sábado, 16 de julho de 2016

A batuta do Maestro Temer e seus arranjos musicais(ministeriais)!!!

A primeira coisa que os gestos do regente devem indicar é a pulsação do ritmo. O tempo musical não transcorre imutável e constante (pelo menos até Einstein surgir) como o cronológico. Ele pulsa e varia como nosso coração.
Assim, bater os compassos é um gesto pulsante. Por mais lento que um trecho possa ser, os braços do maestro nunca traçam um desenho frio no espaço, mas pulsam com vida de um tempo a outro. "o que está por trás dos gestos do Regente? Angelino Bozzini, Publicado na Revista Weril n.º 120"

Embora até uma criança possa imitar a aparência dos gestos do regente, conseguir um gesto que seja ao mesmo tempo vivo e preciso não é uma tarefa fácil. Seu domínio exige um trabalho consciente e dedicado, similar ao do bailarino para andar com leveza e graciosidade.

Através do contato com alguns personagens de comunidades quilombolas, foi possível notar a insatisfação dos mesmos para com as reformas ministeriais de Michel Temer, que além de excluir mulheres, negros e negras, afundar a Cultura e deixar a Ciência e a Tecnologia serem devoradas pelas Comunicações, criou ainda, a insana Medida Provisória 276/2016, que atribuiu as demarcações de terras quilombolas ao "novo" MEC(Ministério da Educação e Cultura) retirando do Incra(Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) essa função, o que fez os quilombolas se tornarem um dos grupos mais atingidos e marginalizados nesse curto período de governo, com apenas uma canetada. Entende-se que o presidente Michel Temer parece uma criança imitando um Regente de uma orquestra,  tentando governar o Brasil, que sem se dedicar, estudar ou trabalhar, o mesmo, tenta se esforçar para atingir a leveza e a graciosidade dos movimentos de um maestro com a sua caneta(batuta)!

Está certo que este assunto, desde 2003, com os governos Lula e Dilma, de reconhecer e demarcar as terras quilombolas sempre entrou em rota de colisão com a burocracia política. Porém, agora o que se tem, é a certeza do impedimento operacional desta política, sob discurso de "enxugamento da Máquina Pública", com a extinção de uns  e a fusão de outros ministérios!

Logo, para corroborar essa a afirmação, cito o professor de Direito Ambiental da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) e membro da Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais no Estado da Bahia (AATR), Pedro Teixeira Diamantino, em que, após cem anos da abolição da escravatura, os quilombos emergiram e voltaram a cena normativa e política do País com a Constituição promulgada de 1988.
Logo, o artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias diz que: "Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras, é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes títulos respectivos”.
Com isso, se antes de 1888(abolição da escravatura) a noção de quilombo referia-se à conduta desviante da ordem jurídica escravista oficial, definida pelo rei de Portugal em consulta realizada pelo Conselho Ultramarino, em 1740. A partir da Lei Áurea a palavra(quilombo) parecia não fazer sentido para os donos do poder e os quilombos desapareceram do sistema normativo brasileiro.

Assim, cito novamente o professor Pedro Teixeira Diamantino, que segundo as mobilizações da redemocratização serviram para furar o cerco do projeto de Constituição de “notáveis” e reintroduziram a categoria quilombo na cena jurídica atual, liberando-a da condição de referência para atuação dos aparatos repressivos do escravismo para instituir novos direitos e sujeitos.

Com isso, o termo quilombo foi, desvinculado daquele passado estático, da historiografia positivista, daquelas visões folclóricas, sem ligação com o presente, para adquirir um genuíno direito fundamental de reparação pela opressão histórica vivenciada por estes grupos, ontem e hoje. Desta maneira, os quilombos deslocaram-se do lugar de sociopolítico e jurídico para ocupar lugar de destaque na questão agrária e racial brasileira nos últimos anos.

Logo, voltando às reformas ministeriais do Regente Temer, o que saltou aos olhos foi a extinção do Ministério do Desenvolvimento Agrário e sua fusão com a pasta de Desenvolvimento Social, sinalizando assim, o sucateamento do "Incra". Outro gesto harmônico do Maestro Temer, foi esse governo defender que as terras a serem tituladas pelo Poder Público sejam apenas, aquelas possuídas na data de promulgação da Constituição atual(5 de outubro de 1988), desconsiderando-se a espoliação física ao longo dos anos de escravidão. Ou seja, é como apagar a existência, os sacrifícios, o sangue derramado de cada negro que labutou nas lavouras e nas cidades brasileiras na época da escravidão.
Dito isto, o que podemos esperar da política quilombola sob a batuta do Maestro Michel Temer? Assim, este arranjo político(impeachment) que diz ser a ponte para um futuro melhor para o Brasil, está mais para uma máquina do tempo de volta ao passado.

Está explícito que com uma "canetada", com um gesto de sua batuta,  o Regente Temer, desferiu um golpe contra milhares de comunidades negras quilombolas do Brasil, e ainda, conseguiu retornar ao superado patamar da política quilombola de FHC, que impunha ao "Ministério da Cultura" atribuições que lhe eram totalmente estranhas, tais como a realização de "reforma agrária". Ou seja, é a mesma coisa que atribuir ao Ministério do Esporte, pesquisas e soluções sobre os casos de microcefalia!!!

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