sábado, 16 de julho de 2016

#calamidade #RJ #zerovinteum

Omitir + escamotear + benesses = Calamidade Pública

Os historiadores dos Annales(1) responsáveis por novos posicionamentos no campo histórico, opuseram-se à "história política", considerada como événementielle(evento). As transformações históricas seriam explicadas por fatores econômicos e sociais, considerados de maior duração. Os fenômenos coletivos tinham maior preponderância na compreensão do que as ações individuais, as análises sobre a estrutura econômica – o trabalho e a produção – preponderavam sobre as articulações políticas. Como destaca Ferreira(2): “Ao privilegiar o nacional, o particular, o episódico, a história política privava-se da possibilidade de comparação no espaço e no tempo e mostrava-se incapaz de elaborar hipóteses explicativas ou produzir generalizações e sínteses”. Associado à temporalidade conjuntural e ao factual, o campo político estava condenado a ser história oficial, incapaz de problematizar a sociedade. Esse ponto de vista perdurou e radicalizou-se na segunda geração, que teve como principal autor Fernand Braudel. Na década de 1970, contudo, como mostrou René Remond, houve um “renascimento” da história política como objeto principal de análise(3) Por causa do dialogo com a "ciência política", diferentes formas e conceitos de pensar o político foram inseridos no campo historiográfico. Nessa nova perspectiva, o “campo do político não tem fronteiras fixas, e as tentativas de fechá-lo dentro de limites traçados para todo o sempre são inúteis”.(4) Os estudos decorrentes dessa nova perspectiva são variados: estenda-se o papel das elites, do imaginário político, dos mitos e mitologias, da cultura política, das agremiações partidárias e das políticas públicas. Nesta revalorização, a política passa a ser entendida como “o espaço ultimo da decisão, como o nível onde todas as disputas sociais se decidem”.(5)

Seguindo os passos da primeira geração dos Annales(1929-1945), é possível entender porque a expressão "política não se discuti" foi tão presente em nosso dia dia. Logo, acredita-se que baseando-se nessa expressão os políticos se especializaram em omitir seus feitos corruptos, e que ainda contaram com a ajuda das mídias parciais para escamotear suas ações, em troca de benesses(favor ou ganho recebido sem esforço). O exemplo claro desse tipo de parceria foi o que a Emissora Rede Globo fez no período da Ditadura Militar, omitindo informações e ludibriando a população com programas dominicais, novelas, jogos de futebol televisionados, criação de heróis nacionais(Pelé, Roberto Carlos, Xuxa, Regina Duarte entre outros) e etc. Ou seja, a verdadeira "política do pão e circo".

A partir da terceira geração dos Annales, houve uma releitura da "história política"! Assim, compreende-se que a partir de 1970, era permitido trazer o assunto "política" a superfície da sociedade para ser debatido. Porém, o que se observa atualmente sobre o tema política(arte ou ciência de governar) é um embaraço de informações infundadas. Isto tornou a política discutível, o que é ótimo.

Mas, percebe-se que as mídias não evoluíram, não se preocuparam em noticiar a verdade e expor a população que é possível debater "política", e continuam seguindo os passos da primeira geração dos Annales. Ou seja, parecem tratar esse tema como eventos esportivos que ocorrem de 4 em 4 anos, exemplo: Copa do mundo! Logo, o jornalismo brasileiro segue escamoteando notícias de governo X ou Y em troca de "benesses", ou por interesses próprios, pois noticiam apenas informações culpando um determinado partido político por todos os erros sociais e econômicos na História do Brasil, para assim, manipular a massa de manobra(número de pessoas que são conduzidas para servir o interesse de alguém ou de um grupo).

Entretanto, de tantos veículos de comunicação existentes, por que nenhum investigou a real situação política do governo do Estado do Rio de Janeiro e assim expuseram ao público? Será que omissão garantiu algumas "benesses"? Por que a mídia não noticiou que foi a longa e má administração dos ex-governadores e seus secretários que faliram o Rio, e não apenas a realização das Olimpíadas? Por que a mídia fez questão de noticiar à calamidade pública de forma sensacionalista, ou seja, faltando apenas um pouco mais de um mês para o início dos jogos Olímpicos? Será que a intenção da mídia é fazer com que os (neo)cientistas políticos que analisam apenas figuras, que utilizam as redes sociais como fontes, que se limitam assistir ao jornal Nacional, que distorcem e disseminam informações sem pesquisar e ler absolutamente nada e acusam políticos, devido as suas ideologias partidárias, não enxergam os verdadeiros erros, os problemas, as causas do estado de calamidade pública no Estado do Rio de Janeiro?

Com isso, políticos como José Sarney citado 54 vezes, Aécio 40 vezes, Michel Temer 24 vezes na "operação Lava Jato" se perpetuam no poder com a ajuda dessa mídia sensacionalista, assim como aconteceu com Sérgio Cabral e Pezão, pois se esse ex-governador fosse do PT, as mídias sensacionalistas já teriam investigado ou inventado alguma fraude, ou contado com auxílio de algum promotor ou juiz, como o juiz Sérgio Moro fez em relação ao Lula e a Dilma, ou com a força dos (neo)cientistas políticos das redes sociais que, vestiram suas camisas da CBF(instituição corrupta e exclusivista)  para irem às "ruas" manifestar e noticiar desde o início as mazelas sobre as contas públicas do Estado do Rio de Janeiro, para assim evitar que a população carioca fosse vítima da expressão do momento, "Calamidade Pública"!



Fonte: 

1 - Em torno da revista Annales d`histoire économique et sociale criada em 1929, formou-se um grupo de historiadores que reformularam o campo. A primeira geração (1920-1945) teve como expoentes, Marc Bloch e Lucien Febvre. A segunda geração (1945-1968), além de Fernand Braudel, teve Pierre Chaunnu entre seus principais autores. A terceira foi responsável pela releitura da história política. Esta geração contou com vários importantes autores. Destaco Jacques Le Goff, Georges Duby, Pierre Nora, René Remond, Raoul Girardet, Serge Berstein e Roger Chartier. Mais informações sobre este tema, ver: Burke, 1992.

2- FERREIRA, M. de M. (1992), “A nova ‘Velha História’ o retorno da história política”.Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v.5, n.10, pp. 265-71.

3, 4 - RÉMOND, R. (Org.) (1996), Por uma história política. Rio de Janeiro: UFRJ/FGV.

5 - BORGES, V. P. (1991/1992), “História e Política: laços permanentes”. In: Revista Brasileira de História: Política e Cultura, v. 12, n. 23-24. (set.1991 / ago.1992). São Paulo: ANPUH/Marco Zero/SCT/CNpq/Finep, pp.7-18.

Nenhum comentário:

Postar um comentário