terça-feira, 5 de julho de 2016

FLIP = (F)esta (L)iterária (I)senta de (P)essoas NEGRAS

Tive o prazer de visitar a FLIP(Festa Literária Internacional de Paraty) visando aumentar o conhecimento historiográfico e literário e ainda, ter o contato com culturas expostas de forma pejorativa pela mídia nacional e internacional(assistam a peça teatral "Salamaleque") para assim disseminar seus verdadeiros valores culturais e aprender a identificar quais foram seus lêgados para com o Brasil!

Porém o que mais chamou atenção foi a ausência de escritores negros e nordestinos na Flip, em particular na tenda dos autores. Pois os únicos espaços reservados, utilizados e organizado de forma democrática para esses autores, artistas e indígenas expuserem suas obras e artesanatos para que os visitantes pudessem ter contato com esse tipo de arte na FLIP, foram as ruas com seu calçamento particular e inconfundível de Paraty. Com isso, um evento que se diz INTERNACIONAL, aos meus olhos pareceu exclusivista, efetivando-se apenas como um evento elitista e de brancos, porque a ausência de não brancos na FLIP serviu para dividir, a já tão dividida sociedade brasileira, ficando eles(elite branca e autores midiáticos) com sofismo(o pensamento de má-fé que procura induzir ao erro) e senso comum  utilizando os espaços culturais reservados e organizados pelos representantes credenciados da FLIP de um "lado(A)", e nós(negros, nordestinos, miscigenados, indígenas e despossuídos) com o domínio das estatísticas e apontamentos precisos sobre o que há de mais avançado na discussão sobre "representatividade" dividindo os calçamentos "pé de moleque" e utilizando as tribeiras(telhas moldadas nas pernas dos escravos/representava a posição social da família através das três camadas de telhas nas fachadas e nos sobrados das residências) como abrigos contra o sol e a chuva do outro "lado(B)" da FLIP com vendedores ambulantes, artistas de rua, escritores independentes, entre outros!

Ou seja, a FLIP 2016 estava organizada exatamente aos moldes da cidade colonial de Paraty; com divisão social(brancos, índios e negros); com presença das águas; com a invasão das marés na lua cheia; com as  ruas todas traçadas do nascente para o poente e do norte para o sul; com as construções das moradias regulamentadas por lei, podendo pagar com multa ou prisão, aquele que desobedecesse as determinações; com as marcas da maçonaria nas fachadas e nos sobrados através de desenhos geométricos em relevo; com a cultura do café e da cana de açúcar; com o Porto e as estórias dos seus piratas e com suas igrejas divididas por cor, renda e gênero (igreja 1-Nossa Senhora de Santa Rita-1722 para pardos e libertos ; igreja 2-Nossa Senhora do Rosário e São Benedito-1725, para os escravos; igreja 3-Nossa Senhora das Dores-1800, para as mulheres; igreja Nossa Senhora dos Remédios(matriz) iniciaram as obras em 1646, 1712, 1787 ficando pronta em 1873 e aberta ao público de Paraty.)

A programação da festa literária internacional de Paraty é imposta ao consumidor sem consulta prévia, sem canal de mão dupla. Ou seja, como a mídia e outras instituições sempre fizeram nesse país, nos empurram seus gostos e suas ideias goela abaixo! Logo, a FLIP expõe o gosto mais refinado da curadoria e não o do povo(negros, índios, mestiços, nordestinos e outras minorias)! Assim a FLIP 2016, como as FLIPs anteriores, deixou de fora mais uma vez os autores e gêneros populares. Espero visitar e presenciar em 2017, uma FLIP com mais "representatividade", um verdadeiro "espetáculo das raças", sem "lados(A-B)"!!!

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