quarta-feira, 30 de outubro de 2019

O Brasil, é um país da América Latina???

O dia letivo de 23 de outubro do ano de 2019, numa escola particular da Zona Norte, localizado na capital do Estado do Rio de Janeiro, foi iniciado no estacionamento do shopping, através de um diálogo entre o professor de História e a aluna Gisele do 3º ano do Ensino Médio, com os seguintes questionamentos:
(Gisele) Bom dia professor! 
(Professor) - Bom dia, Gisele!
(Gisele) O senhor está acompanhando as notícias sobre as manifestações no Chile?
(Professor) - Estou, já ocorreram manifestações no Equador, e agora está acontecendo na Argentina!
(Gisele) Professor, por que está acontecendo essas manifestações na América Latina?
O diálogo foi interrompido com a chegada de outro professor, Miguel, de Matemática...

(Miguel) Bom dia, meu amigo!
(Professor) Bom dia, Miguel?
(Miguel) Irmão, você viu um manifestante fantasiado de Coringa no Chile, você assistiu o filme?
(Professor) - Sim!
(Miguel) O que você achou?
(Professor) - O filme retrata diversos problemas presentes na sociedade atual!
(Gisele) Professor, o senhor consegue traçar um paralelo entre o filme Coringa e as manifestações?
(Professor) - Antes de fazer essa comparação, primeiro eu preciso expor que esse tipo de comportamento não é uma novidade?
(Gisele) Como assim, Professor?
(Miguel) Por isso, que eu prefiro a Matemática!
(Professor) Miguel, quer assistir a aula de hoje sobre a Primavera dos Povos de 1848?
(Miguel) - Não vai rolar, tenho que aproveitar o tempo para corrigir as provas!
(Professor) Gisele, já que o Miguel prefere corrigir as provas de Matemática, você e a sua turma poderão entender como é possível fazer uma comparação entre o conteúdo de hoje, a Primavera dos Povos de 1848, o filme do Coringa e as manifestações populares que estão ocorrendo no Equador, Chile e Argentina.

A Primavera dos Povos foi uma série de conflitos ocorridos em alguns países da Europa. De cunho liberal, nacional e socialista, que teve início na França em 1848. O motivo desses conflitos foi por causa do Congresso de Viena, que assegurou ou preservou as Monarquias Absolutistas, que foram expropriadas na Era Napoleônica. Logo, todas as conquistas sociais adquiridas na Revolução Francesa de 1789, pautadas nos princípios iluministas (liberdade, igualdade e fraternidade) deixariam de existir devido ao Absolutismo. Ou seja, a exploração do 1º Estado(Clero) e do 2º Estado(Nobreza) exigindo o pagamento de altos impostos ao 3º Estado(Burguesia, Sans-culottes e Camponeses) retornaria, explorando assim a população francesa já massacrada pela voraz crise econômica.
Porém, a crise econômica suscitadas pelas más condições de vida em consequência das péssimas colheitas, o aumento dos preços dos alimentos e o fechamento de fábricas gerou um grande descontentamento nos trabalhadores e camponeses, e como a real situação de pobreza do povo sempre foi ignorada pela nobreza que participou do Congresso de Viena, o "Manifesto Comunista" escrito por Karl Marx e Fredrich Engels, serviu como um despertador para a população mais pobre que, iniciou à Revolução de 1848, e que se espalhou rapidamente para outras regiões da Europa.

(Gisele) Professor, e como eu posso, ou melhor, como a turma faria para comparar a Primavera dos Povos com as manifestações existentes no Equador, Chile e Argentina?
(Professor) - Para fazer a comparação, é necessário identificar os grupos sociais que exploravam os trabalhadores e os camponeses na Primavera dos Povos, para assim comparar com os exploradores que provocaram um grande descontentamento nos trabalhadores, nos estudantes, nos camponeses e nos indígenas nas manifestações do Equador, Chile e Argentina.

Em seguida um outro aluno do 3º ano do Ensino Médio, proferiu: professor, então foi por conta da exploração do governo chileno que o povo saiu quebrando a p@#$% toda?
(Professor) - Sim! Mas antes, é preciso entender, mesmo de forma superficial, os motivos que fizeram estudantes, trabalhadores e indígenas no Equador, quebrarem a p@#$% toda, parafraseando o nosso amigo, Fábio!
(A turma) kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk todos gargalharam!

(Gisele) Indígenas, como assim Professor?
(Professor) - Sim Gisele, diferente do Brasil, que possui pouquíssimos indígenas ligados á política, as Confederações Indígenas em países da extinta América Espanhola, como Equador e Peru, por possuírem um número expressivo de indígenas, isto promove a participação deles na política. Com isso, essas manifestações sociais representam não só os anseios dos trabalhadores pobres e estudantes, mas também de milhares de indígenas que há séculos sofrem com expropriação de suas terras e direitos!

(Fábio) Como assim, professor?
(Professor) No caso do Equador, o atual presidente Lenín Moreno, com sua política neoliberal, após realizar constantes empréstimos ao FMI e por não conseguir cumprir os prazos de pagamento, aumentou o valor da gasolina em 123%. Ou seja, esse aumento pode ser entendido da seguinte forma: o litro de gasolina que custava 5 reais, aumentou para 10 reais da noite para o dia. O aumento de combustível, em qualquer lugar do mundo, sabemos que encarece todos os produtos que são transportados por veículos que utilizam álcool, gasolina e diesel. Realizou uma Reforma Trabalhista que reduziu direitos e também reduziu os investimentos nos serviços públicos (Educação e Saúde). Logo, a maioria da população, por ser pobre, descendentes de indígenas e ser a camada mais afetada com os cortes nos investimentos em serviços básicos, iniciou a revolta contra o neoliberalismo do presidente Lenín Moreno, em Quito. 

(Fábio) Agora eu entendi, e os outros países Professor?
(Professor) As manifestações no Chile, diferente do Equador e da Argentina, sofre com os reflexos da política econômica do Governo Pinochet!
(André) Professor, esse Pinochet aí, é aquele da Ditadura Militar?
(Professor) Exatamente, André!
(Gisele) Caramba Professor, depois de tanto tempo, e só agora protestaram?
(Fábio) É Professor, muito tempo!
(Professor) Por isso, é de extrema importância vocês ficarem atentos a Reforma da Previdência!
(Roberto) Mas Professor, a Reforma é para garantir a nossa aposentadoria, os nossos direitos...
(Fábio) Roberto, se é para garantir os nossos direitos, por que a população mais pobre desses países estão se manifestando, tomando as ruas, ou você não assistiu as manifestações no Chile?
(Roberto) Sei lá!
(Gisele) Explica isso aí, Professor?

(Professor) No Chile, o problema não foi o aumento das passagens do metro, assim como os 20 centavos nas passagens de ônibus, no Brasil em 2013. No Chile, não há saúde pública, lá não existe o SUS (Sistema Único de Saúde) como aqui no Brasil, o Ensino nas Universidades Públicas não é mais gratuito, alterado no Governo Pinochet (1973-1990). Logo, a ausência do Estado chileno, empurrou a população para a Saúde e Educação privada, é preciso entender que, até as Universidades e os hospitais públicos cobram pelos seus serviços.
Ou seja, o Chile possui uma economia neoliberal que aumentou significativamente o custo de vida, somado a falta de direitos trabalhistas e a insatisfação dos estudantes com o Ensino privado, a população explodiu em manifestação contra o Governo em várias cidades chilenas.
(Maria Alice) Professor, como assim neoliberal?
(Professor) A política neoliberal, defende que o Estado, o Governo deve ser mínimo, por exemplo: o Governo não deve investir em Educação e Saúde pública, e quando faz, deve ser mínimo!
(Júlio) Então, não existiria Universidades e hospitais públicos, Professor?
(Professor) Exatamente, Júlio!
(Gisele) Continua a parada lá do Chile, Professor!
(Professor) A economia do Chile, na Ditadura Pinochet, em especial sobre a Reforma da Previdência, privatizou a Previdência, assim como o governo federal brasileiro deseja fazer, através das Associações do Fundo de Pensão. No Chile, os Bancos e as Empresas são as Associações do Fundo de Pensão, essas administram os pagamentos das aposentadorias dos trabalhadores desde o Governo Pinochet com a promessa que, os aposentados lucrariam muito mais se os benefícios fossem administrados pelo Governo. Porém, o que se tem, é o número de suicídios de idosos aumentando a cada ano, por não conseguirem sobreviver com o que ganham das suas aposentadorias.
(Gisele) Que parada sinistra, Professor! 

(André) Professor, e a Argentina?
(Professor) A Argentina, o governo do ex-presidente Macri, utilizou uma politica neoliberal de privatizações de setores estratégicos, redução de investimentos nos serviços públicos e constantes empréstimos ao FMI. Logo, isso promoveu um colapso na economia argentina.
(Maria Alice) Professor, explica melhor isso aí!
(Professor) Maria, falando de forma mais clara, a pobreza cresceu quase 26% em 2017, e chegou a 32% no final de 2018. Ou seja, um aumento de quase 3 milhões de pessoas vivendo na pobreza. Como foi citado pela moradora da comunidade Villa 31 de Buenos Aires, Magdalena Bazan, que mora há 36 anos no local:  "Dois anos atrás você veria um monte de gente comendo parrillita(tipo de churrasco no espeto) na rua a essa hora. Mas ninguém mais aqui tem dinheiro para comprar carne".
(Maria Alice) Então, essa coisa de Estado mínimo só é bom para quem tem grana, né Professor?
(Professor) - Maria, nos países mais desenvolvidos o Estado é muito presente, por exemplo: na Noruega a presença do Governo em políticas públicas é de 30%, na Dinamarca é de 29,1%, na Suécia é de 24,9%, nos EUA é de 10,6% e no Brasil é apenas 1,6%. Logo, não tem como políticas neoliberais funcionarem aqui.


(Gisele) Professor, e a comparação entre as manifestações e o filme Coringa?
(Professor) - Gisele, na verdade não sei se podemos comparar, mas podemos identificar a ausência de políticas públicas, a ausência do Estado para atender as necessidades básicas da população. Com isso, o Coringa, doente, cansado de ser maltratado por um sistema político exclusivista, vivendo numa sociedade individualista e sensacionalista, profundamente desigual, revida com extrema violência, visando atenuar suas frustrações emocionais e sociais. Por conseguinte, parece que foi a mesma forma que as manifestações populares dos países latinos encontraram para fazer os seus governos enxergá-los.
(André) Professor, o senhor acha que isso seria a solução?
(Professor) - As manifestações na América Latina serviram para mostrar aos outros países a força que o povo possui, já o comportamento do Coringa, por ser um ato isolado, acredito que não adianta derrotar apenas os líderes políticos do neoliberalismo, como o personagem fez quando assassinou o apresentador de TV que debochava dele para conseguir mais audiência, pois numa sociedade doente como a nossa e idêntica aquela do filme Coringa, novos líderes políticos com pensamentos neoliberais serão eleitos novamente.  O que precisa ser feito é identificar os verdadeiros inimigos e direcionar a luta contra eles!
(Maria Alice) E qual seria esse inimigo, Professor?
(Professor) - Maria, é preciso atacar o modo de produção industrial, os donos dos meios de produção, os latifundiários e a concentração de renda nas mãos dos Banqueiros, pois são eles que promovem a manutenção da desigualdade social. Quando analisamos a China hoje, e até a extinta URSS, os líderes dos partidos também exploram e exploravam os operários e os camponeses, promovendo assim a manutenção da desigualdade social desses países.
(Gisele) Então, a esquerda também não é a solução, Professor?
(Professor) - Gisele, eu pergunto a vocês, que representam o futuro do Brasil. O sistema neoliberal aos moldes chileno, fracassado na Argentina, e no Equador, imposto por esse governo eleito democraticamente, vai atenuar a desigualdade social dos brasileiros ou vai promover o surgimento de Coringas Tupiniquins?

A turma respondeu: Esse Governo %$#@, $%&#, Esses políticos @#$%&, P%$#@, &%#P* Governo de P%$#@, neoliberalismo é o @#$%&*#...






Fonte:

CHASTEEN, John Charles, América Latina: Uma História de Sangue e Fogo.

SCHWARCZ, Lilia Moritz, Sobre o Autoritarismo Brasileiro.

ABRANCHES, Sérgio; FAUSTO, Ruy; FAUSTO, Boris; REIS, Daniel Aarão, Democracia em Risco?

DELUMEAU, Jean, História do medo no Ocidente.

HOBSBAWM, Eric, A Era das Revoluções



Filmografia:

Coringa

Bacurau


Imagem: 

Cartunista das cavernas 

Instagram: 

@cartunista_das_cavernas 









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