carlos Zucolotto Jr.. Este fato com certeza seria usado pelo juiz da 13ª vara (Sérgio Moro) como forte indício para uma prisão contra um investigado. Assim como o fato de sua esposa e sócia do escritório de Zucolotto Jr. ser também advogada da Odebrecht, isto seria usado como um forte indício de tráfico de influência na participação da Lava Jato. E mais, a foto apresentada expondo a amizade do juiz e do amigo Zucolotto Jr. também seria usada como prova. O pronunciamento do advogado, amigo pessoal, sócio da esposa e padrinho de casamento, que afirmou não ter aplicativo no seu celular seria motivo de busca e apreensão do aparelho. E para finalizar, a afirmação de que o pagamento deveria ser em espécie, não precisaria ter prova, pois o próprio juiz seletivo Sérgio Moro admitiu numa palestra, que a condenação pode ser feita sem sequer precisar do ato de ofício. Ou seja, o super herói brasileiro diz que, não precisaria de comprovação.
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Abandonando o critério seletivo de se fazer justiça no Brasil, em que o magistrado Moro escolhe quem vai prender e não quem deveria ser preso. O grupo MBL, um dos principais articuladores do golpe, com campanhas contra a presidente Dilma desde 2015, que se dizia ser apartidário e que seduziu milhares de jovens, também deveria ganhar destaque nas capas de jornais e revistas, ou um espaço generoso no horário nobre da televisão para expor a sua ligação com os partidos políticos PSDB, DEM e PMDB. Pois em troca da luta sanguinária a favor do impeachment que salvaria o Brasil da corrupção, receberam nomeações em cargos comissionados em Porto Alegre, Goiânia, Caxias do Sul (RS) e São José dos Campos (SP).
Mas para entender o Movimento Brasil Livre, é preciso saber que o grupo está relacionado a empresa imperialista dos irmãos Koch (segundo a revista Forbes cada um possui a riqueza de 42,9 bilhões de dólares, que ultrapassam Bill Gates) que é responsável pelo faturamento de 15 bilhões de dólares anuais, ela esteve envolvida no roubo de 5 milhões de petróleo em uma reserva ambiental e foi multada em 30 milhões de dólares por conta de vazamento de óleo. Assim o MBL surge em 2015 em meio aquele falso cenário de crise econômica, em apoio a burguesia e a banqueiros exigindo do Governo Federal mais ataques contra os trabalhadores. Por conseguinte, o movimento que pregava a anticorrupção, atualmente se coloca lado a lado aos partidos mais corruptos para defender suas ideias imperialistas fazendo alianças com Paulo Skaf (PMDB) defensor da PL 4330 (visa defender o trabalho terceirizado). É com esse tipo de movimento e partidos burgueses que estão no poder, que tenhamos cada vez menos condições de negociar e interferir na relação patrão/empregado, diminuindo cada vez mais as perspectivas de aposentadoria.

(Charles e David Koch)
Charles e David Koch

A visão maniqueísta (o Bem contra o Mal) imposta de forma proposital por empresários, banqueiros e partidos burgueses que contam com o apoio e com a parcialidade das mídias em todo o mundo, faz a população brasileira enxergar um "mito" como um político, acreditar no impeachment como um benefício, transformar a  luta e a proteção de Nicolás Maduro numa Ditadura, analisar a seletiva Lava Jato do Sérgio Moro como justiça, deslumbrar as denúncias do procurador Rodrigo Janot como um ato heroico, entender a delação de Palocci como uma verdade absoluta. Não se pode esquecer que, assim como a Lua, tudo na vida possui dois lados. Mas para quem vive numa bolha e acha que o Brasil goza de autonomia política em relação ao FMI(Fundo Monetário Internacional), só enxergará o lado que reflete a luz do Sol, pois o outro lado permanecerá latente.




Fonte:

KARNAL, Leandro. Todos contra todos - o ódio nosso de cada dia.

VICENTINO, Claudio. Mundo Atual - da guerra fria a nova ordem internacional.

KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luis Estevam; MORAIS, Marcus Vinicius de; PURDY, Sean. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI.

Periódicos:

El Nuevo País.

El Nacional.

El Siglo.

El Tiempo.

Site:

cartacapital.com.br

videos.telesurtv.net

correodelorinoco.gob.ve

g1.globo.com

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Nas entranhas da Ditadura!!!

A transparência em relação à sedução, adulteração, aliciação e outros substantivos envolvendo políticos e empresários nos últimos anos, noticiada de forma massificada pelos veículos de comunicação, oferece a população a falsa sensação de que, a "corrupção" no Brasil é uma novidade. Por conseguinte, devido ao contato diário com diversos tipos de eleitores, o que mais se escuta é que na época da Ditadura Civil-Militar (1964-1985) não existiam corruptos. Somado a isto, em relação ao cenário político nos dias de hoje, é possível se deparar com posicionamentos contrários à Democracia nas redes sociais, como a famosa profecia do general e ex-presidente, Ernesto Geisel: "Se é vontade do povo brasileiro eu promoverei a abertura política no Brasil. Mas chegará um tempo que o povo sentirá saudade do Regime Militar. Pois muito desses que lideram o fim do Regime não estão visando o bem do povo, mas sim seus próprios interesses". Ou com publicações que exaltam "políticos messiânicos". Com isso, foi necessário fazer pesquisas minuciosas com o objetivo de expor de forma sucinta, relatos sobre as "mordomias" utilizadas pelos governantes militares e seus superfuncionários na época da Ditadura Civil-Militar para desmistificar que a corrupção não é um câncer e uma exclusividade de governos políticos democráticos.

Ao analisar o decreto de nº 75.321 assinado pelo ex-presidente militar Ernesto Geisel, em 29 de janeiro de 1975, conhecido como a "Lei das Mordomias", que garantia aos ministros de Estado e superfuncionários o direito à mordomia, e após pesquisar as mídias impressas daquele período, percebe-se que, existiam diversos tipos de corruptelas na Ditadura Militar e para corroborar, basta se debruçar sobre as laudas da Obra "10 Reportagens que abalaram a Ditadura" do autor Fernando Molica, para mergulhar nas "mordomias" dos governos militares.

Por conseguinte, na Ditadura Militar a corruptela se dava assim: "O trinco da geladeira quebrou e a mulher não teve dúvidas, chamou o mordomo, pago pelo governo federal, e deu-lhe ordens para requisitar imediatamente uma geladeira nova, paga pelo governo". Afinal, para quem é mulher de um diretor do Banco do Brasil, pago pelo governo, é mais fácil comprar uma geladeira nova do que mandar consertar a velha - observação, velha com dois meses de uso.

Em tudo, o clima de uma grande festa: Se a festa fosse na casa do ministro das Minas e Energia, Shigeaki Ueki, os convidados poderiam dar um mergulho na piscina nas noites mais frias: ela era térmica. Para os que gostavam de ser bem servidos, a melhor opção ainda era a casa do ministro do trabalho, Arnaldo Prietro, que contavam com uma criadagem "fixa" de 28 pessoas. Para as noites em Brasília, havia uma extensa programação de jantares, coquetéis e recepções. Era muito raro o dia em que não existia uma festa na Capital Federal. Aos comes-e-bebes das melhores marcas estrangeiras, passando por garçons e criados, até carros e motoristas que levavam os convivas além de flores ofertadas às anfitriãs. Claro, tudo era pago pelo governo da Ditadura Militar.

Questão de gosto: Não satisfeitos, os superfuncionários dedicavam-se a fazer reformas completas em apartamento, como derrubar paredes, mudar a forração, fechar cômodos de acordo com suas preferências, não se preocupando com o gosto daqueles que irão substitui-los, muito menos com os gastos com as obras.
Um dos casos mais comentado em Brasília era o do secretário-geral do Ministério da Saúde. Chamou um decorador paulista e encomendou móveis sob medida. A reforma acabou custando mais caro que o próprio apartamento.
O mercado era inesgotável. Como se pode ver por este anúncio, publicado em maio, no Correio Brasiliense. "Órgão Público necessita para locação imediata - 4 casas na Península até QI ou QL 6 - 40 apartamentos com 3 ou 4 quartos em quadras urbanizadas. CRECI J/647 B/26351". O órgão público no caso, era o Ministério das Minas e Energia. Logo, com esse anúncio é possível saber que o Ministério gastou mensalmente cerca de Cr$ 250.000,00 só em alugueis, mais que a verba autorizada pelo decreto assinado pelo Profeta Geisel, que era de Cr$ 9.000,00. Para o "Ministério das Minas e Energia - Sabendo usar, não vai faltar - essa despesa talvez não faça muita diferença no orçamento do governo Federal".

Os carros rodam: O diretor geral da DASP (Departamento de Administração e Serviço Público), Darcy Siqueira seguindo as exigências do profeta e ex-presidente Geisel, em conter os abusivos custos com combustível e não expor suas mordomias, reduziu sua frota de 43 veículos de representação individual para apenas três. O que Darcy não contou foi o destino dado aos automóveis que não foram mais utilizados.
Segundo a denúncia de um alto funcionário do TCU, que, como todos, pedia para não ser citado: "alguns Ministérios, como o da Fazenda, estão recorrendo a autolocadoras, utilizando os serviços de carros com motorista e telefones, tudo pago com verbas públicas".
Os governadores providenciaram seus Ford-Landau (ao preço de Cr$ 140.000,00), assim como o presidente da Assembleia Legislativa, o presidente do Tribunal de Justiça e o presidente do Tribunal de Contas do Estado. Os secretários de Estado e os dirigentes de empresas de economia mista não foram excluídos dessa mordomia, renovaram suas frotas com o Ford-Maverick mais barato que o Landau - porém, em termos de consumo de gasolina não era nada econômico.

Voar, voar: A nova moda iniciou pelos Ministérios e, a exemplo do que ocorreu com casas, festas, carros e outras mordomias, a utilização de aviões e helicópteros não ficou restrito aos ministros e seus familiares, estendeu-se rapidamente às empresas estatais e de economia mista, autarquias e fundações, governos estaduais e municipais.
O movimento no aeroporto, às sextas-feiras, provocava congestionamentos e brigas nos guichês. De acordo com levantamentos feitos pelas empresas aéreas, em Brasília, 80% dos passageiros eram funcionários públicos, a maioria absoluta com passagens pagas pelos órgãos oficiais em que trabalhavam.
Como disse um alto funcionário da Câmara Federal: "há dois Ministérios que gastam mais em passagens aéreas por mês do que todo o Congresso Nacional, já que, este tem mais de 400 representantes que recebem, cada um, quatro passagens por mês de ida e volta aos seus Estados de origem e uma para a badalada cidade do Rio de Janeiro".

Os salários: Diante de todo esse aparato de privilégios, vantagens e regalias, tudo garantido pelo o decreto de nº 75.321, os salários recebidos pelos superfuncionários representavam uma parcela menor com os gastos ao erário público.
Um superfuncionário não recebia menos de Cr$ 60.000,00 por mês, pode-se dizer que, somando suas vantagens indiretas, ele chegava, no mínimo, a dobrar seus vencimentos. Os valores são os seguintes: manutenção e despesas de um Ford Galaxie Cr$ 10.000,00; água, luz e telefone Cr$ 7.000,00; aluguel de uma casa no Lago (Brasília) Cr$ 15.000,00; conservação da piscina Cr$ 2.000,00; criadagem Cr$ 3.000,00; além da dispensa de pagamento de imposto predial. condomínio, vigilância etc. Isso daria Cr$ 100.000,00 mensais. No final, todas essas vantagens serviram apenas para expor que os superfuncionários ganhavam mais que o presidente da República. Os superfuncionários poderiam ser incluídos entre os mais bem pagos de todo o mundo na década de 1970.
É claro que a vantagem dos super salários recebidos pelos superfuncionários brasileiros comparados aos seus similares do mundo inteiro não se mantinha no caso dos salários mínimos. Comparados aos Estados Unidos, os operários brasileiros tinham um salário mínimo dez vezes menor que o salário mínimo norte-americano (560 dólares mensais, isto era aproximadamente Cr$ 5.600,00). Isto mostra que, desde aquela época, o trabalhador brasileiro sempre recebeu apenas para sobreviver, sem direito a qualidade de vida e outros prazeres garantidos apenas aos superfuncionários dos governos militares.

O acúmulo: Outro fato latente no período da Ditadura Civil-Militar, dentro da estrutura salarial dos órgãos do governo, do que era permitido e do que não era. Existia uma lei bastante curiosa. Esta permitia uma opção para os funcionários que possuíam cargos DAS: quando o seu salário no órgão de origem for superior a Direção e Assessoramento Superior - Cr$ 20.000,00 mais 60% da verba de representação a que teria direito, ele continua recebendo o salário maior do órgão de origem - além dele, mais 20% do DAS que lhe seria destinado.
Este acúmulo salarial, foi o caso do Secretário de Imprensa da Presidência da República, Humberto Esmeralda, e do diretor-geral do DASP (Departamento de Administração e Serviço Público) coronel Darcy Siqueira, que continuaram ganhando seus salários de funcionários da Petrobrás. Isto serve para mostrar que, essa estatal sempre foi alvo da corrupção política brasileira. Há um parecer do Consultor-Geral do DASP, Clenício da Silva Duarte, segundo o qual, determinados funcionários poderiam acumular vários salários. Ou seja: recebiam a aposentadoria de militar, ex-ministros de tribunais, funcionários de empresas estatais e mais o salário correspondente à sua função atual. Enquadram-se nesse parecer o ministro-chefe da Casa Civil, Golbery do Couto e Silva, e todo o pessoal da Petrobrás que acompanhou o profeta, ou melhor o ex-presidente Geisel ao Palácio do Planalto. Esse parecer foi emitido nos primeiros dias daquele governo - em 1974.

Grifos meus: As reportagens supracitadas ao invés de acabar com a corrupção, fez a mesma se alastrar para diversas esferas de poder e instituições por todo o Brasil. A "mordomia" passou a fazer parte do vocabulário do dia-a-dia brasileiro. A Ditadura acabou, torturas e assassinatos foram solapados. Mas as grandes obras públicas e o falso milagre econômico despertam nostalgia em parte dos brasileiros até hoje. Contudo as infinitas formas de corrupção -  farra de passagens aéreas, carros de luxo, mansões, nepotismo, homens sem escrúpulos ocupando as cadeiras das estatais brasileiras - presentes na Ditadura Militar brasileira se tornaram um legado para os governos atuais.

Os trechos das reportagens utilizados para compor esse texto, são apenas algumas gotas em relação ao Oceano de Corrupção encontrado no Arquivo Nacional, na Obra "10 Reportagens que abalaram a Ditadura", no IHGB e na Comissão Nacional da Verdade sobre o período da Ditadura Civil-Militar. A ideia principal do texto é desmistificar, desmascarar, desnudar a inexistência da corrupção dos governos militares e disseminar o conhecimento para aqueles que através das redes sociais insistem em compartilhar vídeos, imagens e discursos de senso comum visando transformar políticos em "messias", numa espécie de super-heróis do Brasil. A promoção de candidatos extremistas ou de um regime ditador promove apenas conflitos étnicos - exemplos não faltam nos noticiários televisivos e nos periódicos impressos - principalmente com a mundialização da economia que, permite o imigrante, ou seja, o "diferente" estar cada vez mais presente em todo o mundo.


Para entender o atual cenário político brasileiro é preciso fazer um constante exercício de memória viajando no túnel do tempo através de fontes seguras direto para passado. Porque assim é possível dificultar o avanço de ideias totalitárias, e impedir que a profecia de Ernesto Geisel se transforme numa verdade absoluta. Logo, como é possível acreditar na profecia de um regime militar, que garantia mordomias de Cr$ 100.000,00 aos seus superfuncionários e ofertava apenas 560,00 cruzeiros ao trabalhador brasileiro? O conhecimento permite ao povo entender que, por mais falsa e exclusivista que seja a atual Democracia brasileira, ainda é bem melhor que perecer nas mãos de qualquer (mito)logia política ou qualquer Regime Ditatorial!








Fonte:

FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil.

MOLICA, Fernado. 10 Reportagens que abalaram a Ditadura.

Fotografia: Rafa Oliveira - Instagram: oficialrafaoliveira

Site:

http: www.cnv.gov.br (site - Comissão Nacional da Verdade)

http://www2.camara.leg.br (Decreto nº 75.321 de 29 de janeiro de 1975)

http://www.arquivonacional.gov.br (Acervos sobre a Ditadura Civil-Militar 1964-1985)

http://www.ihgb.org.br

Filmografia: 


Batismo de Sangue 

Cabra Cega

Hércules 56



segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Quem vai lançar primeiro: EUA X Coreia do Norte ou China X Índia???

A Crise dos mísseis soviéticos em Cuba ocorrida em outubro de 1962, serviu para amedrontar a população mundial e foi o acontecimento mais dramático de toda época da Guerra Fria(1947-1991). Semelhante a isto, o possível conflito armado entre EUA e Coreia do Norte, noticiado insistentemente pelas mídias atuais, está alarmando o mundo. Mas alguns veículos de comunicação estão atuando de forma omissa em relação ao iminente confronto armado entre duas potências nucleares, por causa de uma estrada de terra entre os picos do Himalaia.

Após Fidel Castro chegar ao poder de Cuba, em primeiro de janeiro de 1959, instaurar o socialismo e tomar algumas medidas populares, tais como: Nacionalização de indústrias, refinaria de petróleo, bancos norte-americanos e, estreitar relações comerciais e militares com a União Soviética, permitindo a construção de uma base de lançamento de mísseis nucleares soviéticos em seu território, fez com que, John Kennedy, presidente dos EUA naquele período, instalasse um bloqueio aéreo e naval à ilha cubana e, ainda ameaçou usar armas nucleares do porta-aviões Enterprise se a União Soviética insistisse no projeto.

(Krucshev-União Soviética e Kennedy-EUA) 

Logo, para corroborar a Crise dos mísseis soviéticos em Cuba, o Embaixador brasileiro Roberto de Oliveira Campos, em seu telegrama enviado ao Rio de Janeiro, comentou os desdobramentos da crise instalada no continente americano.

"Cabe-me informar, após a reunião no Departamento de Estado, que [Dean] Rusk assim justifica o rigor da reação americana à instalação de mísseis teleguiados de alcance médio e intermédio, detectada por fotografia aérea, apenas em 14 [de outubro]. (...) Cuba e União Soviética foram advertidas pelos EUA de que não tolerariam instalações ofensivas (...) A situação é perigosíssima, admitindo o Departamento do Estado a hipótese de guerra nuclear (...)" 

(Fotografia aérea das bases militares soviéticas em Cuba)

O possível conflito armado entre Estados Unidos e a Coreia do Norte noticiado de forma massificada pelos veículos de comunicação, tem feito a humanidade conter a respiração, como aconteceu na época da Crise dos mísseis soviéticos de 1962. Entretanto o conflito entre norte-coreanos e estadunidenses possui raízes profundas na História.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a Coreia foi dividida em duas regiões. A área ao Norte ficou sob influência socialista soviética; a área Sul sob o comando capitalista norte-americano. Em 1950, os EUA e a União Soviética abandonaram a Península da Coreia, já que, as duas Coreias tentariam se unir formando um Estado independente. Mas em junho do mesmo ano, tropas do Norte invadiu o Sul, com isso a ONU e os Estados Unidos, como nos dias atuais, interveio no conflito enviando tropas e armamentos para auxiliar os sul-coreanos. Logo, a Coreia do Norte contou com o apoio da China para levar esse conflito até o ano de 1953. Após a assinatura do armistício entre as duas Coreias, os norte-americanos investiram seus capitais em infraestrutura na Coreia do Sul, e a Coreia do Norte foi influenciada até o final da década de 1980 pela União Soviética.

Porém, com a extinção da URSS em 1991, os norte-coreanos acabaram com o seu isolamento político comunista e iniciaram um comércio com Japão e Formosa, países estes, de tendências capitalistas. Mas a relação comercial entre o Japão e Coreia do Norte, devido aos testes dos mísseis nucleares próximo ao território japonês liderados pelo Kim Jong-un promoveu uma série de sanções internacionais que não surtiram efeitos e, desde que Donald Trump assumiu o poder dos EUA, a possibilidade de um conflito armado nuclear está prestes a acontecer, pois os norte-americanos e a Coreia do Sul iniciaram vários testes de lançamentos de mísseis balísticos no Mar do Japão.

Mas existe outro confronto nuclear que não está recebendo a atenção das mídias, a China e a Índia estão a beira de um conflito por território. O impasse teve início em junho, quando o Butão, aliado da Índia, descobriu trabalhadores chineses tentando prolongar a estrada. O governo indiano respondeu ao interesse geopolítico da China, enviando tropas e equipamento para interromper a construção. Porém, o líder comunista Xi Pinjing, exigiu o recuo da Índia na região. O conflito não dá sinais de pacificação, e reflete as crescentes ambições de seus líderes em reforçar suas influências políticas e econômicas no palco mundial.

A disputa sino-indiana levanta a questão se o território pertence ou não ao Butão ou à China. São apenas cerca de 90 Km², ou seja, minusculo quando comparado ao tamanho territorial dos dois países. Mas a região é de extrema importância para os projetos da "Nova Rota da Seda" idealizado por XI Pinjing, presidente da China. Mas, o primeiro-ministro, Narendra Modi, líder da Índia mostrou que está a fim de frustrar os desejos de expansão dos chineses. A região em disputa, é conhecida como o Planalto de Dolam, e os estrategistas indianos temem que no caso de uma guerra, a China dominando o lugar que não ultrapassa 30 Km de largura, corte o corredor, isolando 45 milhões de indianos numa área do tamanho do reino unido inglês.

(Mapa da China, Índia e a minuscula região em disputa, Butão)
Resultado de imagem para mapa sobre Butão, China e Índia


O Butão não mantém relações diplomáticas com a China. O país recebe da Índia, quase US$ 1 bilhão anual em auxílio econômico e militar nos anos recentes. Os chineses tentaram atrair o Butão com suas próprias ofertas de auxílio em troca de terras visando evitar futuras disputas de fronteira. Mas Segundo o coronel da reserva do exército e consultor do diário indiano Business Standard para assuntos militares, Ajai Shukla disse: 

"O país não quer ficar no fogo cruzado enquanto Índia e China trocam farpas e projéteis. O Butão não quer ser o osso disputado por dois cães."

As primeiras décadas do século XXI, estão trilhando rumos semelhantes com o fim dos anos de 1800 e a primeira metade dos anos de 1900, porque as práticas imperialistas - em busca de novos mercados fornecedores de matéria prima e consumidores de produtos manufaturados e industrializados - realizadas pelas nações europeias  serviram apenas para promover duas Guerras Mundiais e suas tristes consequências. Por conseguinte, sobre a Guerra Fria, esta não existe mais, porém as disputas ideológicas e territoriais voltaram a superfície, basta analisar o embate dos Estados Unidos e dos norte-coreanos e a contenda sino-indiana, que estão prestes a acontecer no século XXI, e que servirão apenas para promover o mesmo medo que fez a humanidade conter a respiração com a Crise dos mísseis soviéticos em Cuba, em outubro de 1962, e quando o perverso toque de mágica do homem, fez a cidade de Hiroshima desaparecer do mapa do Japão, com o lançamento de um míssil nuclear, em 6 de agosto de 1945, chamado de "Little Boy". 

(Cidade de Hiroshima após o bombardeio nuclear)
Imagem mostra os danos causados pela explosão da bomba atômica sobre Hiroshima em 1945.

Pensem nas crianças
mudas telepáticas (...)
Pensem nas feridas (...)

Mas, oh, não se esqueçam
Da rosa de Hiroshima (...)
A rosa radioativa (...)

A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa, sem nada.

Composição: Gerson Conrad/Vinícius de Moraes
Interprete: Ney Matogrosso




Fonte:

AARÃO, Daniel Reis Filho, FERREIRA, Jorge, ZENHA, Celeste. O século XX: o tempo das dúvidas.

___________________. O século XX: o tempo das crises.

HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Impérios 1845-1914

Arquivo Histórico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Roberto de Oliveira Campos, Telegrama 770, Washington, 22.10.1962.

Site:
www.internacional.estadao.com.br

Revista Veja, 1962 - O dia que chegamos perto do fim.

Música:
Rosa de Hiroshima, Gerson Conrad/Vinícius de Moraes.





quinta-feira, 27 de julho de 2017

Lampião: Robin Hood ou Bandido???

A proclamação da República permitiu a ascensão e a consolidação da Oligarquia Cafeicultora de São Paulo e Minas Gerais, a partir de 1898, no governo de Campos Salles na esfera política federal através do Voto de Cabresto, do Coronelismo e da Política dos Governadores. Este novo sistema político significou a exclusão das camadas mais pobres da sociedade brasileira. A miséria era tanto urbana quanto rural. Nos centros urbanos a organização do operariado era duramente combatida por exigirem legislação trabalhistas e por desejarem mais direitos de participação política. Os latifundiários - proprietários de extensa área rural - não desejavam desviar seus lucros para promover a industrialização, embora concordassem que era um bom investimento para o capital excedente do "café". A maior parte da população do Brasil vivia na zona rural e em condições subumanas. A seca castigava o solo, o gado e o homem nordestino. 4,5% dos fazendeiros concentravam 65% das terras em 1920. Os alimentos eram caros e os salários baixos. O ciclo vicioso supracitado fez surgir anarquistas e socialistas nas cidades, já nos campos surgiram beatos e o Cangaço, e juntamente com esse movimento, surgiu a lenda em torno do nome de Lampião.

O Cangaço vem da palavra canga - conjunto de arreios usado para amarrar o boi ao carro. Com isso, os bandoleiros receberam o nome de cangaceiro por utilizarem correias com munições cruzadas no peito, lembrando um animal no jugo. Os cangaceiros eram vaqueiros habilidosos, que faziam as próprias roupas, caçavam e cozinhavam, trabalhavam com couro e gostavam de enfeitar suas roupas e armas com moedas de prata, também usavam muitos anéis nos dedos e, no caso das mulheres, cordões de ouro com medalhões. Suas indumentárias de couro e chapéus, serviram para criar uma forte identificação com a cultura nordestina, presente nas lendas, na literatura de cordel, nas festas juninas e no folclore.



O abandono do governo estadual e federal em relação ao interior do nordeste no final do século XIX era latente aos periódicos e as populações urbanas da época, já que, o Cangaço era uma atividade de retirantes, segundo o Historiador Rubens Antonio. Na época de Lucas da Feira e seu bando (1828) o Cangaço era uma atividade limitada. Esse movimento surgiu por causa do Coronelismo - fenômeno político caracterizado pelo domínio dos grandes latifundiários sobre as populações rurais que, em troca de proteção e cultivo a terra eram obrigados a votarem nos candidatos mais convenientes a eles - e devido ao mandonismo local e à miséria que assolava o interior do Nordeste, deixaram de proteger e realizar crimes em nome dos coronéis(fazendeiros) para iniciar uma onda de crimes por conta própria.

Mas foi a partir dos anos de 1920 que o Cangaço ganhou força, espaço e prestígio nos noticiários da época, principalmente com Antônio Silvino, Lampião e Corisco a despeito do banditismo com extrema violência e brutalidade. Na maioria das vezes, as atividades criminosas dos cangaceiros recebiam o apoio de prefeitos e delegados de polícia, quando não recebiam ajuda local, puniam não só os faltosos, mas também a família destes com golpes de punhais entre a clavícula e o pescoço, marcavam mulheres a ferro quente, arrancavam olhos, cortavam línguas, orelhas e castravam homens. Ou seja, se apropriavam da mesma violência cometida pelos policiais e a volante - grupos de policiais disfarçados de cangaceiros - quando não recebiam informações da população rural sobre os rumos e esconderijos dos bandos. Os grupos de cangaceiros eram geralmente pequenos, mas alguns possuíam um número expressivo de componentes, como o bando de Lampião que, reuniu centenas de jagunços.

Há folclorista que vê a figura de um cangaceiro como um Robin Hood dos sertões por distribuir aquilo que roubava entre os pobres. Por esse motivo, acredita-se que era um bandido social. Muitas pessoas até os dias atuais, principalmente aqueles que vivem na região entre Angicos-SE e Piranhas-AL, entendem que o cangaceiro era um verdadeiro herói, por combater o mandonismo dos coronéis e por não respeitar as diretrizes de poder dos políticos locais. Entretanto na opinião do Historiador Rubens Antonio diante de tanto horror, a cultura popular passou a romantizar o banditismo, usando subterfúgios como a fé, os atos de caridade e a religiosidade do bando para justificar a violência.

A figura mais destacada do Cangaço foi Virgulino Ferreira da Silva, conhecido como Lampião - efeitos que as rajadas de seus tiros provocavam durante a noite que era possível iluminar o lugar - se tornou cangaceiro por volta de 1916. Já em 1921, era proprietário de uma fazenda e no período entre 1928 e 1929 Virgulino se torna uma lenda no Nordeste e um grande traficante de armas. Mas em 1938 foi morto pela volante numa emboscada em Angicos-SE. Pesquisas apontam que Lampião não era um homem rude, dotado de ignorância por ser jagunço e viver no interior do Nordeste, pois era um apreciador de música e poesia, adorava perfumes e, seu chapéu era inspirado em Napoleão Bonaparte, célebre general e imperador francês. Com isso, até hoje o banditismo de Lampião e dos outros cangaceiros desperta polêmica entre os pesquisadores, onde uns afirmam que os mesmos cometiam crimes terríveis por maldade, e outros justificam suas atividades criminosas devido à luta pela sobrevivência numa região em que a seca e a miséria assolavam o gado, a terra e o sertanejo nordestino.

O Cangaço e suas atividades criminosas que atemorizavam policiais e parte da população nordestina no início do século XX chegou ao fim com a morte de seus líderes e componentes, que tiveram suas cabeças cortadas e expostas em público para reprimir o aparecimento de novos líderes. Este movimento foi o reflexo da exclusão promovida por coronéis nordestinos, políticos brasileiros e pelos cafeicultores paulistas e mineiros que dominavam a economia brasileira por causa da exportação do café. Ou seja, foi a República do Café com Leite que garantiu a uma pequena elite brasileira o direito de expor e desfilar suas riquezas na cidade do Rio de Janeiro e em São Paulo, e gozar de todos os privilégios políticos de 1898 a 1930. Mas foi essa mesma República que serviu de combustível para encorajar os sertanejos que, massacrados pela miséria se transformaram em bandoleiros das selvas nordestinas.

A centralização de poder e terras nas mãos de latifundiários e governantes políticos, a marginalização das camadas mais pobres em relação as políticas públicas e o contínuo aumento da desigualdade social estão entranhadas na História do Brasil. Logo, para corroborar essa afirmação sobre o descaso das autoridades políticas em relação ao Nordeste desde o início do período republicano brasileiro até os dias atuais, é possível expor o depoimento de José Aderaldo da Conceição que, até os 18 anos de sua juventude viveu em Bonito-PE, e hoje com 67 anos de idade, morador da cidade do Rio de Janeiro, disse que para sobreviver no sertão pernambucano, precisava ser dotado de teimosia na década de 1950.

(...) É preciso ter a coragem; perseverança; gentileza; audácia; criatividade; teimosia, sim a teimosia que só o sertanejo tem! (...) E ainda! (...) Não ter a fé de acreditar na sua sorte que não vem; na espera que não acontece; na fome que é companheira; nos filhos que vem, um a um; na chuva escassa; na casa humilde e na morte inevitável! (...)

 A figura do cangaceiro aos moldes de Antônio Silvino, Lampião e Corisco e suas atividades criminosas não existem mais. Porém, os crimes e suas infinitas modalidades não só continuam existindo desde o Cangaço, como evoluíram ao longo dos anos na sociedade brasileira, já que, as mazelas históricas teimam em existir, como foi muito bem citada no trecho da música de Chico Science e Nação Zumbi: "Banditismo por uma questão de classe".

Acontece hoje e acontecia no sertão
quando um bando de macaco perseguia Lampião
E o que ele falava outros ainda falam
Eu carrego comigo:coragem, dinheiro e bala
Em cada morro uma história diferente
Que a polícia mata gente inocente
E quem era inocente hoje já virou bandido
Pra poder comer um pedaço de pão todo fudido

Bandistismo por pura maldade
Banditismo por necessidade
Banditismo por um questão de classe!

Os motivos que fizeram surgir o Cangaço e seus líderes, existem hoje em dia? Os criminosos dos dias atuais, atemorizam os policiais e a população, tal como os cangaceiros faziam no auge do Cangaço? Por que as autoridades políticas de hoje, mesmo executando os bandidos e contando com toda a exposição da mídia impressa, televisiva e digital, não conseguem evitar o surgimento de novos criminosos? A população atual, tanto urbana quanto rural, tem acesso à Educação, Saúde e Segurança? A histórica e a perpétua elite brasileira que sempre gozou de todos os privilégios políticos está pronta para dividir o controle das rédeas do Brasil? O Lampião, foi um "Robin Hood" ou um "Bandido" dos sertões nordestinos?





Fonte:

FAUSTO, Bóris. História concisa do Brasil.

JASMIM, Elise Grunspan. Lampião, senhor do sertão: vidas e morte de um cangaceiro

QUEIROZ, Maria Isaura Pereira de. História do Cangaço.

IHGB: www.ihgb.org.br

Ilustração: @souzarodney Instagram - rodneey.souza Facebook

Músicas:

Zé Remalho - Mulher nova, bonita e carinhosa

Chico Science - Banditismo por um questão de classe!


 





domingo, 2 de julho de 2017

Os tentáculos da China!


No século I a. C. os romanos tiveram contato com uma "trama secreta" produzida no Oriente Longínquo(China) que simbolizava nobreza e riqueza e que era utilizada apenas pelos Patrícios(elite de governantes romanos). Já por volta do século VI a. C., em que o Império Persa estabeleceu a unidade territorial na região onde hoje encontra-se o Irã, o acesso ao "urdido desconhecido" ficou mais fácil, porém o seu uso continuava exclusivo dos abastados. Isto fez com que comerciantes de diversas regiões do Ocidente, levassem ouro, peles de animais, vinhos, animais de montaria, marfim africano, entre outros produtos, para em troca, adquirir especiarias e o mais desejado e nobre tecido chamado de "Seda".

O curso com aproximadamente mais de sete mil quilômetros que era utilizado há mais de dez mil anos trilhado por aventureiros, comerciantes, religiosos cristãos, monarcas e soldados que cortavam esse extenso conjunto de estrada a pé ou no lombo de animais, partindo da região da Síria do Mar Mediterrâneo até os territórios chineses serviu como uma rede de comunicação entre China e o Ocidente. Mas a parte da rota localizada na Pérsia começou a ser dominada pelos árabes e pela religião islâmica a partir do século VIII, dificultando assim a circulação de pessoas e mercadorias. Por conseguinte, no século XII, os soldados mongóis liderados por Gengis Khan dominaram a Ásia Central, o Norte da China e os territórios tibetanos. Com isso, o poder militar mongol promoveu a segurança da rota comercial que, através de um simples pagamento de taxas, os mercadores garantiam o direito de tráfego e de comercializar ervas aromatizadas, perfumes e a Seda.

A Seda serviu como ornamento, depois foi utilizada para adornar almofadas, mais tarde empregada na confecção de vestimentas por ser leve, sólida e confortável, mais do que o linho e a lã, conquistando mulheres e homens, e se tornou o principal produto do comércio entre a China e a Europa. Porém com o fechamento de parte do trajeto comercial, os europeus ao longo do tempo criaram novas formas de contato com o Oriente através das Grandes Navegações e outras rotas terrestres. O que fez o arqueólogo alemão Ferdinand Von Richthofen estabelecer o nome de uma das mais antigas e famosas rotas comerciais e religiosas de todos os tempos, de "Rota da Seda".


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Analisando os parágrafos supracitados, é possível entender que a "Seda" despertou os interesses de mercadores, peregrinos, clérigos, monarcas e outros e colocou o Oriente, ou melhor, a China nas rotas comerciais da Europa, restando assim, apenas o papel de coadjuvante, com uma cultura exótica aos olhos preconceituosos europeus, e de fornecedor de especiarias na História Ocidental. Mas segundo o historiador inglês, Jerry Brotton, a sua obra "O Bazar do Renascimento: da rota da seda a Michelangelo" expõe um protagonismo de igual para igual entre Oriente e Ocidente.  O intenso intercâmbio não foi apenas de mercadorias, mas também de ideias e técnicas. A estreita ligação existentes entre avanços tecnológicos e comerciais - como a imprensa, o setor bancário, a cartografia  - e as grandes obras de artes, a literatura, a ciência, os descobrimentos devido à expansão marítima que caracterizaram o Renascimento está intimamente ligado ao intercâmbio cultural e comercial com os reinos do Oriente.

Logo, para corroborar o protagonismo da China na História Antiga do Ocidente, e  até os dias atuais, basta lançar um olhar para o avanço tecnológico e econômico do Japão, dos Tigres Asiáticos e da China nos séculos XX e XXI, principalmente do último, que obrigou o mundo a se curvar ao seu poder econômico, despontando como a mais nova potência econômica mundial.

A China idealizou um plano multimilionário de construção e expansão de redes ferroviárias, portos, oleodutos e gasodutos, conhecido como "Nova Rota da Seda" para melhorar as conexões comerciais entre Ásia(Oriente) e outras regiões do mundo, como a Europa e o leste da África a fim de expandir sua influência para o campo geopolítico. Porém o Banco Mundial acha esse investimento dispendioso, e o analista da BBC Carrie Gracie também se opõe, já que, tanto os oleodutos e gasodutos que atravessam a Ásia Central, como os portos do Paquistão e Sri Lanka, no Oceano Índico, podem servir para fins militares no futuro.

A China atua com cerca de 20 linhas de trem de carga que estão conectadas as cidade europeias como Londres, Madri, Roterdã ou Varsóvia. A rota China-Madri funciona há mais de um ano e é o mais extenso serviço ferroviário do mundo. Atualmente, o interesse do governo de Xi  Jinping é aperfeiçoar esta rede ferroviária e transformá-la numa alternativa mais rápida em relação ao tradicional transporte marítimo de produtos chineses. As obras do novo trem de alta velocidade, que ligará os sete mil quilômetros de Pequim a Moscou devem terminar em 2025. Esta malha ferroviária reduzirá o tempo de viagem, de cinco dias, para 30 horas. Com isso, o analista Carrie Gracie afirma que por trás desse empreendimento, está a intenção da China de se consolidar como uma potência comercial global.

A Europa não é o único alvo das mercadorias chinesas, a China planeja acoplar a Tailândia, Camboja e Vietnã com o custo de US$ 7 bilhões. Quando essa rede ferroviária for concluída, receberá o nome de Pan-asiática ligando a China ao Sudeste asiático. Na Indonésia será construída a malha férrea Jacarta-Bandung com o custo de US$ 5,9 bilhões, que tem como objetivo, melhorar o transporte público entre a capital do arquipélago e um dos principais centros econômicos de Java, projeto este que venceu a concorrência dos japoneses. Aproveitando a relação cortês e histórica com o Paquistão, o governo de Xi Jinping investirá US$ 55 bilhões no país e ajudará no desenvolvimento do porto de Gwadar, no Mar Árabe. Com o investimento desse projeto a China ganhará uma saída para o mar, e não precisará enviar os seus produtos para o estreito de Malaca, local onde operam piratas e o clima é desfavorável. E ainda, o projeto contempla a ampliação da rodovia de Kakarorum, uma das mais altas do mundo, que conecta a China ao Paquistão. Outro porto-chave para os chineses, que compõe essa "Nova Rota da Seda" é o de Colombo, capital do Sri Lanka. Embora a obra tenha sido embargada por causa do novo governo - mais próximo politicamente da Índia -, negociações recentes permitiram a continuidade do projeto com o custo de US$ 1,4 bilhão.

A China já está construindo a ferrovia que unirá as duas principais cidades do Quênia: a capital, Nairóbi, e Mombasa, na costa. Este projeto faz parte da futura  rede de transportes da África Oriental, que interligará as cidades do Quênia com as capitais de Uganda (Kampala), Sudão do Sul (Juba), Ruanda (Kigali) e Burundi (Bujumbura). Ainda no continente africano, a China já inaugurou a composição que une Adis Abeba, capital da Etiópia, com Djibouti, capital do país do mesmo nome na costa do Mar Vermelho, onde companhias chinesas estão construindo um centro logístico marítimo. Esses projetos na África, "trata-se de uma expansão do poder naval para proteger o comércio e os interesses regionais da China no Chifre da África" assim constatou o professor de estudos estratégicos da Escola Naval de Guerra de Rhode Island, nos Estados Unidos.

A "Nova Rota da Seda", projeto idealizado pelo Xi Pinjing, presidente da China e o principal membro do Secretariado do "Partido Comunista Chinês", órgão político que controla o país, visa investir numa infraestrutura na Eurásia(Europa e Ásia) de modo a torná-la o único espaço econômico direcionado a Pequim, com um custo de US$ 4 trilhões, desafiando o domínio comercial dos Estados Unidos no mundo.

Em linhas gerais, a " Nova Rota da Seda" mostrou ao mundo que os chineses aprenderam muito bem as lições do Império Britânico de duzentos anos atrás - dominava um terço do planeta de forma direta e indireta e expandia a cultura inglesa através das suas redes comerciais-, já que a China deseja investir em diversos projetos econômicos num espaço geográfico que inclui mais de 60 países, onde reside 60% da população mundial e das quais economias correspondem a um terço do PIB(Produto Interno Bruto) mundial. E ainda expõe um protagonismo de igual para igual entre Oriente e Ocidente, como citou o historiador Jerry Brotton, em sua obra "O Bazar do Renascimento: da rota da seda a Michelangelo"



Resultado de imagem para mapa da nova rota da seda






Fonte:

BROTTON, Jerry. O Bazar do Renascimento: da rota da seda a Michelangelo.

DREGE, Jean-Pierre. Marco Polo e a Rota da Seda.

REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge; ZENHA, Celeste. O século XX, O Tempo das Certezas: da formação do Capitalismo à Primeira Guerra Mundial.

Site:
estadao.com.br
g1.globo.com



terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Sambando a Ditadura!!!

Fazer cem anos não foi uma tarefa fácil para o Samba, a partir de 1937, a Ditadura do Estado Novo fez a união visceral entre o samba e a malandragem ser interrompida e censurada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), passou por um processo de "branqueamento" para ser aceito pelas instituições fonográficas e fora utilizado como ferramenta do governo Vargas para doutrinar os trabalhadores brasileiros. "O amor regenera o malandro" serve de exemplo para expor a utilização do samba como ferramenta de doutrinação.


O amor regenera o malandro
Sou de opinião/ De que todo malandro/ Tem que se regenerar/ Se compenetrar(e ainda mais: breque)/ Que todo mundo deve ter/ O seu trabalho para o amor merecer/
Regenerado/ Ele pensa no amor/ Mas pra merecer carinho/ Tem que ser trabalhador(que horror!: breque)

Porém, por mais ditatorial e supostamente totalitário que seja um regime político, nunca se consegue calar por completo as dissidências e as minorias. O "breque" usado a duas vozes - breque que, neste caso, é anunciador de distanciamento crítico - no samba, colocou por terra toda politicagem do governo Vargas e expôs a quebra da aparente harmonia estabelecida na letra, subvertendo seu conteúdo original a típica malandragem que utilizava todo seu gingado e balanço para "driblar" ou "sambar" a censura e doutrinação do Estado Novo.

Para ratificar o drible a censura o cronista musical do dia-a-dia, Assis Valente se aproveita de um assunto de censo comum de 1940, e faz uma narrativa de um agente recenseador que subiu ao morro e quis saber como é a vida de um casal amigado, "perguntou se meu moreno era decente/ e se era do batente/ ou era da folia". Diante dessa interpelação, a mulher, que se declara "obediente a tudo que é da lei", foi logo se explicando:


O meu moreno é brasileiro/ É fuzileiro/ E é quem sai com a bandeira/ Do seu batalhão.../ A nossa casa não tem nada de grandeza/ Mas vivemos na pobreza/ Sem dever tostão/ Tem um pandeiro, tem cuíca e tamborim/ Um reco-reco, um cavaquinho/ E um violão

Seu "moreno" ao que tudo indica, nem de longe poderia ser catalogado no exército regular de "trabalhadores do Brasil", ele que seria talvez porta-bandeira (ou melhor, mestre-sala) de escola de samba. No barraco em que moravam, faltava tudo - imagem da pobreza que contrasta com a do "Brasil Novo de Getúlio Vargas" vomitada cotidianamente pela propaganda governamental através das ondas de rádio.

O golpe militar de 1964 que derrubou o Presidente João Goulart do poder, fez com que, vários segmentos artísticos se tornassem fortes personagens de luta contra a Ditadura. Por exemplo, o Samba mais uma vez entrou em cena para "driblar" a censura que assolava os artistas e a população brasileira. Um ano após o golpe, o compositor Zé Keti da Portela lançou o samba "Acender as velas" para protestar contra a Ditadura e para relatar o abandono do (des)governo militar para com a população das favelas:


Acender as velas
Acender as velas/ Já é profissão/ Quando não tem samba/ Tem desilusão/ 
É mais um coração/ Que deixa de bater/ Um anjo vai pro céu/ Deus me perdoe, mas vou dizer/ Deus me perdoe, mas vou dizer/ O doutor chegou tarde demais/ Porque no morro não tem automóvel pra subir/ Não tem telefone pra chamar/ E não tem beleza pra se ver/ E a gente morre sem querer morrer/ E a gente morre sem querer morrer


As Escolas de Samba do Salgueiro, Império Serrano e Unidos de Vila Isabel também protestaram contra a Ditadura Militar. Quando o Ato Institucional nº 5 (AI-5), entrou em vigor no governo do presidente militar Arthur Costa e Silva, em 1968, para tolir a liberdade da população brasileira, o Samba por ser uma expressão musical visceral, aquilo que se encontra no íntimo do povo brasileiro, fez o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) monitorar todos os sambas de enredo. A Escola Império Serrano foi obrigada pelo governo militar a modificar um verso do samba "Heróis da Liberdade" que fazia analogia à luta pela liberdade na Ditadura no ano de 1969 e por possuir uma frase considerada subversiva, reescreveram assim: "É a evolução em sua legítima razão"


"Ao longe soldados e tambores/ Alunos e professores/ Acompanhados de clarim/ Cantavam assim/ Já raiou a liberdade/ A liberdade já raiou/ Essa brisa que a juventude afaga/ Essa chama/ Que ódio não apaga pelo universo/ É a revolução em sua legítima razão" .

Os anos de chumbo (1968-1974) viu surgir na composição de Sérgio Sampaio, "Eu quero botar meu bloco na rua" de 1973, um dos grandes hinos contra a censura e a perseguição do governo Médici, marcado pelo falso "milagre econômico" e pelo chamado "desbunde" da classe média. O cantor e compositor relatou a Zeca Baleiro, em 1989 que, "A grande importância dessa canção é ter sido feita e lançada numa época em que as pessoas estavam muito amordaçadas e bastante medrosas de abrirem a boca para falar qualquer coisa". O verso "(há quem diga) que eu morri de medo quando pau quebrou"  sintetiza de forma clara o sentimento da população brasileira. 

Eu quero botar meu bloco na rua
Há quem diga que eu dormi de touca/ Que eu perdi a boca, que eu fugi da briga/ Que eu caí do galho e que não vi saída/ Que eu morri de medo quando o pau quebrou/ Há quem diga que eu não sei de nada/ Que eu não sou de nada e não peço desculpas/  Que eu não tenho culpa, mas que eu dei bobeira/ E que Durango Kid quase me pegou/ Eu quero é botar meu bloco na rua/ Brincar, botar pra gemer/ Eu quero é botar meu bloco na rua/ Gingar, pra dar e vender/ Eu, por mim, queria isso e aquilo/ Um quilo mais daquilo, um grilo menos disso/ É disso que eu preciso ou não é nada disso/ Eu quero é todo mundo nesse carnaval/ Eu quero é botar meu bloco na rua/ Brincar, botar pra gemer/ Eu quero é botar meu bloco na rua/ Gingar, pra dar e vender

O governo de João Batista Figueiredo, último presidente militar, foi marcado por uma enorme crise econômica, por atentados terroristas realizados pelos militares contra as manifestações públicas descontentes com 21 anos de Ditadura e por um processo lento e gradual de abertura política. A Escola de Samba União da Ilha do Governador em 1978, aproveitou o momento para lançar o Samba Enredo "O Amanhã" e "driblar" a censura com um sentimento de esperança e um futuro melhor. 


O Amanhã
A cigana leu o meu destino/ Eu sonhei/ Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante/ Eu sempre perguntei/ O que será o amanhã?/ Como vai ser o meu destino?/ Já desfolhei o mal-me-quer/ Primeiro amor de um menino/ E vai chegando o amanhecer/ Leio a mensagem zodiacal/ E o realejo diz/ Que eu serei feliz/ Como será o amanhã/ Responda quem puder (bis)/ O que irá me acontecer/ O meu destino será como Deus quiser

A Lei de Anistia perdoava todos os acusados de praticar tortura, devolvia os direitos políticos dos exilados e aboliu o sistema político bipartidário (ARENA - transformou-se no PDS; MDB - se tornou o PMDB). A criação de diversos partidos políticos fez o ano de 1982 ficar marcado pelas mudanças políticas, já que, ocorreram eleições diretas para os governos estaduais e demais cargos legislativos. Mediante esse novo quadro político membros da oposição da Câmara dos Deputados tentaram articular um projeto de lei que instituísse o "voto direto" na escolha de um sucessor do presidente João Batista Figueiredo, que anos depois ficou conhecida como a "Emenda Dante de Oliveira". Driblando a censura, nesse mesmo ano, os compositores Didi e Mestrinho criaram o samba "É Hoje". Este samba é um dos mais tocado no carnaval até os dias atuais. E foi estrelado pela Escola de Samba União da Ilha do Governador no carnaval de 1982 exaltando a alegria da possível chegada das "Diretas Já".

É Hoje
A minha alegria atravessou o mar/ E ancorou na passarela/ Fez um desembarque fascinante/ No maior show da Terra/ Será que eu serei o dono desta festa um rei/ No meio de uma gente tão modesta/ Eu vim descendo a serra/ Cheio de euforia para desfilar/ O mundo inteiro espera/ Hoje é dia do riso chorar/ Levei o meu samba/ Pra mãe-de-santo rezar/ Contra o mau olhado/ Carrego o meu Patuá/ Acredito ser o mais valente/ Nesta luta do rochedo com o mar(E com o mar)/ É hoje o dia da alegria e a tristeza/ Nem pode pensar em chegar/ Diga espelho meu/ Se há na avenida/ Alguém mais feliz que eu

Fazer a analogia de um samba ao período abordado como o Estado Novo e a Ditadura Militar, exclusivamente através de sua letra, resulta no rebaixamento da canção, a um simples documento escrito, amesquinhando seu campo de significações. Logo, é preciso ouvir infinitas vezes sua sonoridade para alcançar a  verdadeira interpretação exposta pelo compositor.

A arte musical criada pelos negros com muita genialidade e resistência enfrentou diversos conflitos com instituições fonográficas, políticas e militares para que hoje pudesse expressar suas tradições. A miscigenação de diferentes instrumentos e ritmos fez surgir uma melodia repleta de sangue, muita porrada e suor que, no ano de 2016, tornou-se centenária. Esta musicalidade, ou melhor, esta arte fonográfica, é o Samba, que de cadência em cadência foi sambando(driblando) a Ditadura.

























  • Os personagens da imagem acima retratam Getúlio e o Estado Novo, o Militar e a Ditadura de 1964-1985 e o jogador de futebol representa o malandro do "Samba" driblando os dois regimes ditatoriais para chegar ao centenário e disseminar suas manifestações musicais até hoje. 
  • As luvas com a marca norte-americana expõe a entrada do capital estrangeiro no governo Vargas(1930-1945) e na Ditadura Militar(1964-1985).
  • Os Arqueiros de futebol quando falham, interferem nos resultados de seus times com as derrotas. O goleiro Getúlio representa as falhas políticas, sociais e econômicas do Brasil estado-novista; e o guardião Militar é responsável por 21 anos de repressão política, pelo falso milagre econômico, pelas crises econômicas e suas mazelas que assolam a população brasileira até os dias atuais.



Fontes:

A partitura de “O amor regenera o malandro” contou com edição de A Melodia, Rio de Janeiro, s/d. Mesmo a um autor preocupado com a audição da canção e a apreciação de seus elementos musicais, isso passou despercebido a ponto de ele agrupar a gravação desse samba entre os que engrossavam a corrente estado-novista. V. FURTADO FILHO, João Ernani. Um Brasil brasileiro: música, política, brasilidade, 1930-1945. Tese (Doutorado) – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, Universidade de São Paulo –, São Paulo, 2004, p. 239. 20 Cf. 

NETO, Lira. Uma História do Samba: as origens.

V. PARANHOS, Adalberto. O Brasil dá samba?: os sambistas e a invenção do samba como “coisa nossa”. In: TORRES, Rodrigo (ed.). Música popular en América Latina. Santiago de Chile: Fondart, 1999.

 Cf. VASCONCELLOS, Gilberto e SUZUKI JR., Matinas. A malandragem e a formação da música popular brasileira. In: FAUSTO, Boris (dir.). História geral da civilização brasileira - III - O Brasil republicano (Economia e cultura – 1930/1964). São Paulo: Difel, 1984, p. 520. 

“Recenseamento” (Assis Valente), Carmen Miranda. 78 rpm, Odeon, g.: 27 set. 1940, l.: dez. 1940, r.: caixa de discos Carmen Miranda, Emi, CD n. 5, 1996. 22 Ou “nós vivemos na fartura”, como canta Ademilde Fonseca, para acentuar o efeito de ironia contido em “Recenseamento”, no LP À la Miranda, Odeon, 1958, r.: fascículo/LP Assis Valente. História da Música Popular Brasileira, São Paulo, Abril Cultural, 1982.

Revista Umdegrau, 1989. (autor: Zeca Baleiro)

Ginzburg é um severo crítico do excessivo apego dos historiadores às fontes escritas como documento, com todas as suas implicações metodológicas. V. GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes: o cotidiano e as ideias de um moleiro perseguido pela Inquisição. São Paulo: Companhia das Letras, 1987, p. 17 e 18.