segunda-feira, 8 de abril de 2019

Brasil, no alvo da Guerra Híbrida!

Habitualmente são mencionadas novas expressões no cotidiano dos alunos para serem trabalhadas em sala de aula de forma paradidática. A bola da vez foi a "Guerra Híbrida". Por conseguinte, a mesma provocou os mais variados questionamentos.

Logo, o professor visando vulgarizar o tema supracitado para facilitar o entendimento de todos alunos, aproveitou a expressão "Bola da Vez" e citou o episódio em que o jogador de futebol Ronaldo, na Copa do Mundo de 2002 Japão - Coreia do Sul, desviou a atenção da mídia na época com o corte de cabelo apelidado de Cascão, para assim não noticiar uma possível lesão no músculo da perna direita.

Ou seja, a "Guerra Híbrida" de forma mais técnica consiste em uma estratégia militar que mistura táticas de guerras, políticas irregulares com outros métodos de influência para desviar a atenção do assunto principal, assuntos esses, geralmente impopulares e polêmicos para que a população local fique atenta aos temas irrelevantes, como as famosas fake news utilizadas nas eleições presidenciais de 2018. Com isso, empresários, políticos ou militares chegam ao poder e implementam seus objetivos políticos, econômicos e sociais sem despertar a atenção da população.

Um aluno perguntou: professor, o senhor poderia dar um exemplo de "Guerra Híbrida" recentemente utilizado no Brasil? Porque eu não lembro do corte de cabelo feito pelo jogador Ronaldo Fenômeno.
O professor citou o curto período de 42 dias de governo, em que o atual  presidente contou com a ajuda das mídias televisivas e digitais que utilizou de forma massificada a notícia do filho sobre um suposto envolvimento de falsificação de documentos para fins eleitorais que, segundo as investigações indicavam lavagem de dinheiro (o Caso Queiroz). Com isso, a atenção da população brasileira foi desviada e o Ministério da Agricultura autorizou o comércio e a produção de 57 produtos elaborados com agrotóxicos - entre eles o Imazetapir e o Hexazinona, que estão proibidos na União Europeia desde 2004 - no Brasil.

O professor aproveitou o silêncio da turma e relatou: "Mas o país que mais utiliza essa tática de guerra política chamada de "Guerra Híbrida" são os EUA, que visa assegurar a perpetuação da sua hegemonia econômica, política e militar no mundo". 

Uma aluna questionou: Quando surgiu essa Guerra, professor?

O professor respondeu: - Essa Guerra surgiu em 2010, e disse que, a partir do Manual para Guerras Não-Convencionais das Forças Especiais do Exército dos EUA, o objetivo dos esforços dos norte americanos nesse tipo de guerra é explorar as vulnerabilidades políticas, militares, econômicas e psicológicas de potências hostis, desenvolvendo e apoiando forças de resistência para atingir os objetivos estratégicos dos Estados Unidos. […].
O professor acrescentou:  Num futuro previsível, as forças dos EUA se engajarão predominantemente em operações de guerras irregulares (IW, na sigla em inglês)". 
Um aluno disse: Não entendi professor?
O professor citou: - Basta lembrar da Primavera Árabe de 2011, onde todos os presidentes sofreram Golpes de Estado, e o empenho dos EUA na guerra da Síria atualmente, que deseja derrubar o presidente Bashar al-Assad. 

Um aluno relatou: Continuo sem entender, professor? 

O professor disse: vou trazer para a nossa realidade, por exemplo, o Brasil possui petróleo. Sim ou Não?
A turma respondeu: Sim!
O professor acrescentou: - Logo, é possível entender que o impeachment foi porque o petróleo brasileiro é uma obsessão e uma necessidade dos EUA (e o pré-sal contém recursos que podem alcançar R$ 30 trilhões), concordam. Sim ou Não?
A turma respondeu: Sim!

O professor disse: Mas seguindo a estratégia dessa "Guerra Híbrida" estadunidense, o principal objetivo também pode ser por "água", por estatais rentáveis e estratégicas, pela riqueza da Amazônia, pela aproximação política e econômica entre Brasil, Rússia e China, pela fundação do Banco de Desenvolvimento do BRICS, entre outras questões geopolíticas. Um dos elementos decisivos do envolvimento dos EUA no impeachment foi a política definida nos BRICS, de substituição gradativa do dólar como moeda de referência nas transações internacionais. A hegemonia mundial dos EUA, que se encontra estremecida, está diretamente relacionada, em boa parte, ao fato de poder emitir dólar à vontade e esta ser a moeda utilizada no grosso do comércio internacional.

Um aluno respondeu: - Agora eu entendi, essa parada de Guerra Híbrida, professor!

Outra explicação do professor: O crucial envolvimento dos EUA no impeachment, como apontou o historiador Moniz Bandeira, informação presente também no livro Guerras Híbridas das Revoluções Coloridas aos Golpes é o anseio de impedir o surgimento de outra potência nas Américas. Uma potência na América do Sul e ligada de forma econômica e militar à China e à Rússia é tudo o que os Estados Unidos não querem. Por isso, dentre as dezenas de ações destrutivas desenvolvidas pelos golpistas, uma das primeiras foi prender o Almirante Othon da Silva, coordenador do projeto nuclear do Brasil, e alvejar o projeto de construção do submarino a propulsão nuclear, fundamental para a guarda e segurança da chamada Amazônia Azul.

O aluno disse: caraca professor, os EUA estão envolvidos em várias paradas!
O professor respondeu: - Sim, em 2013 o jornalista norte-americano Glenn Greenwald já havia denunciado que o Brasil era o grande alvo das ações de espionagem dos Estados Unidos. Segundo o jornalista, o governo estadunidense espionou inclusive mensagens de e-mails da presidente Dilma Rousseff e de seus assessores mais próximos, além de espionar a Petrobrás. O objetivo da Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA, na sigla em inglês), segundo Greenwald, era buscar detalhes da comunicação da presidenta com sua equipe. O que estava em jogo no impeachment era muito mais que petróleo. Os Estados Unidos não têm interesse em um desenvolvimento autônomo e soberano do Brasil, pelo potencial que tem o país de rivalizar com os interesses estratégicos dos EUA na Região. Processos como Unasul e CELAC confrontavam os EUA no hemisfério, e novas instituições, como o Banco do BRICS e o Acordo Contingente de Reservas do BRICS ajudavam a construir alternativas contra a hegemonia do Banco Mundial e do FMI, instituições sobre as quais os EUA têm um controle quase absoluto.

O professor continuou: - A ONU prevê que, no ritmo atual, as reservas hídricas do globo reduzirão 40% até 2030, o que poderá provocar uma “guerra pela água” no mundo. Os EUA e a Europa enfrentam grave problema de falta de água, a maioria dos rios dos EUA e do Velho Continente estão contaminados. É neste contexto que deve ser entendido o impeachment no Brasil. Tudo indica que um dos interesses do golpe é se apropriar do Aquífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce do mundo. O Aquífero que está localizado na parte sul da América do Sul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) coloca a Região como detentora de 47% das reservas superficiais e subterrâneas de água do mundo. 
Uma aluna explanou: caraca professor, eu não tinha ideia que a gente tinha tanta água!
O professor disse: - Os EUA sabem que não há nação que consiga manter-se dominante sem água potável em abundância, por isso seu interesse em intensificar o domínio político e militar na região, além do acesso à água existente em abundância no Canadá, garantida por acordos como o do NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte, entre EUA, Canadá e México) é essencial.

O professor citou novamente o jornalista norte-americano Glenn Greenwald: segundo Glenn, a partir de 2013, quando as táticas da "Guerra Híbrida" foram intensificadas e suas articulações promoveram o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Brasil em 2016, a estrutura política e econômica brasileira ficou mais complexa e para nós - o povo - muito perigosa. 

Um aluno manifestou-se: poxa professor, que parada sinistra!
O professor acrescentou: - O que eu posso falar para vocês é que, se querem, em algum momento, recuperar a democracia e seus direitos civis, assim como a condição de um Brasil soberano, é extremamente necessário que todos entendam detalhadamente o quadro político, econômico e social em que o país está inserido no mundo, e assim executar ações corajosas e ter muita paciência histórica.







Fonte: 

KORYBKO, Andrew. Guerras Híbridas das Revoluções Coloridas aos Golpes.

FAUSTO, Boris. Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje.

AARÃO REIS FILHO, Daniel. O século XX: o Tempo das dúvidas

DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente

ARENT, Hannah. Origens do Totalitarismo: antissemitismo, imperialismo, totalitarismo.

G1

Filmografia:

SNOWDEN: Herói ou Traidor, 2016.
                

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