No final do século XIX, o Brasil, segundo os naturalistas europeus, era um país de espécimes raros(fauna e flora) e quando se depararam com a mistura das raças, diziam que esta terra possuía um "festival de cores"! Logo, para corroborar essa visão, Georges Raeders, escritor francês, relatou a insatisfação do conde Arthur Gobineau, durante 15 dias de estada no RJ, da seguinte forma: "Trata-se de uma população totalmente mulata, viciada no sangue e no espírito, é assustadoramente feia"! Com isso, assim como os cientistas estrangeiros, os intelectuais nacionais, do século XX, também compactuavam com essa visão pejorativa sobre a população brasileira, como João Batista Lacerda, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro, convidado para participar do I Congresso Internacional das Raças, realizado em julho de 1911. Aquele defendia que, através do cruzamento acelerado das raças, o Brasil em um século, deixaria de ser um país "exótico" para se tornar um país aos moldes europeus, ou seja, seria um país de "brancos" como no quadro de Modesto Brocco(analisar imagem 1 no fim do texto).
A busca incessante de escrever uma História para o Brasil, fez surgir institutos históricos e geográficos por vários estados brasileiros, como museus também, porém todos trataram a questão racial de forma incoerente, a medida que realizavam pesquisas e construíam discursos e símbolos visando buscar dentro de cada cidadão o amor por essa nova pátria, os negros e os indígenas eram excluídos dos projetos supracitados. Sobre os negros recaía a pesada carga da impossibilidade de adaptação, justificando assim a escravidão, e em relação aos povos originários imperava uma visão romântica, com o objetivo de apagar o genocídio sobre a população indígena, e expor a proteção da igreja católica sobre os donos da terra, assim procuraram transformá-los em seres catequizados e adaptáveis(analisar a imagem 2 no fim do texto - Padre José de Anchieta catequizando os índios. imagem 3 de Iracema no fim do texto). Com isso, a ideia de uma hierarquia entre as raças permaneceu até os dias atuais da seguinte forma: brancos, indígenas e negros.
Durante o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930-1945), intensificaram-se as políticas de eugenia, defendendo que a mistura racial levaria à degeneração nacional. As políticas de imigração de estrangeiros, eram bem restritivas, não aceitavam asiáticos, africanos e judeus. Sobretudo judeus, Vargas acreditava, até por influência nazista, que os judeus não eram "adequados" para a "miscigenação", eram considerados indesejáveis para preencher as lacunas do território nacional, pois era necessário eliminar os "quistos étnicos" deixados por negros e indígenas(assistir o documentário "Menino 23"). Essa postura adotada pelo governo de Getúlio se deu em um período que a Europa, através da Alemanha, mostrava ao mundo como cuidar das suas políticas raciais através do arianismo, e os EUA, através da segregação racial exemplificava noções de superioridade racial dos brancos sobre os negros, e se o Brasil não cuidasse da raça, como dizia a medicina baiana e carioca, o futuro desta nação mestiça seria estigmatizado pelo pessimismo, epidemias e incertezas!!!
A política de branqueamento no Brasil, foi infelizmente justificada e muito bem acolhida entre os nossos intelectuais - políticos, juristas, literatos, naturalistas e médicos - do século XIX e da primeira metade do século XX, através das escolas darwinistas e por toda sociedade brasileira! Logo, literatos, escritores, diretores de rádios, cinemas, TVs, criaram livros, filmes, peças teatrais, radionovelas, telenovelas para reproduzir através de personagens e suas "qualidades" - "Jeca Tatu/mestiço, ignorante e pobre", "Macunaíma/preguiçoso", ou através da marchinha de carnaval de 1950, "Nega Maluca"
Há tanta gente no mundo,
Mas meu azar é profundo,
Veja você meu irmão,
A bomba, estourou na minha mão...
...Tudo acontece comigo,
Eu que nem sou do amor...
Até parece castigo,
Ou então influencia da cor!...
- que a mistura das raças, assim como as expressões: É dia de branco!; Serviço de preto!; Ela tem um pé na cozinha!; Inveja branca!; Da cor do Pecado!; A coisa está preta!; Mercado Negro!; entre outras, internalizaram o preconceito e inconcebivelmente fazem parte do cotidiano da população, servindo assim, para ratificar, camuflar, ressignificar e brutalmente institucionalizar o racismo no Brasil!!
FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil
SCHWARCZ, Lilian Moritz. Espetáculo das raças
FAUSTO, Boris. Getúlio Vargas: o poder e sorriso
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